Capítulo 1 - CATARINA

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Rio de Janeiro, Brasil.

Dias depois.

Contemplo através do vidro ao meu lado a exorbitante paisagem da Zona Sul do Rio de Janeiro passar rapidamente pelos meus olhos. Praia, calor, surfistas e músculos definidos. É só nisso que presto atenção.

Expiro baixinho, desgostosa com as minhas constatações. Queria poder ficar assim, em plena quarta-feira, pegando sol e bebendo uma água de coco gelada com esse mar cristalino à minha frente.

Sem preocupação, claro!

Sem ter contas para pagar, sem filha para alimentar e sem estar no ônibus num calor de 40 graus como me encontro nesse exato momento. Mas não, estou a caminho de uma entrevista de emprego.

Ah, não! Não posso reclamar. Essa entrevista é muito importante! Caiu do céu.

Viro para o lado e vejo o lindo Hotel Copacabana Palace passar diante dos meus olhos. Esse hotel me remetia a sonhos de criança, a sonhos que jamais seriam realizados.

Sacudo a cabeça desfazendo esses pensamentos e logo o ônibus vira bruscamente, me fazendo perder a visão do mar e quase caindo no colo do passageiro ao lado.

— Desculpe — peço. O rapaz mascando chiclete de boca aberta, com óculos escuros e fones no ouvido parece ter me ouvido, porque logo assente sem pouco importar.

Quem anda de ônibus todos os dias sabe o quanto isso é habitual. Estamos no mesmo barco, ou melhor, no mesmo coletivo. Bufo de novo.

Após algum tempo deslumbrando toda a região, fico preocupada.

— Você sabe se já passou o Hotel Fasano? — pergunto para o rapaz ao lado.

Lembro muito bem do Marlon me dizendo pela manhã que o Jornal onde seria a entrevista ficava próximo a esse hotel.

— O quê? — Ele retira um dos fones do ouvido percebendo que estou falando com ele.

— Hotel Fasano? Está próximo? — repito.

— Ih, colega. Foi há uns dois pontos atrás.

— Merda!

Levanto pedindo licença a ele e vou ziguezagueando pelas pessoas de pé no corredor do ônibus, puxando a cigarra sempre que dá para o motorista perceber que tem alguém desesperadamente louca para descer.

Isso que dá, Catarina, ficar olhando o mar e sonhando em ficar de bunda para o ar o dia inteiro! Fala sério!

Repreendo-me, completamente fula da vida! Dificuldades reais podem ser solucionadas, mas as fantasiosas são impossíveis. Põe a cabeça no lugar, mulher!

— Motorista! Perdi meu ponto! — grito na esperança dele ser gentil e encostar, mas ele me olha de soslaio e finge que não me ouve.

— Por favor, por favor! Eu vou perder uma entrevista de emprego. É muito importante pra mim! — imploro. — O senhor tem filho? — apelo. Eu precisava recorrer a algo e orar. Por sorte, ele faz que sim. — Eu também, mas ao contrário do senhor, eu estou desempregada há seis meses. Pelo amor das mães de família desempregada, meu senhor... — Acho que peço com tanta clemência que ele olha rápido para mim e para na mesma hora, fora do próximo ponto.

— Vá logo, menina! Senão vou receber uma multa e quem vai ficar sem emprego sou eu.

— Ah! Obrigada! Obrigada — agradeço e assim que desço as escadas dou um pulinho para atravessar a poça de água que escorre da calçada até o canto da rua. Paro de frente a porta do ônibus e agradeço novamente o gentil motorista, que pega uma toalha que está pousada na perna e enxuga o rosto, enquanto a porta se fecha devagar. — Obrigada mesmo!

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