Capítulo 11 -CATARINA

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Saio da escola da Ana soltando fogo pelas ventas. O que ele queria? Maltratar minha filha? Arranjar um reboliço sendo reconhecido?

Eu já tinha percebido a sua mania de se achar o dono no mundo antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente.

É claro que ele mexeria na minha bolsa para encontrar alguma pista. E eu fui burra. Deveria ter tirado aquelas fotos da Luciana Santana e fugido em seguida. Mas quis mais, e me ferrei. Aquele famoso ditado se encaixa perfeitamente nesse momento: quem procura, acha.

Eu procurei!

Agora o famoso ídolo do futebol está aqui na minha rua. Eu queria falar para ele ir embora e chutar a sua bunda, mas não consigo vendo o sorriso alegre da Ana.

Ele mexeu em um lugar muito perigoso. Nesse momento, eu seria capaz de arrancar seus olhos.

Onde já se viu Ana fingir que ele é seu pai na sua escola? Nesse momento eu vejo o quanto Ana sente falta de um pai e eu estava me iludindo do contrário. Ela tem apenas sete anos, é obvio que sente falta de uma figura paterna.

Essa constatação me faz ficar com um nó na garganta. Vendo ele conversar com Soares, um completo estranho, de uma forma tão ansiosa me impede de colocá-lo para correr ou falar uns bons palavrões para ele.

— Sabe de uma coisa? Você não é estranho. Acho que eu já vi seu amigo em algum lugar, mamãe.

Ela vira para mim, como se eu pudesse responder essa pergunta.

— Eu moro perto — ele mente, piscando para mim. — Talvez você tenha me visto passando na rua.

— E nunca veio visitar minha mãe? Que amigo é esse, hein!

Reviro os olhos. Minha filha pode ser pequena, mas não é burra.

— Agora moro fora do Brasil.

Faço careta para ele.

— Sério? Mamãe sonha em conhecer a França. — Olho para ela e forço um sorriso. Era um dos meus sonhos.

— Ah, é? Eu moro na Espanha.

— Hum, não sei onde fica. — Ela dá de ombros.

Quando alguém passa na rua, Soares abaixa a cabeça discretamente, tentando manter o disfarce. Olho de soslaio para ele, que sorri. Ele estava se divertindo com a brincadeira de ser outra pessoa. Cretino!

Um arrepio repentino me atinge quando me lembro dele nu. Quase sorrio, mas mantenho a pose de durona.

Chegando à porta de casa, eu travo. Sabe aquele momento em que você vai agindo sem saber ao certo no que vai dar? Deixando apenas o vento levar? Eu estava assim. Enquanto caminhava ao som da vozinha da Ana e as respostas do Soares, eu pensava em como acabar logo com aquela palhaçada sem que ele me perturbe futuramente e que Ana não se magoe.

— É aqui que vocês moram? — pergunta.

Ana concorda com a cabeça, sorridente.

— Por quê? Algum problema, amiguinho? Ah, já sei... não é uma mansão. Sinto muito em decepcioná-lo — debocho com raiva.

Aninha franze a testa.

— Muito bonita sua casa, Ana — ele diz e minha raiva aumenta.

— Para! Não seja mentiroso, você nem entrou! — Ana fala sorrindo.

Ela pega na mão dele e puxa até a porta de ferro meio enferrujada.

— Ana... o... o...

— Henrique — completa e faço outra careta para ele.

TUDO OU NADAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora