Capítulo 38 - HENRIQUE SOARES

1.2K 139 9
                                    

Luciana estende a mão para mim e eu a obedeço. Diante dos holofotes e centenas de flashes, somos oficialmente e novamente, o casal do momento.

Minha mente vagueia. Tanto para o passado quanto para o futuro. Engulo em seco com a nova realidade. Seria complicado sair dessa enrascada.

O dia ao lado da Catarina e da Ana havia sido perfeito. A alegria que as rodeava era contagiante, o que me fez perceber que o amor e a felicidade não estão relacionados com o dinheiro e o luxo.

Não sou hipócrita. É claro que o dinheiro é útil e ajuda a ter uma vida confortável, mas não é o primordial quando se tem uma família unida e agora consigo perceber que compensava a minha falta de afeto com carros de luxo. Chegava a ser ridículo. Agora, fodam-se os carros! Eu só me preocupava com Catarina e o que ela iria pensar dessa cena patética que estou protagonizando.

Como eu iria explicar mais uma falta? Como iria explicar a ela que estou aqui, de mãos dadas com essa cretina, contra a minha vontade?

Assim que cheguei em casa, encontrei um envelope debaixo da porta principal. Curioso, abri.

Antes tivesse deixado essa merda lá!

Foi aquele típico joguinho sujo, digno de filme de suspense.

Dentro do envelope havia dezenas de fotos e todas elas envolviam a Catarina. Eu empurrando o cara no bar com Catarina; o vestido dela rasgado, deixando sua bunda à mostra; nós dois entrando no Copacabana Palace; uma em que estou falando com a Catarina e o Fábio no saguão do hotel, e diversas fotos da Catarina com a Ana e da Catarina entrando no jornal. Já sabiam de tudo.

Quando esses filhos da puta querem ficar na cola, parecem até que usam uma capa de invisibilidade.

Fiquei puto, revoltado.

Eu poderia não ligar para aquelas fotos, afinal eu poderia ser exposto, mas ela não. Não dessa forma!

As fotos para mim seriam apenas a confirmação da verdade. Eu estava com alguém e dessa vez era sério. Mas aquelas fotos davam outra impressão da Catarina, como se ela fosse uma tiete oferecida. A foto em que Catarina está quase nua e eu caminho colado atrás dela, é a pior. Ela ficaria arrasada. Destruiria sua reputação pessoal também. Catarina não iria querer isso, ela me mataria.

Revoltado, liguei para Jaime, que para minha surpresa, não atendeu. Não era hora de se fazer de difícil!

Peguei o meu celular e procurei por alguma mensagem que informasse o meliante que fez isso. Não havia mensagem nenhuma ali. Primeiro, a pessoa tinha que ter acesso livre ao condomínio para deixar esse envelope sem remetente. E segundo, teria que ter um grande interesse em me foder.

Tentei ignorar as fotos. Eu me arrumei para a festa e fiquei pensando em uma maneira de contar à Catarina sobre elas. Precisava ser sincero com ela antes que a pessoa que estava fazendo isso jogasse ao vento.

Luciana passou pela minha cabeça, mas logo foi ignorada. Ela não faria isso. Não dessa forma tão maquiavélica. Ela não possuía QI suficiente para tramar algo desse tipo.

Como fui ingênuo!

Me fodi outra vez.

Chegando a festa, Luciana já estava me esperando.

— Espero que tenha gostado das fotos. Se você não entrar comigo e amenizar a minha barra, eu colocarei a sua jornalistazinha na merda. Foi um golpe baixo comer a jornalista para evitar chacota na mídia. Foi esse o preço? Mas você não pensou em me poupar, né? Me entregou de bandeja e deixou eu me ferrar sozinha.

Eu já havia sido chantageado antes, mas nunca envolveu alguém que eu amo. Catarina jamais me perdoaria por ver Ana exposta desse jeito. Ela estaria espalhada nos jornais internacionais em questões de minutos.

Naquele momento, não tive saída. Tive que fazer o papel do homem feliz, mostrando a todos a conciliação do casal.

— Sorria, Henrique. Mostre o quanto está feliz — sussurra Luciana em meu ouvido.

— Você me paga, sua cadela — respondo da mesma forma, apertando suas costas e forçando um sorriso.

A enxurrada de perguntas é inevitável e foi respondida pela Luciana com sorrisos e declarações amorosas. Me recusei a responder qualquer uma delas. Eu estava querendo esganá-la. Queria matá-la por estar ferrando o que tinha acabado de conquistar. Catarina logo descobriria e eu teria que arrumar uma solução para toda essa catástrofe. Isso se ela me deixasse chegar perto.

— Vamos entrar? — Ela me puxa diante de inúmeros flashes de fotógrafos

Eu só queria sumir dali.

De repente meus olhos são atraídos para o outro lado do salão. Lá está Catarina, em um vestido vermelho que a deixou espetacular. Infelizmente, o que mais me atrai no momento é o seu olhar. É uma mistura de dor e decepção.

Minha respiração pesa e o meu coração bate descompassado. Eu prometi que não iria estragar tudo e, sujeitar a Catarina e a sua filha à mídia não estava nos meus planos. Eu queria apresentá-la ao mundo como a mulher da minha vida.

Solto a mão da Luciana e começo a andar em direção à Catarina, mas percebo Marlon chegar primeiro e os dois saem do salão.

— Ah, a mocinha está aqui. Que petulância, não? — Luciana percebe onde meu olhar estava preso.

— Cala a boca, Luciana, antes que eu desfaça essa sua mentira ridícula — ameaço, com um ódio mortal.

— Faça isso e a garota será demitida e colocada como a nova puta do soberano.

Fecho meu punho com raiva e me afasto, sem me importar com Luciana sendo deixada para trás.

Cumprimento algumas pessoas, mas sou sucinto. Não estou em clima para papos amistosos. Estava apenas fazendo meu trabalho. Tinha contrato com a marca e participar desse evento era minha obrigação.

Eu estava nervoso. Meus olhos estavam à procura dela, mas no meio de tantos convidados, não a encontrei. Eu queria informá-la de alguma forma que precisávamos conversar e contar toda a chantagem. Só assim ela acreditaria em mim. Meu medo era ela perceber como algumas pessoas jogam sujo para terem o que querem e resolver me deixar. Uma dor acentuada toma conta de mim.

Eu não iria admitir perder Catarina por causa da Luciana. Eu não iria.


TUDO OU NADAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora