two - the beast

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A Besta

Meu instinto falando para proteger minha família fez com que eu pegasse uma das facas de caça, e empurrasse Feyre para trás. Ousei olhar por cima do ombro. Nestha e Elain gritavam, ajoelhadas contra a parede da lareira, e nosso padrasto estava agachado diante delas. Feyre continuou do meu lado, uma faca também estava em sua mão. 

A besta devia ser tão grande quanto um cavalo, e, mesmo tendo o corpo mais ou menos felino, a cabeça era distintamente lupina. Eu não sabia o que pensar dos chifres curvados como os de um cervo que despontavam da cabeça. Mas leão, cão ou cervo, não havia dúvida dos danos que as garras pretas as presas amareladas poderiam infligir. Em um movimento a criatura se apoiou nas patas traseiras e gritou: 

— ASSASSINOS!

Muita coisa rondava minha cabeça. A mercenária, a floresta, os lobos, Feyre, Nestha e Elain. Mas, apesar de tudo, só consegui concentrar em uma coisa. Era um feérico na minha frente, um feérico transformado, talvez até mais letal que sua verdadeira forma. E, se eu ainda amasse muito a mísera vida que tinha e minhas irmãs, não poderíamos tentar matá-lo. Não se mata um Grão-Senhor.


— Querida, espero que esteja preparada — falou minha mãe, enquanto pegava uma apostila e abria em alguma página para mim. 

Tinha 5 anos, Nestha – com seus 2 anos –  e Elain – que ainda nem havia completado um ano – deveriam estar com alguma babá, ou com o pai delas. Minha mãe podia falar que amava nós igualmente, mas havia algo em seu olhar sempre que olhava para mim. Paixão, paixão verdadeira. Diferente do pai das minhas irmãs, que poderia falar que me amava, mas seu olhar sempre demonstrava que faltava algo. 

Sabia que ele não era meu pai. Minha mãe sempre deixou claro quem eu realmente era, da onde eu realmente eu vim. Meus olhos azuis e cabelos branco-azulados não davam para esconder, então quase não saia de casa e, quando saia, era comum escutar a desculpa que eu tinha um tipo de doença, mas que já estavam cuidando de tudo. 

— O que vamos ver hoje, mamãe? — adorava as mini aulas que ela me dava. Adorava poder escutar um pouco mais sobre meu povo. 

— Grãos-Senhores, querida — franzi o cenho. — Existem sete cortes, cada uma governada por um Grão-Senhor. 

— Primaveril, Outonal, Estival, Invernal, Crepuscular, Diurna e Noturna. 

— Se lembra de qual seu pai veio?

— Da Estival e Invernal. Seu pai era da Estival e sua mãe da Invernal. Ele tinha o poder da água e do gelo, mamãe, e é por isso que eu tenho também.

— Sim! Correta, como sempre, meu amor. Mas não se esqueça que você também consegue mudar sua aparência. Continue treinando, ok? Adoro seus olhos, seu cabelo e suas orelhas meio pontudinhas, amor, mas isso aqui pode ser um perigo. É como se você fosse muito feérica para esse lado da muralha, mas muito humana do outro.

Faço que sim com a cabeça, indicando que havia entendido. 

— Hoje vamos falar da Primaveril.


Se minhas aulas estavam certas, aquele era para ser Tamlin, Grão-Senhor da Corte Primaveril.

— ASSASSINOS! — rugiu a besta de novo, os pelos eriçados.

— P-por favor — balbuciou meu padrasto atrás de mim, incapaz de encontrar forças para ficar ao meu lado. — O que quer que tenhamos feito, foi sem saber, e...

Corte de Amores e Segredos - Versão AntigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora