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Nyx

Devlon sem dúvidas é uma das pessoas que eu mais odeio no mundo. Ter que lidar com ele durante uma tarde toda é um castigo que eu não merecia, não depois daquela semana perfeita no Chalé.

Mas enquanto ele falava e falava, as mesmas baboseiras de sempre, minha atenção estava em outro lugar. Catrin tinha saído estranha daquele ringue, eu não sei o que aconteceu, ou o que as garotas disseram, não sei, mas senti ela estranha, e logo que senti ela olhou para mim de um jeito estranho. Quando perguntei se estava tudo bem ela disse que sim. Óbvio, não acreditei.

Catrin é durona, sabe esconder sentimentos quando quer, característica de tio Az, sem dúvia, mas eu conheço ela a vida toda, e agora que éramos parceiros, conhecia tudo dela, de corpo e alma. Alguma coisa estava a incomodando, e aquilo me deixava incomodado.

Sempre via meu pai e minha mãe, e quanto incomodava ao outro quando alguma coisa acontecia. Um tomava a dor do outro, eu não entendia muito bem até descobrir a parceria com Catrin eu compreendi melhor, e agora que aceitamos o laço, isso é ainda mais forte. Então ela não precisa mentir para mim, eu sabia o que acontecia com ela, no fundo eu sabia.

Tive que me obrigar a prestar atenção no que Devlon dizia, e terminar de dar as ordens necessárias para voltar o mais rápido possível até a antiga casa da minha avó.

Já estava quase anoitecendo quando fui liberado, atravessei até a porta, não estava a fim de andar por Refúgio do Vento. Entrei e busquei ela pela sala, estava vazia.

— Catrin? — Chamei.

Ela não disse nada, talvez não tenha escutado, busquei por sua mente. Batendo seu escudo mental, que cedeu uma brecha para mim.

Está onde amor? — Perguntei.

No quarto onde eu ficava. — Ela respondeu.

Não perguntei mais nada. Mas o tom dela, mesmo em minha mente era diferente. Tinha alguma coisa errada.

A porta estava aberta, então entrei. Ela arrumava algumas peças de roupas em uma bolsa. Assim que notou que eu cheguei, ela sorriu, sorriu fraco.

Ah Catrin... esse não é o sorriso que eu estou acostumado.

— Como não vou ficar mais aqui, pensei em levar algumas coisas de volta a Velaris. — Ela disse mexendo na mala. — Inclusive isso. — Ela ergueu a concha.

— Você se apegou mesmo a isso? — Questionei.

— É claro que sim. Sabe, ainda tenho aquela que você trouxe quando a gente era criança, esta em alguma gaveta do meu quarto na Casa do Vento. — Ela disse. Mas não era totalmente Catrin.

— E essa? Vai deixar onde? — Perguntei.

Ela pareceu pensar um pouco, mas logo respondeu.

— No seu quarto. Até decidirmos onde vamos juntá-las. — Ela sorriu triste.

Será que isso era o que a afligia? Eu não tinha dito que seria muito mais facil ficarmos na Casa do Rio, eu já tinha até meu escritório improvisado lá, apesar de não gostar muito de ficar preso nele. Mas se ela não queria deixar a Casa do Vento, eu me mudaria para lá. Atravessar todos os dias para a Casa do Rio seria fácil.

Ela não pareceu querer prolongar a conversa quando alojou a concha na mala e a fechou. Peguei a bolsa com uma mão e a outra estendi para ela.

— Vamos? — Perguntei.

Ela olhou novamente para o quarto, como em uma despedida. Eu não sabia quais traumas ela carregava daqueles dias na Corte Primaveril sendo rasgada todos os dias. Mas eu sabia que mesmo nas poucas horas de sono que tivemos no Chalé, quando ela se agarrava mais forte a mim e eu sentia seu medo, ela tinha Pesadelos com aquilo, era óbvio que tinha. Ou então não sabia se aquele olhar a fazia questionar sobre ser minha parceira, pois isso era a única coisa que a impedia de voltar pra cá quando voltasse à forma.

A Corte de Asas e EspadasWhere stories live. Discover now