Capítulo 19 - CATARINA

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Jaime estaciona o carro na estreita rua de paralelepípedo em Santa Teresa e sorri antes de sair do carro. Acompanhando-o saio também e fecho a porta com mais força do que queria.

Ele mexe no cabelo com um sorriso encabulado ao meu lado. E percebo que o certo seria ter ficado dentro do carro e esperado ele abrir a porta para mim. Era isso que ele iria fazer?

Desculpe — peço baixinho.

Não estou acostumada com homens tão educados. Isso ainda existe?

— Não... tudo bem — diz, estendendo uma das mãos e pegando na minha. — Você está linda, Catarina.

Era a segunda vez que ele dizia isso. A primeira foi quando eu abri a porta de ferro de casa e ele me viu.

Eu não costumava a me achar linda, mas hoje, graças às dicas do Marlon, eu me sentia linda. Coloquei um vestido vintage azul royal e fui obrigada a colocar uma sandália de salto alto preta. Marlon não concordou com a minha ideia de colocar um tênis.

Jaime estava de calça jeans preta e um blazer preto por cima de uma blusa cinza, muito elegante. Eu estava tranquila, mas sentia o tempo inteiro o nervosismo dele.

Durante os dias que se estenderam até esse encontro eu ficava tentando entender os motivos para um homem bem-sucedido como ele querer sair com alguém como eu, simples e sem ter onde cair morta. Talvez esteja de saco cheio daquelas peruas e patricinhas metidinhas!

Eram só questionamentos bobos. Não sou melodramática a ponto de deixar isso me consumir. Eu estava curtindo o passeio com um homem elegante ao meu lado. Que mulher não iria gostar? Eu que não sou besta!

Acompanho Jaime até a entrada do restaurante.

— Conhece? — Nego e ele sorri como se tivesse acertado em cheio. — Esse restaurante se chama Aprazível e tem uma das vistas mais bonitas do Rio. Pelo menos eu o acho muito agradável.

— É lindo — digo, observando a das louças e taças expostas nas mesas.

— Que bom que gostou.

Somos orientados a nos sentarmos em um canto do restaurante com uma visão privilegiada.

O garçom pergunta o que gostaríamos de beber e olhando meio de soslaio para outras pessoas percebo que posso pedir um chope sem pagar um mico. Jaime me acompanha.

Eu não sei ser fina! Eu não sei comer com vários talheres e muito menos comer escargot e nem caviar. Aliás, nunca vi pessoalmente também. Agradeço por ele perceber isso.

— Como anda o seu trabalho no jornal?

Quase engasgo com a cerveja. A pergunta era no mínimo meio capciosa e aquela questão de que ele talvez quisesse sair comigo para me manter a vista começa a fazer sentido.

— Desculpe-me. Não quis te deixar sem graça. Eu entendo a situação e percebi que tudo não passou de um engano naquele dia.

Aquele dia tinha começado com um engano, mas de certa forma, tudo deu certo.

Não por completo.

— Aquela sua raiva do carro não era invenção.

— Nada foi, Jaime. Eu estava desesperada e a única oportunidade que tive era ir atrás do seu irmão.

— Conseguiu.

— Consegui, mas tive pena.

— Pena? Quando eu digo que aquele filho da puta é sortudo ninguém acredita.

TUDO OU NADAWhere stories live. Discover now