Mãos me segurando, meus olhos revirando, sirenes, algumas perguntas que não soube responder, uma mão pequena segurando a minha, uma mão sedosa alisando meu cabelo, frio, calor, luz forte nos olhos, dor no braço, dor de cabeça e sono. Sono profundo.
Abro meus olhos devagar. Demoro um pouco a me acostumar com a claridade e a recapitular os últimos acontecimentos.
Camarão.
Observo o quarto cor de creme vazio, um cobre-leito pesado sobre as pernas e uma televisão ligada sem som.
Era fácil adivinhar onde eu estava. Não era a primeira vez que eu parava no hospital por causa de camarão. Quando criança, eu e meu irmão ficamos internados porque roubamos do prato do Jaime., Sempre tomo cuidado para não vacilar, mas dessa vez me ferrei bonito.
A porta próxima a TV se abre.
— Ah! Olha só quem acordou! — Jaime, meu irmão, entra segurando um copo plástico.
— Onde estou? — pergunto sentindo ainda minha cabeça doer.
— Hospital.
— Isso eu já percebi. Mas onde?
— Agora está no Copa D'Or. — responde, colocando o copo na boca e sentando na poltrona ao meu lado.
— Agora?
— Antes estava em um hospital público em Duque de Caxias.
Bufo, deixando a cabeça cair novamente no travesseiro.
— Que merda!
— Põe merda nisso. Você quase morreu, Henrique.
Fecho meus olhos e coço a cabeça.
Aperto um botão ao lado da maca e fico na posição sentada.
— Cadê ela? — pergunto pela Catarina.
— Olha... — Jaime coloca os pés sobre a cama e o copo na mesinha ao meu lado. — Devo confessar que você foi rápido. Quer dizer que encontrou a menina?
— Não fale como ela se fosse uma garotinha, ok? Ela não é.
— Imaginei que fosse novinha, até uma adolescente, sei lá.
— Que nada. Ela é bem espertinha por sinal e irritante, às vezes. Ela não está aqui?
— Não. Quando cheguei ao hospital já estava aquele reboliço.
— Reboliço?
— O que está acontecendo? A alergia agora é cerebral? É claro que te reconheceram!
Nesse momento vejo a televisão ligada e reconheço Jaime passando na tela. Peço para ele aumentar o volume.
— Caralho, Jaime. O que você fez?
Jaime aparece com óculos escuros em frente ao que me parece o hospital.
— Henrique Soares está medicado e se recupera bem — diz ele em um dos microfones.
— O que ele teve? — Alguém pergunta.
— Foi apenas uma reação alérgica.
— Por que ele estava em Caxias?
— Soares tem algumas escolinhas de futebol que patrocina, ele estava indo visitá-las. Apenas sentiu um mal-estar.
— Ele estava sozinho? Quem o socorreu?
— Soares já está bem. Quero agradecer o carinho de vocês. — Jaime agradece, ignorando as demais perguntas. — Em breve o hospital emitirá uma nota com o estado dele. Obrigado e boa noite.
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TUDO OU NADA
RomanceHenrique Soares é um dos jogadores de futebol mais cobiçados do mundo. Está constantemente na mídia, não apenas pelo seu talento em campo, mas também pelo sex appeal que enlouquece suas fãs. Henrique vive a vida intensamente, aproveitando tudo o que...