eleven - what are you?

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O que você é?

No dia seguinte, nosso almoço se tornou café da manhã. Lucien esfregava as têmporas a cada segundo, e quase perguntei como Feyre não estava fazendo o mesmo. O ruivo e minha irmã trocavam as provocações de sempre, Tamlin tinha os olhos mais focados em Feyre, e eu comia quieta; falando algo quando necessário ou apenas soltando um riso baixo. Todos pareciam ter se acostumado com isso. 

Não sei como chegaram no assunto, mas voltei a presta atenção na conversa quando a Corte Invernal foi mencionada.

— Não quero ser o portador de notícias muito ruins, mas meu contato na Corte Invernal conseguiu enviar uma carta para mim. — Lucien tomou fôlego para se acalmar. O sorriso sumiu imediatamente do rosto de Tamlin. — A praga — falou Lucien, baixinho. — Ela abateu duas dúzias de suas crianças. Duas dúzias, todas se foram. — Ele engoliu em seco. — Simplesmente... extinguiu a magia delas e, depois, destruiu suas mentes. Ninguém na Corte Invernal pôde fazer nada, ninguém conseguiu impedir depois que a praga se concentrou nelas. O luto deles é... imensurável. Meu contato diz que outras cortes estão sendo atingidas seriamente, embora a Corte Noturna, é claro, consiga permanecer ilesa. Mas a praga parece estar enviando sua maldade para este lado, mais para o sul a cada ataque.

O pouco de alegria que existia naquela mesa sumiu. Não conhecia nenhuma das crianças que haviam morrido, mas pensei se não existia um jeito de honrá-las. Encarei o prato a minha frente, as palavras de Lucien ecoando na minha mente. Extinguiu a magia delas e, depois, destruiu suas mentes.

— A praga pode... pode mesmo matar as pessoas? — Feyre perguntou, terror em sua voz. 

— Não — murmurei, tão baixo que ninguém ouviu. Não fiz questão de falar novamente, mas completei o pensamento à mim mesma. A praga não é como eles falam. A praga não pode matar as pessoas, porque são feéricos que matam. 

— A praga é capaz de nos ferir de modos que você... — Tamlin parou de falar e levantou-se rapidamente, a cadeira caindo no processo. As garras reluziram na luz do sol e ele grunhiu para a porta aberta. 

A casa havia ficado silenciosa, tudo ao redor estava quieto – como se nem os passarinhos pudessem cantar mais. 

Lucien e eu levantamos, ele logo sacou a espada e eu segurei Feyre pelo cotovelo e a levantei. Meus sentidos começavam a voltar, aos poucos, mas voltavam. O paladar, o olfato, a audição. Todos voltavam, como se as poucas vezes que soltei a rédea da minha magia fossem o suficiente para espantar qualquer parte humana minha. E eu senti, senti algo extremamente poderoso e letal andando por aqueles corredores, em direção a sala de jantar. 

— Leve Feyre para a janela, perto das cortinas — grunhiu Tamlin para Lucien, os olhos ainda fixos na porta. 

Um breve olhar para Lucien foi o suficiente para eu escolher o que fazer. Deixei minha magia se libertar, as orelhas meio pontudas, os olhos azuis e algumas mechas de cabelos branco-azulado, surgindo. Senti o olhar surpreso de Tamlin em mim, talvez por ver o que estava fazendo ou por mesmo assim ele não sentir cheiro nenhum.

O ruivo pressionava Feyre contra a parede, jogando um encantamento para que ela se tornasse parte dele. Ficasse invisível a quem aparecesse ali. As garras de Tamlin sumiram no mesmo tempo que o boldrié de facas apareceu em seu peito. 

Os passos no corredor ficavam mais altos, Tamlin começou a limpar as unhas e Lucien, ainda segurando a espada – mesmo apontada para o chão – fingiu que olhava pela janela a fora. 

— Temos que tirar o prato...

Mas não consegui terminar, porque a pessoa já estava do outro lado da porta; tive tempo apena de sentar e controlar, minimamente, minha respiração. 

Corte de Amores e Segredos - Versão AntigaWhere stories live. Discover now