II - 01

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Ela estava naquele lugar escuro e úmido, com aquela correntes estranhas ao redor de seus pulsos. As memórias estranhas e o cheiro de sangue, não seu, mas de sua melhor amiga, o som dos gritos dela ainda percorrendo seus ouvidos.
Ao olhar para o lado, os olhos azuis dela estavam vazios.

— Catrin. — Ela chamou.

Catrin, a parceira de seu irmão não respondeu.

— Catrin, por favor, por favor. — Ela chamou de novo, sem conseguir tocá-la.

— Apenas diga que eu amo ele, amo ele... — Catrin disse com dificuldade e então deixou aquela luz dentro dela se apagar.

— Catrin, por favor, não, não, ele nunca vai me perdoar por ter deixado você ir, não por minha causa, por favor, por favor. — Ela gritava e chorava tentando alcançar a amiga.

Ela se curvou sobre seu corpo, soluçando. Sua amiga tinha morrido, morrido, como ela poderia continuar viva? Como ela contaria a todos o quanto ela foi inútil ao defender ela? Como transmitiria as últimas palavras de Catrin a Nyx? Ela era inútil, não adiantava ser filha de pessoas poderosas, não adiantava ter todos aqueles títulos se quando alguém precisou de sua ajuda ela não fez nada.

Naquele poço de desespero, ela sente mãos grandes e quentes em seus ombros erguendo-a.
Ela se virou apenas para encontrar olhos esmeralda brilhando naquela escuridão, mas não eram os olhos de Tamlin a levando para a escuridão, eram os olhos de Thalis, passando uma sensação de conforto.

— Ela se foi, você não pode fazer nada. Vamos sair daqui. — Ele disse com aquela voz que lembrava a primavera.

Ela devia odia-lo, ele deixou Catrin morrer, o pai dele matou Catrin, quase matou sua mãe, matou sua tia e sua avó. Ela devia odiar Thalis, mas talvez pelo cansaço de tudo aquilo, ou pelo conforto qua voz de Thalis trazia, ela deixou se levar.

.....

Adyra acordou se sentindo grudenta devido ao suor. Um pesadelo, outro pesadelo. Ela se sentou e concentrou-se na respiração, acalmando se corpo, assim como suas tias tinham ensinado durante seus treinamentos na Casa do Vento. As Valquírias tinham mostrado a ela como se controlar, ela podia, podia controlar o pânico.

Mas nada controlava a tristeza e o pesar que se seguia após cada sonho. Eles eram sempre assim, Catrin ferida ou morta, e ela sendo impotente quanto aquilo, sem poder fazer nada, sem evitar porque ela simplesmente tinha sido teimosa demais para treinar seus poderes e treinar luta. Tola e fraca era como se sentia, mesmo 10 anos depois, mesmo agora podendo ser considerada uma guerreira, treinada como uma por espadas e poderes, ela se tornara uma arma, e jamais deixaria as pessoas que ela mais amava se machucarem por ela estar indefesa, nunca.

Mas havia ainda a questão dos olhos verdes e da voz reconfortante que sempre a atingia, de diversas formas falando diversas coisas, mas era comum, ela sempre acordava quando aquela voz aparecia.
Desde a festa de todos os Grão-Senhores 10 anos atrás, ela jamais vira Thalis outra vez. Não queria enfrentar aquilo. Não se sentia pronta. Na inauguração da cidade dele, Floretta a 7 anos, onde a Corte Noturna foi convidada de honra ela cogitou a ir, estava indo se vestir quando perdeu a coragem e deu uma desculpa esfarrapada qualquer para não aparecer.

Depois da última sequência de respiração a luz do dia já entrava pela janela, ela se levantou e foi até o banheiro e encheu a banheira, tirou a camisola grudada em seu corpo e jogou em um canto do cômodo.
Ela mergulhou na água com sais de banho, tirando o suor da noite, lavando os cabelos.

Não iria treinar naquela manhã, mas vestiu uma calça de couro, com uma blusa leve. Penteou o cabelo e desceu para o café da manhã.

Ao chegar na sala de jantar, apenas sua mãe estava a mesa.

A Corte de Asas e EspadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora