Prólogo - HENRIQUE SOARES

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Barcelona, Espanha.

Alguém me disse um dia que para ficarem bonitas as mulheres vão ao salão de beleza e os homens até à concessionária.

Eu concordo! Mas não em gênero, número e grau. Percebo os olhares vidrados em mim e, claro, tenho um espelho enorme em casa. Sei que sou bonito pra caralho!

Vejo meu reflexo no vidro do carro à minha frente e ajeito o meu topete castanho antes de entrar no extraordinário possante. O cheiro é inebriante. Cheiro de carro novo, mas não qualquer novo, cheiro de carro caríssimo, praticamente intocável.

Visualizo todos os botões que noticiam a tecnologia de última geração e o acabamento perfeito do carro holandês.

— Señor?

Viro-me e vejo o vendedor espanhol ao meu lado que exibe um sorriso de orelha a orelha.

— Eu quero o laranja — imponho, olhando através dos óculos Maui Jim e sorrateiramente ele aperta os lábios.

— Discúlpame mi señor. Infelizmente o laranja está disponível apenas para encomenda. Esse preto vesúvio não te agradou?

Analiso mais uma vez toda a extensão lateral do carro.

— Não. Parece fúnebre.

— Podemos encomendar, señor.

Uma mulher me entrega um chope que eu havia pedido há alguns minutos, depois de ter feito careta para a sugestão do café.

Estou comemorando à vida, nada de café!

Agradeço e ela retribui com um olhar sexy que me faz ficar duro no mesmo segundo. Remexo-me um pouco, desconfortável na minha calça jeans apertada. Ela sorri e se vira, caminhando como se quisesse exibir toda a sua sensualidade. Avalio o corpo perfeito e curvilíneo através daquela saia apertada até o joelho. Sua cintura extremamente fina e um peito avantajado quase estava saltando da blusa social e, ainda por cima, a loira sexy tem uma boca perfeita para...

— Chega em aproximadamente trinta dias — diz o vendedor, tirando-me dos devaneios sexuais.

— Trinta dias? — pergunto mal-humorado.

— Lo siento. Zenvo ST1 é um carro muito valioso. Vendemos apenas por encomenda. Só temos esse disponível na loja.

— Ei, Henrique. Por que você não leva esse preto? — Jaime, meu irmão e empresário, intercede ao se aproximar — E encomenda o laranja.

O vendedor abre um sorriso acolhedor.

— Você é mesmo bastante esperto, não é? Não vá pensando que só por isso o preto será seu depois.

— Eu pensei isso? Imagina! Na verdade, acho isso inútil.

— Como isso pode ser inútil? Você está vendo o mesmo carro do que eu?

— Sua viagem de férias para o Brasil é na semana que vem. Mas, conhecendo você muito bem, acho melhor resolvermos isso logo. Estou atrasado para uma reunião. O lado bom é que quando voltar de férias, o laranja estará aqui. Pronto, resolvido. Podemos ir?

Um frio na boca do estômago me atinge. Estava excitado, contando os dias. As minhas tão sonhadas e esperadas férias no Brasil estão chegando. A última passagem por lá foram os dias mais loucos da minha vida. Tão loucos que demorou meses para que as pessoas esquecerem a festa de arromba que dei na minha casa. Notícias como os casos extraconjugais dos amigos e um vídeo meu para lá de íntimo sendo vazado na internet foram os assunto mais lucrativo da imprensa. Estava ansioso e, ao mesmo tempo, receoso em passar as férias no Rio de Janeiro.

— Jaime! — chamo sua atenção e o vendedor percebe que estamos num embate e se afasta um pouco, cordialmente. — E com o que vou andar por aí essa semana?

— Com esse preto ou com um dos seus oito carros de luxo que estão estacionados lá em casa.

— Cara, eu acabei de ganhar o campeonato europeu. Fiz os dois gols que levou o nosso time à vitória. Vamos combinar, irmão, tenho que arredondar esse número de carros. Dez é a minha camisa, dez será o número de carros na minha garagem. Não acha justo?

Jaime balança a cabeça devagar, pensando na pergunta e fico levemente irritado.

— Acho — concorda baixo, percebendo que não tem mais argumentos quanto a isso.

Sorrio para ele e nesse momento passa um leve entendimento de que Jaime é a minha consciência mais madura, apesar de nunca ganhar uma discussão. Dou dois tapinhas nas suas costas em gratidão.

Jaime cuida da burocracia, enquanto eu penso em como realizar minhas vontades. Mais algumas delas. Em menos de cinco minutos entro no carro, dando partida e ouvindo o som maravilhoso do ronco do motor que, para o meu deleite, só não era melhor do que o som uníssono de mais de cem mil pessoas gritando o meu nome no Camp Nou : SOARES! SOARES!

Soares, o SOBERANO! É, eu sou. Sou mesmo.

Fecho os olhos por alguns segundos e revivo o dia. Com certeza, foi o momento mais extraordinário da minha carreira ganhar o campeonato na casa do time que jogo com orgulho.

Olho para o lado e vejo a espanhola sexy de pé, na frente do carro.

Com apenas um dedo eu a chamo e um sorriso mais ousado é declarado. Ela entra no carro sem pestanejar.

Ligo o som e mexendo em alguns botões, começa a tocar Satisfaction do Rolling Stones.

Perfecto.

Perfeita para a ocasião e sorrio para a garota ao meu lado.

— Você é o brinde?

— Soy todo lo que quieres, Soares — responde, virando para mim e mordendo o lábio inferior.

Ela alisa minha perna, contente por estar ao lado do Soares. O Fabuloso. Seu contentamento era visível. Quem não estaria?

Jaime dá duas batidinhas no vidro do carro e revira os olhos. Repito sua ação e abro o vidro.

— Já vi que terei que ir sozinho à reunião da nova campanha, não é? — resmunga, cruzando os braços, aborrecido.

— Esse é o seu trabalho, Jaime — Começo a acelerar e fazer o carro rosnar. — Não o meu.

— Juízo, moleque! — pede, já sabendo que nada me faria não sair daqui com essa loira.

— Juízo zero, meu irmão! Eu quero é comemorar! — respondo enquanto canto pneu saindo do lugar com destino certo: minha mansão em Pedralbes. Meu refúgio para qualquer ocasião, inclusive uma transa inesperada.

Enquanto dirijo, a loira mostra que a minha conclusão sobre sua boca estava correta. Ela faz um trabalho excepcional no meu membro duro como pedra. Fico em êxtase absoluto. Não teria forma mais perfeita de batizar o carro.

Eu vivia, não só o momento mais extraordinário da minha carreira, mas também o da minha vida.

Não foi fácil. Todos só reparam no sucesso do vencedor, mas não sabem do que ele precisou fazer para conseguir alcançar a vitória. Algumas derrotas foram responsáveis por eu estar aqui hoje. Eu não agradecia a elas, mas também não poderia negar que foi um combustível potente para que precisava.

Insaciável. Essa era a palavra na qual eu me definia. Mas, por hoje, só por hoje, até que estava bom. Amanhã recomeço a correr atrás do que eu ainda queria conquistar.

Olho para baixo, enquanto dirijo, e vejo o emaranhado de cabelos loiros em um ritmo frenético diante do meu melhor. Reviro meus olhos, baixando a velocidade do carro, sentindo os espasmos por todas as terminações nervosas do meu corpo enquanto gozo na sua boca.

As realizações só tinham começado. Só começado.

TUDO OU NADAWhere stories live. Discover now