Capítulo 17 - CATARINA

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Fecho a porta da sala de reunião da revista Fatos & Fotos e volto a respirar.

A conversa com o diretor Milano não havia sido do jeito que eu havia planejado.

Eu não vou ficar na cola do Soares! Essa seria a minha única exigência, durante esses últimos dias. Mas quem disse que eu consegui expor isso?

Ali havia sido estabelecido a minha trajetória inicial naquele jornal. Maldita foto da Luciana Santana! Maldita foto do prontuário do jogador malandrão!

Caminho pelo corredor tentando desatar o nó na minha garganta. Era para sair dessa reunião com um sorriso de orelha a orelha. O retorno financeiro por esses dias de trabalho já valeu por quatro meses de estágio. Não poderia reclamar. Fui elogiada e recebi a chave do carro para ter mais facilidade em correr atrás das notícias.

Eu não vou ficar na cola do Soares! Cheguei aqui com essa frase na ponta da língua, mas eu precisava do dinheiro. Precisava pensar na Ana e no Leandro também.

Soares tinha um mês de férias até voltar para a Espanha e eu teria que ter pelo menos mais um furo dele. O burburinho causado pela dúvida se era ou não Henrique Soares deitado naquela cama com Luciana Santana foi melhor do que a certeza propriamente dita.

As pessoas gostam de especular! É a jogada de marketing perfeita! As palavras do Milano ecoam na minha cabeça.

— Catarina! — Marlon me chama. — Como foi com Milano?

— Uma porcaria — digo, baixando os ombros, quase em desistência.

— Eu falei que ele iria insistir na história.

— Eu não quero ficar atrás do Soares, Marlon. Isso foi além de um trabalho.

Eu havia contado tudo a ele. O quase assassinato lá em casa por conta de um mísero salgado de camarão, a visão quase profética de ser acusada de homicídio culposo, a preocupação da Ana, a visita ao hospital, o prontuário sendo compartilhado e Jaime. Ah, o simpático e atencioso, Jaime!

Marlon concorda.

— E o seu encontro com o irmão dele?

— É hoje, mas não sei Marlon. Estou quase desmarcando.

— Você sabe que para mim, um beijo na boca ou até mesmo uma foda descompromissada com alguém que te atrai é sempre um programão. O problema é que ele não é um cara comum. Ele é irmão do jogador de futebol mais valioso do mundo...

— E mais gostoso do mundo também — digo e na hora tapo a boca.

O que eu disse?

— Ei, ei, ei... está falando do Henrique Soares ou o irmão?

— Hum...

— Dos dois?

Aceno concordando. Eu não costumo a ficar constrangida perto de Marlon, mas sinto minhas bochechas esquentarem.

— Ah, Catarina, você não me contou tudo!

Mordo o lábio.

— Sabia! — exclama, pegando minha mão e me levando até sua sala. — Fala logo!

— É que rolou algo estranho. Eu não entendi muito bem, na verdade acho que entendi tudo...

— Espera aí, sem enrolação. Começa de novo que isso está uma bagunça.

— Ele tentou me beijar — revelo e Marlon abre a boca com um sorrisinho.

— Mas você o beijou, não foi? O Jaime?

Faço que sim.

— Não estou falando dele.

Ele mexe nos seus cabelos loiros, colocando-os para trás e se senta.

— Estou passado!

— É difícil, não é? Imaginar um homem daqueles querendo me beijar?

— Não é isso, Cata! Não disse isso, aliás acho até que ele é espertinho demais. Já te falei que se eu gostasse da fruta você seria minha e de ninguém mais.

Sorrio. Ele cismava em falar isso, mas imagino que seja apenas para levantar meu astral.

— Ele não me beijou porque queria me manipular.

— Ah, sem essa, vai!

— Sério, tenho certeza disso!

— Você está arrasando corações! Dois bonitões ricos?

— Não fala besteira! Eu só queria uma luz.

— Uma luz? A primeira luz que vejo é você indo a esse encontro.

— Eu não sei, Marlon.

— Não tem essa de não sei, sua boba. Aproveita! Você disse que o beijo foi bom.

Eu havia contado a ele também sobre o beijo em Jaime, mas ocultei a parte de que fui eu quem o agarrei depois de um momento de fúria. É, o beijo até que foi bom!

— Você deve espairecer. Se distrair. Se o problema for Ana, ficarei com ela.

— Não precisa. O Leandro disse que ficaria.

— Então não tem motivos para você não ir.

— Antes fosse assim, tão fácil.

— É fácil. Você é que complica demais.

Talvez meu amigo estivesse certo. Soares não era o Jaime e Jaime não era o Soares. E que se dane todo o resto.

— Eu vou.

— Aí sim, garota!

— Mas ainda não decidi se fico aqui, Marlon.

— Olha só, Soares logo vai embora e Milano vira os olhos para outra pessoa. Segura a onda. A grana é boa e você precisa.

Concordo mais uma vez. A grana realmente era ótima e o horário de trabalho bem flexível.

— Agora sorria e, por favor, preciso te fazer um pedido.

— Faça.

— Promete fazer o possível e o impossível para realizá-lo.

Sorrio para ele. Conheço Marlon muito bem para saber que aí tem.

— Hum... talvez.

— Vá até o shopping, entra em uma loja e compra um vestido, ok? Depois, entre em um salão de beleza. Essas pessoas também precisam de trabalho.

Faço uma careta.

— Engraçadinho.

— Promete?

Eu já tinha vasculhado meu guarda-roupa caso optasse por ir a esse encontro e não havia encontrado nada que preste. A ideia do Marlon não era tão louca assim.

— Só se você prometer ir comigo o shopping.

— Eu sabia que iria querer uma companhia. Só espera aqui um minuto que vou avisar que sairei agora, tudo bem?

Faço que sim e aguardo.

A tarde passa voando. Faço tudo o que Marlon pede. Com o dinheiro extra das fotos deu para parcelar um vestido, fazer um corte bonito e uma escova no cabelo. Dispensei a maquiagem, pois dá para fazer em casa. A maré não está tão boa assim e precisava ter a certeza de que continuaria no emprego. Só dependia de mim.

— Está linda, Cata! — diz Marlon, saindo do salão comigo.

— Pelo que andei fuxicando nas fotos da internet, Jaime faz mais meu tipo do que o próprio Soares.

— Ele é realmente um...

— Pedaço de mau caminho.

— Ele é o mau caminho inteiro, Cata!

Mas não poderia concordar totalmente com ele. O jeito malandro do Soares não saia dos meus pensamentos.

Repreendo-me rapidamente, tentando não fixar muito meus pensamentos nele. Preciso deixar isso para amanhã. Não hoje. Não hoje.

TUDO OU NADAWhere stories live. Discover now