twenty - we were supposed to be dead

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Era para estarmos mortas

A segunda tarefa seria na próxima noite, com todos os bailes – ou entretenimento noturno como alguns gostavam de chamar – e dores que surgiam no dia seguinte, eu havia perdido a conta dos dias; só descobrindo sobre a tarefa graças a arrogância de Rhysand.

O vestido azul cobalto reluzia no meio da multidão que nos encarava quando chegamos no salão do trono. Corrigindo, não nós, mas Rhysand. Era para ele que olhavam, era ele que os irmãos de Lucien vigiavam; e era ele quem Amarantha convocou. Conforme caminhávamos em direção ao trono, a multidão se abria como se estivéssemos pegando fogo, revelando um Grão-Feérico de pele marrom chorando no chão diante do altar. 

Não foi necessário mais que um olhar de Rhys para eu segurar a mão de Feyre e levá-la até o limite da multidão. Não olhei para Amarantha, apenas continuei com a atenção fixa no feérico e na sensação de que o conhecia. 

— O pequeno senhor do verão — disse ela sobre o macho aos seus pés — tentou escapar para as terras da Corte Primaveril. Quero saber por quê.

O feéricos se encolheu ainda mais quando Rhys colocou as mãos nos bolsos e se aproximou, e quis gritar para que ele se levantasse, para que ele não abaixasse a cabeça para a vadia ruiva. As roupas surradas deixavam claro que não era de alguma cidade rica da Corte, mas de um lugar como o que eu vim, onde você precisa que as pessoas apreciem o que você faz ou que alguém te ajude. Um pequeno vilarejo de cinco, seis casas, onde mesmo que não se há riqueza a esbanjar, há felicidade transbordando, há amor.

Os ombros de Rhys estavam relaxados, nenhum centímetro de roupa no lugar errado, mas ele havia tomado a mente do feérico quando o mesmo parou de tremer no chão. O Grão-Feérico que estava de pé no limite da multidão ficara imóvel também, e a mais verdadeira dor brilhou em seus olhos. A Corte Estival havia se rebelado, então o macho de cabelos quase brancos, olhos azuis como o mar e a pele do mais rico tom de mogno, era o novo Grão-Senhor da Corte; e ele já precisava fazer escolhas que custava vidas.

— Ele queria escapar. Chegar à Corte Primaveril, atravessar a muralha e fugir para o sul, para território humano. Não tinha cúmplices, e nenhum motivo além da própria covardia patética. — Rhys indicou com o queixo a poça de urina sob o macho. Mas, pelo canto do olho, vi o Grão-Senhor da Corte Estival fraquejar um pouco. Aquela não era a verdade. 

O feérico levantou a cabeça e mais uma vez tive a sensação de conhecê-lo. Procurei inutilmente na minha própria mente algo que pudesse me dizer onde o tinha visto, mas não adiantaria de nada, não mudaria a morte que ele certamente teria. 

Amarantha revirou os olhos e relaxou no trono. 

— Toda essa história de Corte Estival e Primaveril me faz lembrar de uma em específica. Deve fazer 25 anos já, mas o jeito que o macho havia implorado para não morrer foi como música. 

 Os olhos verdes do feérico me encararam e dor, até um pouco de admiração, brilhou em seus olhos. Um pequeno sorriso, imperceptível se não prestasse atenção, surgiu em seu rosto e ele pareceu relaxar. Quis correr e abraçá-lo, segurá-lo até que a morte chegasse. Mas não o fiz, continuei ao lado de Feyre, segurando as pequenas lágrimas que ameaçavam surgir.

— Era um macho e uma criança, nem devia ter um ano, e ele havia implorando falando que não estavam fugindo, que tinha uma filha em casa que o esperava — continuou a ruiva, e desviei o olhar do feérico para encará-la, reconhecendo os personagens da história. — Bem, eu deveria ter acreditado. Era um vilarejo na Estival perto da fronteira com a Primaveril que ele morava. No dia seguinte, duas mulheres saíram da casa: uma de cabelo castanhos e uma de cabelos azuis; mãe e filha. — A verdade me atingiu em cheio. Eu conhecia os personagens daquela história, eu era a filha. — A última coisa que ele chamou foi gotinha, aparentemente era a filha. Não posso dizer que sinto muito — o olhar de cobra que Amarantha deu foi o suficiente para me fazer aguentar um pouco mais. Ele havia os tirado de mim, e eu tiraria a vida dela.  — Destrua-o, Rhysand. — Ela fez um gesto com a mão para o Grão-Senhor da Estival. — Você pode fazer o que quiser com o corpo depois.

Corte de Amores e Segredos - Versão AntigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora