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Clara Maria Machado P.O.V.

Os saltos altos comprimiam meus pés formando bolhas proporcionais ao tempo em que permaneci de pé, estendida ao lado da cadeira onde meu pai se sentara por três dias seguidos de reuniões, discutindo com os investidores maneiras criativas e revolucionárias de atender ao público diretamente, citando o P.N.N.A., exibindo com orgulho sua filha, CEO da sua filial, e dona da ideia que está movimento o mundo amoroso de milhares de coreanas, nesses últimos tempos.

Eu me sentia uma inútil ali parada ao lado do papai enquanto a Beatriz explicava com destreza seu projeto, "vendendo o peixe" aos investidores.

Assim que o último dia de reuniões acabou, eu queria me ver longe da empresa, longe do pai orgulhoso e da filha perfeita. Parece que ambos conseguiram o que queriam, e agora precisavam comemorar e não queriam me deixar de fora.

Eu dispensei, juro dispensei a proposta, mas quando se trata do papai, ele consegue nos manipular através das suas palavras dramáticas para conseguir o que quer, e aqui estou eu, à mesa com minha família frente a uma farta refeição. Parecíamos até aquelas famílias de comercial de margarina, mas estávamos longe de ser perfeitos e sorridentes.

À mesa, papai só era elogios a filha mais velha. Era Beatriz pra lá e pra cá. Ele se certificava de me mandar algumas indiretas no meio da conversa, exibindo sua vontade de ter mais gente da família ajudando nos negócios.

Cansada de tanta ladainha, eu aproveitei o momento para tentar difamar a minha irmã para os meus pais, sendo direta.

- Não sei se vocês sabem que a Beatriz vai casar, afinal ela é tão íntima de vocês dois. - Solto, remexendo a comida no meu prato. O cheiro estava bom, mas eu não sentia a menor vontade de levar o talher até a boca.

- Que história é essa, filha? Quem é o rapaz? - Papai questionou, confuso, olhando para sua primogênita.

- Um dos namorados de aluguel papai.- Fofoco, me divertindo por finalmente ter a chance de virar o jogo.

- Por favor papai, nos conceda sua benção, nós nos amamos muito! - Minha irmã implorou, usando uma voz afetada para contar sua mentira, e sinceramente, depois de três dias estressantes consecutivos, aquilo foi a conta d'água.

- Já que você o ama, por mim está tudo bem. - Ouvi papai assegurar enquanto eu me retirava da mesa. - Só não permitirei que um casamento atrapalhe sua vida empresarial. - Avisou, e eu frustrada, joguei o guardanapo em cima da mesa.

Tentei manter a etiqueta, e com uma reverência, pedi permissão para me retirar da mesa, tal qual concedida pelo meu pai.

Por mim já chega. Ou a Beatriz sai, ou eu saio. Não tem condições de morar no mesmo teto que o dela, e eu já estou preparando uma engenhosidade para resolver isso.

Só espero que dê certo.

Namorado de aluguelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora