Capítulo 23 - CATARINA

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— Ah, não! Não, não e não. Isso está completamente e inegavelmente fora de cogitação. — Levanto rapidamente da cadeira de rodinhas acolchoada que faz um barulho maior do que eu esperava.

Dezenas de olhares me encaram. A mesa oval da sala de reunião do jornal Foco está completa. Editores chefes, jornalistas e a equipe de marketing. Todos os cargos chefes da empresa e eu ali, sendo o centro das atenções. Só Deus sabe o quanto odeio ser o centro das atenções!

Os míseros segundos de silêncio quase me fazem sentar novamente, puxar as pernas para cima, abraçá-las apertado e chorar.

— Eu disse... — Uma mulher de nariz empinado no outro lado da mesa diz, soltando o seu Ipad. — Disse que essa menina não ia ter capacidade para isso. — Ela nem me olha.

Cerro meu olhar para ela. Ei, eu estou aqui, fulaninha!

— Isso não pode ser questionável. Foi exigência da assessoria e nada de câmeras. — Milano comenta, me olhando de soslaio. Eu imagino o que passa na cabeça careca dele, claro. Ele sabe que foi eu que tirei as fotos da Luciana, mas, como todos, deduz que era Soares na cama.

Marlon está ao seu lado. Quieto, embora seu olhar peça para eu me acalmar.

— Eu cheguei a comentar que Catarina não é jornalista esportiva, mas não teve jeito.

— Pois é, não sou. Problema resolvido, não? — digo, e minha voz sai em um tom meio desesperado.

— Há quanto tempo tentamos entrevistá-lo e só recebemos não? Precisamos dar um gás. Vender! O país está em crise, pessoal — diz um homem de meia idade.

— Catarina, você tem noção dos degraus que subirá depois dessa entrevista? — fala Lena.

— Henrique Soares é o nome da vez, ele raramente dá entrevistas — diz um rapaz próximo a porta de saída.

Eu não queria saber dos degraus alcançados e nesse momento, nem consigo raciocinar muito. Estava sendo posta contra a parede.

— Não podemos questioná-lo sobre essa exigência, ok? Proibiram isso. Mas podemos questionar você. — O homem próximo à porta cruza os braços, esperando uma explicação da minha parte.

— Eu não sei, eu...

— Ei, pessoal, sabemos que eles acabam descobrindo. — Marlon intervém. — Isso faz parte. Foi Catarina que conseguiu as fotos da Luciana Santana que, aliás, foi recorde de vendas do ano. Por mais que não tenhamos comprovado que era ele e Catarina também não o viu, a especulação e a aposta são grandes. Ele deve estar querendo manter a inimiga perto. Quantas vezes vimos isso acontecer?

Sua pergunta é recebida em silêncio e por rostos não muito convencidos. Não sei se Marlon está muito certo, mas valeu a tentativa.

Eu? Viraria agora a arqui-inimiga de Soares. Ou seja, mais da metade da população mundial que era fã desse homem iria me odiar. Eu mereço! Mereço depois de ter entrado no quarto dele!

— Precisamos de você, Catarina. — diz Hugo Milano. Meu coração dispara.

Eu não posso! Não posso estar mais uma vez na frente dele. Não posso!

— Desculpe, Milano. Eu agradeço a oportunidade. — Seu olhar cai. — Obrigada, Marlon, mas eu não posso... isso vai além... além...

Respiro fundo e sem ter palavras para expressar o motivo e não querendo ver os semblantes decepcionados das pessoas, pego minha bolsa que está no chão e saio correndo em direção a porta como um furacão.

Alguns passos depois sinto Marlon atrás de mim. Viro-me e o abraço apertado.

— Não dá, Marlon. Desculpe. Eu sei o quanto se esforçou para me conseguir esse emprego, mas ele já derrubou algumas barreiras. Não posso permitir mais isso.

— Tudo bem, Cata! — Ele beija o topo da minha cabeça. — Tudo bem.

— Eu vou ser demitida, não vou?

— Infelizmente, vai. É a oportunidade que o Jornal espera há anos. Desculpe, amiga.

Tudo voltaria à estaca zero e uma lágrima escapa dos meus olhos. Dois minutos se passam e meu telefone celular toca dentro da minha bolsa. Pego e atendo sobre os olhos atentos do Marlon.

— Pode ser o Leandro. Eles foram ao zoológico — digo.

Aperto um botão e atendo. A voz do outro lado não é do meu irmão.

— Boa tarde Catarina, aqui é o seu advogado, dr. Goulart. — Meu coração dispara. — Desculpe, mas tenho péssimas notícias.


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