Capítulo 13

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Alfonso Herrera

  Foi difícil, mas ninguém falou que seria fácil. As vezes a vida precisa lhe da um sacode para vê se você acordar e percebe o que tem de mais precioso.

  Quando eu achei que finalmente teria, a perdi. Eu tive um amor, um amor de verdade, não aqueles que achamos que é amor, aqueles que as coisas mais básicas nos irritam, quando só tem briga ou quando sabe que não é feliz, mas está ali por comodismo.

  Foi um amor de infância, daqueles com felicidades repentinas, sorrisos trocados, olhares que falavam mais que a boca e palavras que jamais foram ditas.

  Mas quando se perde, parece que tira o seu chão. Parece que o destino quis lhe da uma rasteira e no melhor momento da sua vida, te puxa o tapete fazendo com que caia de bunda no chão.

  Mas de tudo, sobrou um fruto, uma criança que sempre mereceu ser amada e merece ser, que de todos, foi o mais inocente. Nunca errou, não erra e vai errar quando já tiver idade suficiente para cometer erros... Assim como eu.

— Não esqueça de o trazer no horário certo. - A velha que eu mais odiava se pós em frente a porta.

— Eu já sei disso, a mais de 7 anos.

  Ela me olhou com aquele olhar de peixe morto dela, me encarando desconfiada. A mesma estendeu a mão e como sempre, fui extorquido, ela realmente não conseguia viver só com a aposentadoria?

  Peguei o cheque, que sempre ficava no mesmo local e lhe fiz a transferência do valor, esse era o preço que pagava para passar menos de três horas com a pessoinha que mais amava.

  A mesma examinou o cheque, da mesma forma que os caixas de supermercado avaliam para saber se a nota não é falsa. Fechou a porta na minha cara e gritou:

— Frederico desça imediatamente, Alfonso está aqui.

  Escutei passos rápidos, um pulo e algumas broncas.

  O menininho loiro, banguela e de olhos verdes abriu a porta e pulou no meu colo.

— Você veio. - Abraços minhas pernas.

— É claro que eu vim. Final de semana passado eu não pude porque estava em uma viagem de trabalho. Mas como prometido, trouxe seu presente.

— Não acredito, você está falando sério?

— Claro! Como eu poderia não trazer? Seu pedido sempre será uma ordem.  - Lhe estendi um pacote.

— Eu finalmente vou ter um vídeo game? Ta falando sério?

— Claro que estou, abra.

  Antes do mesmo tocar no presente, me deu mais um abraço e sentou no chão para abrir.

— Isso vai gastar muita energia, você sabe que Robert usa aparelhos, definitivamente terá que aumentar a sua contribuição.

  A velha rabugenta reclamou, como sempre, mas além disso atrapalhou o momento mágico de uma criança abrindo seu primeiro vídeo game. Ela também só esqueceu de mencionar que os tais "aparelhos" de Robert é um massageador que eu comprei, porque ela vivia reclamando de dores nas costas e que assim, não poderia levar Fred até a escolinha de futebol.

— Fique despreocupada Margô,toda e qualquer responsabilidade que envolva Fred eu pagarei, nem que seja uma contribuição simbólica na conta de energia.

— Simbólica não, isso gastará mais que a nossa televisão. Terá que ser metade. - Empinou o nariz.

— Ok Margô, pagarei metade.

  A mesma fez cara de nojo e trancou a porta, deixando nos dois sozinhos (finalmente) na varanda.

  Me sentei ao lado do pequeno que agora olhava para o além, pensativo. Tinha apenas 7 anos, mas já fazia perguntas e tinha a inteligência de uma criança de 14 anos.

— A vovó disse que vc não veio final de semana passada pq eu falei palavrão. E disse que ninguém gosta de ficar perto de menino com a boca suja.

— Primeiro que eu jamais deixaria de te visitar, eu te amo e não seria um palavãozinho que faria eu me afastar de você. E segundo que você é apenas uma criança, fala o que ouve, já sabe que é errado então não vai repetir, não é?

— Não vou, ainda mais depois do castigo dessa manhã. Acredita que ela me deixou sem livros de colorir?  - Ri com a sua indignação genuína.

— Eu imagino. Mas eu quero que vc me prometa que jamais vai acreditar no que ela te dizer sobre mim. Eu venho porque te amo e sempre virei. O final de semana passado só foi um imprevisto e você não fez absolutamente nada.

  Ele sorriu para mim. Com aquele sorriso banguela que eu tanto amo.

— Ela me deu os diários da mamãe, disse que já estou grandinho e que tenho que descobrir a minha verdadeira história. Para ser sincero, eu não entendi nada do que ela disse. - Sorriu. Engoli em seco.

— Posso ver?

— Claro, vou pegar. - Saiu correndo para ir a porta dos fundos e entrar na casa.

  A lembrança de Suzie na calçada escrevendo seus diários invadiu minha mente. Acho que a primeira vez que percebi ela no bairro, foi exatamente assim. Sentada na varanda escrevendo.

  Fred puxou a ela, sempre gosto de ler, de escrever e de desenhar. Suzie tinha os melhores desenhos e alguns poemas tolos, mas que expressavam todos os seus sentimentos.

  Ainda lembrava de seu perfume doce igual balinha e seu gloss sabor tangerina, que ela sempre insistia em passar em mim para hidratar "meu lábios" rachados. Engraçado pensar que hoje em dia, Fred tem o mesmo costume, vive passando manteiga de cacau, pois segundo ele "homem só é bonito quando é vaidoso"

  Quem lhe disse isso foi sua coleguinha de escola por quem ele é apaixonado. As vezes me vejo nele, quando eu fui apaixonado por sua mãe...

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Sentiram saudades? Kkkk.

Passando com mais um capítulo da minha historinha autoral só para informar que faltam menos de 1 mês para eu entrar de férias, ou seja, logo voltarei a postar aquiiii.

Mas antes disso, fiquei com saudades e resolvi postar um capítulo meio enigmático. Quem será Suzie? Fred?

Qual é a aposta de vcs? Comenteeeem.

Até logo❤

-Babi😙

Brincando Com FogoWhere stories live. Discover now