twenty two - i can rest now

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Eu posso descansar agora

Meu coração estava estranhamente calmo quando a porta da cela foi aberta. Rhys havia conseguido se esgueirar para dentro da cela uns minutos antes já que agora ele sabia onde eu estava e Amarantha havia o liberado de sua espécie de confinamento. Nossa conversa não foi mais alta do que sussurros, algumas vezes apenas pelas nossas mentes – quando sentíamos alguém passando pelo corredor ou apenas para deixar certas coisas para nós –. Os último momentos de paz que eu sabia que teria. 

Ainda vestia a túnica e a calça da segunda tarefa. Elas estavam manchadas e rasgadas, e eles pareciam adorar isso. Os guardas me escoltaram até o salão do trono, nunca me relando – um breve lembrete que a ordem de Rhys ainda funcionava –, mas perto o suficiente para que eu não tentasse nada. 

Encontramos Feyre em um dos corredores e a única coisa que me impediu de abraçá-la foi os dois guardas que entraram na minha frente. Sua roupa parecia pior que a minha e ela parecia mais magra do que eu, e desejei do fundo de mim que aquela música que eu escutava também tivesse chegado a ela. Mas ainda assim meu coração permaneceu calmo, não importava o que acontecesse, era como se ele abraçasse com agrado o futuro incerto. 

As portas do salão se abriram e, diferentes das outras vezes, foi o silêncio que nos recebeu. Nenhuma provocação ou grito, nenhum ouro reluzindo conforme os feéricos faziam apostas, apenas o silêncio. Eles nos encarando quase como se pudessem ver através de nós, os mascarados ainda mais atentos. 

Esse mundo estava em nossas mãos. Todo o futuro deles dependia de mim e Feyre, se conseguiríamos terminar a terceira tarefa – o enigma há muito esquecido. 

Alguns dos feéricos levaram os dedos aos lábios e depois estenderam as mãos para nós; era um gesto para os caídos, um adeus aos mortos honoráveis. Algo simbólico para todos, igual deixar a água levar o corpo morto era simbólico para a Corte Estival. Conforme andávamos eles abriam caminho, direto até o trono e Amarantha. Tamlin ocupava seu lugar de sempre, o rosto inexpressivo, e a rainha sorriu quando paramos ao lado do trono. 

— Duas tarefas vocês já deixaram para trás — disse Amarantha, limpando um grão de poeira do vestido vermelho-sangue. A coroa dourada reluzia quase sumindo no meio dos cabelos ruivos. — E falta apenas uma. Imagino se será pior fracassar agora, quando vocês estão tão perto. — Ela fez um biquinho, e todos esperamos as gargalhadas dos feéricos. 

Mas poucas gargalhadas saíram dos guardas de pele vermelha. Todo o resto permaneceu em silêncio, até mesmo os irmãos de Lucien; até mesmo Eris, que jurei que riria depois do que eu havia feito. Mas todos eles enfrentariam nossa potencial morte com o resto de dignidade que lhes restava, porque se não conseguíssemos realizar a terceira tarefa, Feyre e eu havíamos sido apenas uma faísca em comparação a explosão que seguiria depois. 

Amarantha olhou para o público com raiva, mas quando seu olhar recaiu sobre nós, ela deu um sorriso largo, amável. 

— Alguma palavra antes de morrerem? Podemos começar com você, Feyre. 

O silêncio era tanto que parecia ser possível escutar a mente de Feyre trabalhando. Pensando em inúmeras coisas para dizer, nenhuma sendo realmente importante agora. 

— Amo você — declarou, seus olhos fixos em Tamlin. — Não importa o que ela diga a respeito disso, não importa se é apenas meu tolo coração humano. Mesmo quando queimarem meu corpo, vou amar você. — Seus lábios tremeram e lágrimas começaram a descer pelo seu rosto, Fey não fez questão alguma de secá-las. A imagem da minha irmã chorando me deixou mais perto de desabar. 

Tamlin continuou em seu estado deplorável; nem mesmo reagiu nem apertou o braço do trono como costumava fazer. Se aquela era a forma dele suportar tudo isso, ele morreria dentro dessa montanha. 

Corte de Amores e Segredos - Versão AntigaWhere stories live. Discover now