Capítulo 4

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Anastasia

Quando abri meus olhos novamente, o quarto da noite anterior estava claro. Eu me sentei no colchão macio, minha cabeça girando momentaneamente. Meu corpo estava coberto por uma camisa branca grande e minha calcinha vermelha.

Sem o vestido de ontem, sem sutiã.

Christian me vestiu? Mas para isso ele teria que ter me visto seminua. O pensamento foi o suficiente para revirar o meu estômago e me encher de medo, mesmo ele sendo sem questionamentos o homem mais atraente que eu já vi na vida.

Os eventos das últimas horas nublaram a minha mente e eu estremeci. Pavor saindo de cada um dos meus poros. Puxei o cobertor fofo para o meu rosto da mesma forma que fazia quando era criança nas noites de tempestade.

Era muita informação para ser processada de uma só vez. O sequestro, o tempo que ele me deu, as ameaças a minha família e amiga, a infidelidade deliberada de Jack, o assassinato de um homem diante dos meus olhos. Era tudo demais. Intenso demais, assustador demais, desgastante demais.

— Não fui eu quem trocou a sua roupa. — eu gritei, puxando o cobertor do meu rosto.

Christian estava sentado numa poltrona a poucos passos da cama já perfeitamente vestido em um terno escuro e sem gravata. Não deveriam ser mais que oito da manhã e ele já estava pronto para sair e conquistar o que quer que ele queira - ou talvez sequestrar sem se importar com segundas opiniões -.

— Gail fez isso. — ele continuou, indiferente aos meus olhos indiscretos. — Eu nem sequer estava no quarto, juro. Prometi a você que não faria nada sem o seu consentimento mas não posso mentir para você e dizer que não estava morrendo de curiosidade. — ele deu um sorriso pequeno, quase pecaminoso e meu estômago apertou. — Você estava tão indefesa, tão vulnerável, mas se eu fizesse qualquer coisa você não me perdoaria e nem eu conseguiria me perdoar. — ele deu de ombros e ergue a sombrancelha com divertimento e eu o vi sorrir pela primeira vez desde que nos conhecemos.

Eu olhei para ele com curiosidade e até mesmo admiração. Ele parecia relaxado e satisfeito, como se o fato de ter matado um homem a sangue frio não tivesse peso nenhum sobre ele.

Eu me ergui um pouco mais e me arrastei até a cabeceira da cama, encostando as minhas costas na placa amedeirada e cruzando os braços. O sorriso de Christian cresceu um pouco mais e ele se ajeitou na poltrona, jogando o tornozelo esquerdo sobre o joelho direito.

— Você matou um homem. — eu sussurrei e lágrimas não planejadas embaçaram a minha visão. — Você atirou na cabeça dele como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se tivesse acabado de matar um inseto.

O sorriso juvenil escorreu dos seus lábios em uma fração de segundo e sua animação deu lugar a indiferença. Seus sentimentos e postura mudando num estalar de dedos é no mínimo curioso. Ele ficou assustadoramente frio, me fitando com indiferença.

— Ele traiu a sua família e eu sou a família, consequentemente ele traiu a mim e traição é uma coisa que eu não perdôo, independente de quem a cometa. — ele me deu um olhar firme que não deixou vazão para que eu desviasse os meus. — Acho bom que entenda isso desde agora. Não aceito traição ou desobediência, Anastasia e a lealdade é o que mais importa para mim. Eu entendo que o que houve ontem te assustou, não é a realidade que você está acostumada, mas serão alguns meses pela frente para se adaptar. — ele parou, desviando os olhos do meu para descer pelo meu corpo. — Na verdade eu espero que sejam mais do que alguns meses. Essa será a sua vida daqui para frente como mulher do chefe.

Eu abri a boca para contestar, mas as imagens do que ele é capaz de fazer voltaram a minha mente e acabei por preferir o silêncio ao invés da luta.

Ninety Days Where stories live. Discover now