Capítulo 25 - CATARINA

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Prezado destino, se não é para mim, por favor, não coloque no meu caminho. Por favor!

As súplicas tinham mudado. Eu não tinha mais escolha.

Receber uma ligação do meu advogado fez meus desígnios mudarem. Mesmo tendo vontade de gritar com ele ao telefone depois da notícia, me contive, afinal ele me fazia um favor em ser meu advogado sem cobrar seus honorários, por ter sido amigo de infância do meu pai. Eu devia respeito a ele e no fundo sabia que um dia isso iria acontecer.

Ontem, depois da ligação do dr. Goulart, eu retornei à sala de reunião e voltei atrás na minha decisão. Todos me olharam com espanto e aliviados. O jornal agradeceria a entrevista com o ídolo do futebol e eu teria de volta o meu precioso trabalho.

Sim, precioso. Agora mais do que nunca eu teria que me manter empregada e quaisquer tostões que eu poupasse teria destino certo.

— Cata, tem certeza disso? Sei o quanto está lutando aí dentro. — Meu amigo aponta para o meu peito enquanto arrumo minha bolsa para a entrevista.

— Você é o único que sabe, Marlon. Não tive coragem de contar para Leandro e Ana. Aliás, Ana não tem idade para isso. Apenas disse ao Leandro que estava passando por um problema e que precisava que ele distraísse Ana o dia inteiro. Dei dinheiro para irem ao shopping assistir a um filme.

— Acho que foi a melhor escolha. Por que não encara isso como um trabalho qualquer? Você vai lá, faz as perguntas e pronto. Fez a pesquisa que Milano pediu?

— Passei a madrugada toda pesquisando a vida dele. Não encontrei muita coisa sobre sua infância e adolescência, apenas sobre a vida profissional.

A noite havia sido longa. Henrique, Henrique e mais Henrique. Fotos e fotos do homem que é o causador das minhas noites em claro.

Os problemas só aumentam e a única solução que encontro é abaixar a cabeça e trabalhar.

— Ele não curte dar entrevistas. Ainda mais para falar da vida pessoal.

— Percebi.

— Você quer que eu vá com você? Posso ser um excelente assistente — diz Marlon me dando um abraço enquanto fecho o zíper da minha bolsa.

— Sei o quanto trabalhou essa semana. Hoje é domingo e você deve ir se divertir.

— Na verdade, eu preciso trabalhar mesmo. Milano tira meu couro, sabia?

Tento sorrir para ele.

— Não aguento ver essa cara de tristinha, Cata. Eu sei que tem motivo para isso.

— Você sabe que não sou uma pessoa que fica lamentando de tudo, mas no jogo da vida eu sou aquele: você perdeu tudo volte ao início.

— Não diga isso...

— Está foda, Marlon! Olha a montanha russa que me encontro. Consegui trabalho, conheci um homem bacana, mas fui fisgada por outro que não passa de um galinha famoso. Preferi largar o trabalho e fui obrigada a voltar porque o dinheiro é a certeza de que a minha família se manterá intacta. Eu prefiro morrer, Marlon, prefiro morrer se algo acontecer com Ana.

— Não vai, Cata! Não vai.

— Não temos certeza disso. Você sabe...

— Eu fico embasbacado com essa justiça de bosta que temos. Como ele conseguiu isso?

— Sete anos. Já se passaram sete anos. Na verdade, eu não entendo também.

— Tem coisas que não entram na minha cabeça.

TUDO OU NADAWhere stories live. Discover now