LIVRO 2 -- CAPÍTULO 18

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Amigos leitores, eu ainda tenho mais a desenvolver da cena de Arthur e Morgana, que comecei no último capítulo, mas, como Lancelot e Guinevere estão fazendo sucesso, resolvi retomar a parte deles, que está perto do fim (lembrem-se, são três livros: livro 1 sobre Merlin e Viviane, livro 2 sobre Arthur e Morgana, e livro 3 sobre Lancelot e Guinevere, ou seja, em breve eles terão mais espaço! ;) ). Aos que estão com saudades de Arthur e Morgana: já, já eles voltam para valer!


Espero que gostem. Não esqueçam de recomendar o livro aos amigos, deixar seu voto e comentário!


Beijo bem grande, e vamos ao que interessa!


***



Graças ao bom tempo e às estradas bastante razoáveis, a viagem a Carmélide seguiu sem contratempos naquele dia. Lancelot tomara a decisão de não mais ficar a sós com Lady Guinevere e, à hora do almoço, ofereceu-se para cuidar dos cavalos, deixando a rainha sob a guarda dos escudeiros, com mil recomendações e a promessa — ou ameaça — de que seria bastante breve. Ofereceu aos rapazes a desculpa de que assim as pausas seriam mais curtas, e chegariam mais depressa, pois os jovens perdiam muito tempo conversando e se distraindo, deixando os cavalos se afastarem demais para pastar, ao passo que ele, sozinho, faria tudo mais rápido.

Aquilo aborreceu um pouco os jovens, não tanto pela acusação, que tinha seu fundo de verdade, mas pela perda daquele pouco lazer que lhes restava no grande tédio da viagem, em que se davam mesmo o direito de nadar um pouco enquanto os cavalos comiam e bebiam. Porém não externaram suas queixas.

Lancelot temia que sua atitude parecesse rude — a última coisa que queria era magoar Lady Guinevere, que já parecia tão magoada! —, mas sabia que estava agindo certo. O modo mais eficaz de não ceder a uma tentação é não se expor a ela. Quando se lembrava de que, não fosse a rainha deter-se no último momento, ele teria beijado a mulher do seu melhor amigo, e sabe-se lá mais quanto teria avançado, sentia uma vergonha que só encontrava alívio no consolo de nada haver acontecido. Não podia, portanto, correr o risco de que acontecesse!

Mas desejar esquecer uma pessoa já é pensar nela, e, assim, naquela tarde, as longas horas em que esteve sentado a conduzir a carroça, ele as passou sonhando acordado com o beijo que não acontecera, imaginando que gosto teriam os lábios dela (das cerejas que havia acabado de comer?) e, quanto mais avançavam as horas, mais além iam seus pensamentos. Neles, ele a despia devagar, provava seus seios com a língua, deitava-a na relva e a possuía. Repetidas vezes.

Como a rainha houvesse achado a carroça bastante confortável para dormir, lá passou mais uma noite, com o cavaleiro outra vez no chão, sob o carro. Ao acordar pela manhã, Lancelot não se lembrava de seus sonhos, mas foi fácil adivinhá-los, quando percebeu sua roupa de baixo pegajosa. Correu ao rio, com pressa para lavar-se, avisando aos escudeiros que daria de beber aos cavalos. Sentia-se mais sujo por dentro que por fora, porém a água não limparia seus pensamentos nem sua culpa.

Não poderia demorar-se, mas precisava de uns cinco minutos sozinho para se apaziguar. Ficou a boiar na água, nu, olhos fechados, respirando profundamente e devagar, e não enxergando nada além de um vermelhão, pois o sol batia em cheio no seu rosto.

"Dará tudo certo," dizia a si mesmo. "Ontem tive pleno sucesso em evitar ficar a sós com ela, hoje se passará o mesmo. Na presença dos escudeiros, nada acontecerá. Em breve, estaremos em Carmélide, onde ela ficará ocupada confraternizando com a família. A volta se passará como a ida, e logo Lady Guinevere estará segura com o marido em Camelot. Retorno às minhas terras e, não tarda nada, serei também um homem casado, sem tempo para amores impossíveis!"

Mais tranquilo, voltou ao acampamento e cumprimentou a rainha, que ainda dormia quando ele saiu, com toda a naturalidade que foi capaz de fingir. Lancelot tinha uma natureza extrovertida, não estava acostumado a conter-se tanto, pesar cada palavra. Essa autovigilância era-lhe exaustiva.

"Bom dia, Majestade!"

Guinevere comia calmamente junto aos escudeiros, e lhe sorriu com alegria.

"Bom dia, milorde! Saístes tão cedo, ainda deveis estar em jejum! Sentai-vos um pouco aqui, resta alguma carne da caça de ontem, quereis? O pão já não está fresco, mas está bem comível!"

Ele sentou-se, aceitando o convite e depositando junto à comida os cantis que acabara de encher.

"Sonhei convosco!" ela disse com simplicidade.

Ele engasgou-se com o pão, e ela, preocupada, encheu uma caneca com água e lhe estendeu.

"Obrigado," ele murmurou após dois grandes goles, sentindo o pão encharcar-se e escorregar por sua garganta. "Não foi nada, eu só... bom, já passou."

Guinevere sorriu e continuou, como se não tivesse ocorrido nenhuma interrupção:

"No meu sonho, chegávamos a Carmélide à hora do jantar, e saías com meu pai para caçar um javali para a ceia, porque não havia nada para comer lá! Estranho, não?"

"Sonhos são sempre estranhos. Mas conseguimos salvar o jantar, vosso pai e eu?"

"Sim!" Guinevere respondeu, animada. "E apareciam pessoas de todos os lugares, gente que eu nunca havia visto antes, para cear lá. Havia fartura, e comida para todos, mas o salão estava escuro e lúgubre... Enfim, foi só um sonho. Acho que estou ansiosa demais para chegar e, quem sabe, com um pouco de medo de não encontrar o que busco."

Por um breve momento, olharam-se nos olhos. Ele pousou a mão sobre a dela e disse apenas, "Haveis de encontrar!" Desviaram a vista, e ele levantou-se.

"Vamos?" Agora se dirigia aos rapazes, que jogavam num tabuleiro riscado no chão com um graveto, a poucos metros. "Quanto antes formos, antes chegamos!"

A rainha lhe deu a mão para que ele a ajudasse a embarcar e entrou no carro. Ele ocupou seu lugar à frente da carroça e incitou os cavalos.

***

Com o ritmo imposto por Lancelot, viram-se diante dos portões do castelo de Carmélide na manhã seguinte, horas antes do previsto. Quando parou a carroça, ele percebeu o burburinho que começava a se formar diante da entrada. Saltou do veículo e ajudou Lady Guinevere a descer. O sorriso dela era de genuína alegria, e ele próprio sentia-se um pouco eufórico com a chegada — e aliviado, também! Aproximaram-se da aglomeração que os aguardava.

Após cumprimentar efusivamente a filha, o rei Leodegan voltou-se para Lancelot, abraçando-o com força. Era um homem corpulento, vermelho, com um riso franco.

"E vós, meu rapaz, como estais? Que satisfação em revê-lo!"

"Estou bem, Majestade, e a satisfação é minha em retornar a vossas belas terras!"

"Muito obrigado por trazer minha filha em segurança até aqui! E vossos pais, os bons rei Ban e rainha Elaine, como vão?"

"Muito bem, Majestade, obrigado!"

"Eu os conheci no casamento do rei Arthur e de minha menina! Muito agradáveis, os dois! Conversei muito com vossa mãe sobre jardinagem. Temos um passatempo em comum, ela e eu: nossos amados roseirais!"

"De fato! Mas pude apreciar vossas flores desde minha primeira vinda aqui, e dou-vos minha palavra de honra de que as rosas que cultivais são as mais lindas que já vi na vida," disse, olhando de soslaio para Guinevere, que baixou os olhos, sem conter um tímido sorriso.

"Ah, meu rapaz, sabeis ser simpático!"

"Sou sincero, Majestade, mas se disserdes a minha mãe que eu falei isso, negarei até a morte!"

Gargalhando, o rei Leodegan deu-lhe outro abraço, "Ah, que excelente rapaz, excelente rapaz!". E, virando-se para a esposa, que também se aproximara para cumprimentar o cavaleiro, "Pena que não temos outra filha em idade de casar, hein, mulher?! Que excelente genro esse jovem não daria!"

"Deixe o rapaz, homem!" A rainha o admoestou. E, virando-se para Lancelot, "Venha, milorde, mostrarei seu quarto e o de seus companheiros de viagem, assim poderão banhar-se e até descansar um pouco antes que o almoço seja servido. Não vos preocupeis, os cavalariços levarão os animais ao estábulo e cuidarão deles!"

Agradecido, Lancelot a seguiu.

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now