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— Bom dia, flor do dia! — Cumprimento, assim que Clara arrasta os pés para a cozinha.

Ela parece um morto-vivo com muita sensibilidade à luz.

— Tô com uma ressaca lascada. — Ela indica o óbvio, apertando as têmporas assim que se senta à mesa.

— Aqui, eu fiz um chá.

Após comermos, mediquei Clara com um analgésio para dor de cabeça.

Mesmo que minha amiga esteja péssima sobre os efeitos do álcool no seu corpo, ela percebe minha frustração.

— O que é essa ruga bem aqui? — Ela indica entre minhas sobrancelhas  e eu estapeio seu braço.

— Nada. — Respondo mal humorada.

Ela não tem culpa pela minha insônia.

Se eu quiser culpar alguém, é válido culpar Park Chanyeol, que me obrigou a escolhê-lo e depois me descartou.

— Tem alguma coisa sim. O que aconteceu ontem enquanto eu me imaginava nos MV's de BTS? — A loira arqueou uma sobrancelha, questionando. Dei de ombros, tentando limpar a expressão.

— Chanyeol me pediu para rejeitar ele, não assinar o contrato.  Ele não quer uma consumidora.

— O QUÊ! Cabra da peste! — Ela bate o punho contra a mesa, visivelmente irritada. — Que ridículo, ah mas eu vou cortar as bolas dele!

— Calma, não é como se tivéssemos uma relação de verdade. Por mais que esse desejo de não ser uma encomenda me incite a descobrir o que ele tanto quer esconder, não posso forçá-lo a ser o meu namorado. O Suho vai por ele. — Tento tranquilizá-la. Clara sempre quer comprar todas as minhas brigas.

— Calma? Não existe essa palavra no meu dicionário... Aquele mal educado gostoso da porra PENSA que pode descartar você. — Ela estala os lábios, totalmente vingativa. Eu reviro os olhos, arrependida por ter contado. — Ah mas não pode MESMO!

— Clara, fui eu quem o escolhi e você que me apoiou na decisão. Águas passadas, pronto, já foi. Não preciso dele, tenho o Suho, que é o namorado perfeito. Vamos esquecer isso, tudo bem? — Acaricio suas mãos com meu polegar.

Minha melhor amiga assente como se fosse a pessoa mais compreensiva do mundo, mas sei que a história não é bem essa.

— Quem vive de passado é museu! — Ela sorri, desgrudando seus hashis descartáveis. Ela degusta uma sopa com raízes que ajudam na ressaca. Sorri orgulhosa quando a loira solta um gemido de satisfação.

Se ter uma coisa que posso me orgulhar, é do meu talento em cozinhar.

Como meus pais vivem fora do país, tive que dar um jeito para comer a hora que eu bem entedesse.

Depois de me queimar inúmeras vezes com óleo quente e deixar a água do miojo evaporar, eu aprendi a cozinhar.

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— Você já fez o trabalho de Sociologia? — A questiono. Estavámos lavando louça, ou melhor, eu estava. Clara apenas enxugava os pratos.

— Porra, caralho! — Ela se estapeia. Eu esperava por isso. Clara nunca foi boa com datas. — É pra quando?

— Amanhã! — Lembro-a, enxaguando os talheres.

— Ai meu capiroto, tô fudida.

— Lembrando que são três perfis a serem pesquisados.— Alerto, enxugando as mãos no avental.

Louça lavada com sucesso.

Não é que eu seja um exemplo na escola, mas sou extremamente rigorosa com datas e horários. Odeio atrasos e admito ser impaciente. Minha antiga professora de inglês dizia que eu era mais uma britânica do que uma coreana.

Não tiro razão dela.

— Vou agorinha mesmo fazer o trabalho, se não, não dou conta. — Ela tira o avental, jogando-o em minha direção. Eu pego o tecido no ar, jogando-o sobre o balcão.

— Mas, Clara! Eu vou ter que sair daqui a pouco, lembra? Assinar o contrato! — Gesticulo, encenando uma assinatura.

— Pega o meu carro e usa minha habilitação que tá no porta-luvas. A chave do Jeep tá no vaso de cerâmica perto da porta principal.

— Mais alguma colocação, chefe? — Pergunto com humor, batendo continência.

— Por enquanto é só. Descansar!














Namorado de aluguelWhere stories live. Discover now