twenty one - no, one it's enough

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Não, um é suficiente

Dois dias. Era isso que faltava para a última tarefa. Era isso que faltava para uma vida nova, não minha, mas de Rhys, Lucien e Lene, até Feyre. Porque era isso, também, que faltava para o que eu sabia ser minha morte. 

A música que vinha de algum lugar da montanha continuava tocando, o que estavam comemorando eu realmente não quis saber, quando o guarda finalmente abriu a porta pela primeira vez no mês todo. A comida – pior que o de costume – apenas surgia dentro da cela, como Rhys fazia antes, só que não era ele que fazia isso; eu simplesmente sentia que não.

Pensar nisso ainda doía. Rhys e nem ninguém fora me ver, e eu não faço a menor ideia de como esta Feyre. Se está na cela de antes ou em uma como a minha, se já não havia enlouquecido aqui dentro, se ela também podia escutar a música que me mantinha viva dia após dia. 

— Levante — ordenou o guarda, um sorriso zombeteiro no rosto. Eu poderia estar ficando pior a cada dia dentro dessa montanha, mas ainda tinha raiva no meu corpo para tirar o sorriso da cara dele a força. — Parece que Sua Majestade teve piedade e deixou você ver alguém antes da tarefa. Uma única vez.

Rolo meus olhos. Grande piedade.

— Mande ela ir se foder. Não preciso de piedade.

— Jura? — seus olhos passam por meu corpo. Eu estava magra demais. Ossos que não deveriam ficar perceptíveis pareciam ter uma sinalização grudada. — Jurei que precisasse. — Ele solta uma risadinha e está quase fechando a porta quando a curiosidade me vence. 

— Quem quer falar comigo? 

— Terá que vir para descobrir. 

E mesmo com a sensação de que me arrependeria, que valeria mais a pena continuar na cela, eu o segui. A esperança de ver quem eu considerava minha casa maior que qualquer outra coisa. Eu apenas precisava vê-los, saber que todos estavam bem. Vivos. 

Passamos por corredores escuros, sem uma única iluminação, como se não quisessem que eu decorasse o caminho – o que estava dando certo, já que eram todos iguais e com inúmeros outros corredores –. Já não sabia por onde tinha vindo, e se me jogassem sozinha ali dentro duvido que conseguiria chegar em algum lugar, quando paramos na frente de uma porta.

A porta havia sido entalhada com padrões do que lembravam chamas, seria bonito se não estivesse em um lugar como Sob a Montanha. O outro lado estava vazio e nenhum resquício de luz vazava das frestas da porta, eles deveriam acreditar que eu não enxergaria – o que em partes estaria certo se eu não tivesse minha parte feérica – e que isso me assustaria – também não estava errado. 

Antes mesmo dos guardas abrirem a porta e me jogarem dentro da sala o arrependimento me atingiu. Era óbvio que não seria ninguém que eu esperava, Amarantha não era piedosa. Ela nunca faria isso. 

A sala era escura, como o resto dos corredores deste lado da montanha, e se não fosse pelo forte cabelo ruivo que se destacava na escuridão, acharia que estava sozinha ali. Pensei que fosse Lucien e quase agradeci a Mãe por poder vê-lo, mas quando me virei para encará-lo direito lembrei a mim mesma que era impossível ser ele. Os dois olhos eram vermelhos, nenhum metálico, e o rosto estava livre de máscara. 

— Poderia, pelo menos, fingir estar feliz — a voz era áspera e meu corpo se arrepiou com o calafrio que passou por mim. — Precisamos nos apresentar formalmente ou você já sabe meu nome? 

Continuei calada enquanto ele movia as mãos com tédio e pequenas luzes feéricas se acendiam. A sala tinha uma mesa no meio, uma cadeira vazia e a cadeira que o ruivo estava sentado. Tudo em preto e meio rústico. 

Corte de Amores e Segredos - Versão AntigaWhere stories live. Discover now