Estava tudo tão tranquilo, na maior paz, mas precisava ter caído novamente na lábia da Luciana. Eu deveria ter imaginado. Deveria ter dado ouvidos ao Jaime e ter pulado fora quando tive oportunidade. Agora estava em um beco sem saída, nas mãos de uma mulher que nem conhecia.
— Tem certeza disso? — pergunta Jaime, bastante indeciso.
— Eu te contei tudo. Você acha que não é para ir adiante?
Ele nega com a cabeça, mas o conheço o suficiente para saber que por dentro está relutante. Com um pedaço de ferro na mão, dou impulso com o braço e bato com toda a força no vidro traseiro do carro parado em frente à mansão.
O vidro racha, mas não quebra. O carro ainda estava molhado da chuva que caiu mais cedo, e os respingos caem na minha roupa.
— Você sabe que isso é crime, não sabe? — diz ele.
Faço que sim, voltando a posição de ataque.
— Sei também que é crime tirar fotos de pessoas nuas sem o consentimento delas.
— Eu sei. Talvez a menina apenas viu que você era famoso e...
— Cara, eu pensei nisso na hora, mas não acho que foi isso. Ela não tirou uma foto e saiu correndo, ela ficou lá e me desafiou.
— Desafiou? Você estava preso!
— Desafiou no olhar, cara! No olhar.
— Não estou entendendo mais nada, sabia?
Abaixo a barra de ferro e olho para o meu irmão.
— É simples. Você a colocou dentro da festa, certo? O que quer dizer que VOCÊ é o culpado disso, Jaime! E agora temos a chance de saber quem é a tal garota porque, por sorte do destino, e sorte SUA, a bolsa dela está dentro do carro! Agora para de lengalenga e me ajuda com isso.
Ofereço o ferro a ele, que revira os olhos e se mantém parado.
— AH! — grito, buscando mais força. Bato no vidro do carro com a barra mais uma vez e finalmente ele se quebra em vários pedaços.
Jogo a barra de ferro no chão da rua e com uma toalha que Jaime trouxe de dentro da casa afasto os estilhaços presos e pego a bolsa no banco de trás do carro.
— Satisfeito? — diz ele, contrariado.
— Muito.
Caminho até o capô do carro e abro a bolsa marrom de couro vagabundo devagar. Jaime abre a boca para reclamar.
— Não, Jaime! Preciso saber que é essa mulher, está bem? Ninguém está vendo isso. Fique calmo.
— Você e sua mania de fazer merda! Quando isso vai parar, Henrique?
Paro de mexer e começo a ficar realmente bravo com ele.
— Porra, Jaime! Sério isso? Você é o culpado dessa vez!
— Isso não teria acontecido se você estivesse me ouvido! Luciana é roubada, cara! Quantas vezes eu te falei isso?
— Caralho! Quando você vai parar de me encher?
— Quando você crescer!
Estávamos brigando novamente. Era comum. Jaime e eu estamos sempre juntos e isso nos fazia ter certas discordâncias na maioria das vezes. Eu sabia que meu irmão estava certo, mas dessa vez a responsabilidade era meio a meio. Ele também tinha culpa no cartório.
Volto a mexer na bolsa, ignorando-o. Vou tirando algumas folhas, comprovantes, lenço da bolsa e jogando no lado do carro.
— Cara! Não faz isso com as coisas da menina.
Paro e olho para ele.
— Ah! Acho que entendi. Você gostou da garota? — debocho.
Ele arregala um pouco os olhos e nega.
— Claro que gostou, por isso está assim irritadinho.
— Para de falar merda.
— Tenho que dar o braço a torcer, meu irmão. Se não fossem aquelas roupas caidinhas, ela até daria para o gasto. Era até bem gostosinha!
— Cala essa boca, Henrique! — Jaime grita tão alto que até ele fica assustado.
Por alguns segundos ficamos calados. Era difícil ele se exaltar tanto. Volto a olhar a bolsa e para ele.
— Me desculpe, ok? — Tento acalmar os ânimos. — Vou só ver se tem carteira e se tem alguma pista de onde ela mora.
Ele passa a mão pelo rosto, visivelmente nervoso.
— Quer saber? Foda-se! Eu estou fora dessa merda. Se vira!
Jaime vai embora e caminha em direção a casa. Respiro fundo bufando. Agora quem está com raiva sou eu. Jaime pode pensar que eu preciso dele para tudo, mas dessa vez eu não o deixarei jogar na minha cara esse problema.
Eu vou resolver isso sozinho.
Remexo novamente na bolsa e encontro uma câmera, ligo-a e não existe fotos no cartão de memória. É normal andarem com câmera dentro da bolsa ou ela estava, de fato, equipada?
Encontro sua carteira e sem pensar duas vezes abro. Pego seu documento e vejo o nome da pervertida: Catarina Maria Mendonça. Sua foto parece ser bem antiga, pois mesmo percebendo que é uma mulher jovem, no documento parece mais uma adolescente. Observo os traços da menina que está me deixando puto. Seus olhos castanhos, seu pequeno nariz arrebitado e a boca linda. Não é à toa que Jaime ficou caidinho. Aquele sacana pensa que me engana.
Pronto! Isso talvez seja suficiente para encontrar a maldita.
Em uma das abas de plástico da carteira vejo duas fotos 3x4. Uma das fotos é de uma menina pequena e a outra de um homem jovem. Torço a boca. Uma família unida, que emocionante!
Fuxico um pouco mais e encontro uma nota de dois reais. Dois reais? Sinto um pouco de pena, mas logo passa quando me lembro da cretina tirando minha foto. A essa hora ela estava negociando minhas fotos e embolsando algumas verdinhas.
Pego um fino papel no fundo da carteira. Abro delicadamente e vejo:
Recibo de Pagamento.
Centro Educacional Joaninha Tagarela.
Aluna: Ana Mendonça
Responsável: Catarina Maria Mendonça
Joaninha Tagarela? Quem é o louco que matricula a filha numa escola com esse nome?
Sorrio e volto a colocar as coisas dentro da bolsa. Essa era a pista que eu precisava. Envolver meu advogado, detetive e o caralho à quatro não estava nos meus planos. Queria agir sozinho. Sem alarde. Sem que depois Jaime jogue na minha cara.
Pego meu Iphone no bolso da bermuda e digito no google: Centro Educacional Joaninha Tagarela.
E lá está o nome da rua, número, telefone e o município: Duque de Caxias.
Eu conhecia o lugar, pois fui criado em um município relativamente próximo.
De repente um sentimento ruim me aflige. Eram lembranças. Eu não gostava de relembrar essa época. Os primórdios, as dificuldades, a culpa que eu ainda carregava e odiava lembrar a minha adolescência, mesmo que tudo isso tenha ocorrido alguns anos atrás.
Bufo alto, irritado.
A mulher não poderia morar mais perto?
Quase fraquejo ao pensar em ligar
para o meu advogado, mas resolvo manter a tática inicial.
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TUDO OU NADA
RomanceHenrique Soares é um dos jogadores de futebol mais cobiçados do mundo. Está constantemente na mídia, não apenas pelo seu talento em campo, mas também pelo sex appeal que enlouquece suas fãs. Henrique vive a vida intensamente, aproveitando tudo o que...