Ela não é humana
Depois de um vago encontro com Lucien na imensa sala de jantar, em que ele passou mais tempo alfinetando eu e Feyre e se perguntando como duas humanas como nós poderia ter matado feéricos como Andras e Ankor, segui uma criada até onde seria o quarto em que passaria o resto de meus dias. Talvez meu lado humano fizesse com que eu tivesse uma vida até os 80 anos ou um pouco mais, mas talvez meu lado feérico resolvesse agir e eu teria que sobreviver por mais de 500 anos em uma terra de primavera eterna, e sem minhas irmãs.
Provavelmente Tamlin havia tentando usar glamour em mim para evitar que eu percebesse que a criada, descobri mais tarde se chamar Lene, tinha uma pele parecida com casca de árvore. E se ele havia feito essa tentativa idiota significava que ainda não sabia o que eu era, e, enquanto pudesse, usaria isso ao meu favor.
Deixei Lene me ajudar no banho e a colocar o vestido que havia separado – roxo com algumas flores bordadas na barra e nas alças, justo no busto e se abrindo em uma saia rodada a partir da cintura. Havia passado tantos anos sem tocar em algum vestido que tinha me esquecido da sensação que era usá-los, lembrava de minha mãe contratando os melhores costureiros para fazer os meus vestidos e os das minhas irmãs.
— Como quer seu vestido, querida? — perguntou minha mãe enquanto uma mulher tirava minhas medidas e outra as anotava. Feyre em seu colo, brincando com algumas mexas que caia do coque. Nestha e Elain estavam esperando sentadas em um sofá ao meu lado.
— Preto. Com um tule transparente e estrelas prateadas.
— Já pediu esse da última vez, Lay. E da anterior a essa — Nestha resmungou.
— Eu sei... Mas é que uma noite estrelada sempre aparece nos meus sonhos — acrescento mentalmente que há sonhos em que uso um vestido igual ao que sempre peço. — É apenas uma forma de traduzir esses sonhos a algo real.
— Faremos esse vestido, querida. Faremos quantas vezes você quiser. Mas como imaginei que você o pediria, já havia deixado isso preparado. Peça outro também.
— Um azul, parecido com meus olhos.
Ainda tinha meus olhos azuis, por mais que meu cabelo já fosse castanho-dourado igual o de minhas irmãs.
— Escutaram então — minha mãe diz, se dirigindo as costureira. — Um vestido azul igual aos olhos da minha mini rainha.
Sorri com o elogio. Um olhar a minha mãe e vi que ela fazia o mesmo.
Paro no corredor, a espera de Feyre, quando escuto uma conversa vindo do andar de baixo. Tento reconhecer as vozes, talvez já fosse hora de voltar a treinar meus poderes feéricos, passado alguns segundos começo a perceber a voz de Tamlin e Lucien.
— Trouxe duas, talvez a chance de acabar com toda essa merda seja maior — era Lucien que falava. Sua voz tinha mais acento que a do de cabelos dourados.
— Não — retruca Tamlin. — Só uma chance, na verdade. Seja o que for, a mais velha não é humana. Pelo menos não completamente.
— Não sentiu nada que pudesse indicar o que ela é?
— Não. Nem no cheiro nem com magia, o que quer que seja, ela sabe esconder.
— E ela foi bem clara quando disse humana — Lucien resmungou.
Faço uma nota mental de não tirar a magia de transformação de mim, não podia arriscar deixar com que vissem meus olhos azuis, a cor de nascença do meu cabelo ou minhas orelha meio pontudas.
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Corte de Amores e Segredos - Versão Antiga
FantasyQuatro irmãs. Duas caçando para sobreviver, duas aproveitando o que tivessem. Uma maldição. Duas delas levadas às terras feéricas. Uma se apaixona pelo Grão-Senhor, outra segue sonhando com as estrelas e belos olhos violetas. Uma montanha. Um Grão-S...