Capítulo 21

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Anahi Portilla

  Eu esperava pelo pior, o restaurante não tinha a melhor classificação nos recomendados do Google. Já havia passado muitas vezes na frente, mas ouvi alguns colegas de trabalho falando que era mal frequentado.

  Mas impressionantemente, eu me encantei com o mesmo. Era um lugar limpo, bem iluminado, com uma decoração parisiense - mesmo que o nome e a comida fosse majoritariamente italiana - e tinha um cheiro bom de molho de tomate caseiro. Além de que a maioria das mesas e balcões estavam ocupados por casais sorridentes, simpáticos e aparentemente felizes.

  Trazia até um ar de esperança para quem havia acabado de passar pelo que eu passei.

  Eu olhava distraída pela decoração meio exótica do restaurante quando meus olhos pousaram em um casal não tão simétricos. Ela era alta demais, branca demais, magra demais e usava um batom vermelho demais, já ele era baixinho demais, bigode grande demais e olhos pequenos demais. Acho que ela percebeu que eu os encarava, alargou o sorriso com um dos dentes da frente sujo de batom e acenou para mim. Como não sabia se era realmente para mim, não devolvi o aceno.

— Como você conheceu esse lugar? Já viu que a recomendação no google não é dos melhores? - Me sentei a sua frente.

— Essa história é interessante - Seu sorriso alargou enquanto também se sentava - Eu namorava uma garota que morava a alguns quarteirões daqui, quando ela me deu um pé na bunda eu vim afogar as mágoas. Ela não gostou muito, aqui é meio... diferente. Sim diferente, essa é a palavra. - Sorriu.

— Você recebendo pé na bunda? Para mim isso é novidade. - Sorri levemente.

— Prefiro que você pense assim. - Sorriu e chamou o garçom.

  O garçom sem perguntar o que queríamos, colocou duas cervejas a nossa frente e um pratinho com amendoins molengos.

— Eu nem tomo cerveja. - Empurrei a garrafa na direção de Alfonso.

— Aqui é assim, para eles, você tem que tomar cerveja. Mas podemos pedir um vinho para você. Que tal? - Deu de ombros.

— Estou bem. Acho que já bebi o suficiente hoje.

  Olhei em volta e mais alguns casais sorriram para mim.

— A comida tem um cheiro delicioso, além das pessoas parecerem bem amigáveis. - O encarei de volta.

  O sorriso de Alfonso alargou mais.

— Aqui é um restaurante de swing.

  Meus olhos arregalados instantaneamente.

— O que?

— É um restaurante frequentado por pessoas do swing, sabe, troca de casais. - Deu de ombros - A primeira vez que vim também não sabia, todos pareciam felizes quando me viram. Mas fique despreocupada, ninguém vai ser incoveniente com você. Se um casal gostar de você, ou melhor, de nós dois, eles irão acenar e se você retribuir o aceno eles se aproximam para conversar.

  Eu estava incrédula, dois casais haviam acenado para mim a menos de dez minutos que estavamos no restaurante.

— Por que diabos você me trouxe aqui? - Dei mais uma boa observada nos casais, alguns estavam comendo, mas mesmo assim, não perdiam a oportunidade de acenar - Essas pessoas acham que somos um casal e o pior, que fazemos troca.

  Alfonso sorriu alto. Mas o som da música o abafou.

— Sim, eu sei. Mas achei que seria engraçado trazer você que é tão antiquada para um restaurante de swing.

— Você tem problemas, Alfonso. - Tentei, mas não consegui esconder o sorriso.

— A comida daqui é maravilhosa e outra, ninguém aborda ninguém a menos que você retribua o aceno. - Deu de ombros - O lugar é maravilhoso para comer e não ser incomodado.

  Ele tinha razão, o cheiro era dos deuses. Mas tenho certeza que ele me trouxe só para rir da minha vida amorosa. Que era quase um swing, mas só de uma parte.

— Mas me diz, porque você não dirige com mais pessoas dentro do carro? Fica nervosa quando a pessoa te observa ou algo do tipo?

— Acho que um vinho cairia bem agora.

  Alfonso sorriu.

  O mesmo chamou o garçom novamente e pediu um vinho para mim, aproveitando para pedir batatas fritas.

  Além de ter um cheiro bastante agradável, a comida era servida rapidamente.

  Assim que meu vinho chegou, dei um longo gole.

— Eu faço algo não tão comum.

  Alfonso se sentou melhor na cadeira e se aproximou mais perto de mim.

— Agora você tem a obrigação de me contar.

— Eu nem devia te contar. Você sabe sobre a minha vida amorosa e resolveu me trazer em um swing. Seu senso de humor é demoníaco.

  Ele apoiou os braços na mesa. O que me deu uma melhor visão dos seus músculos.

— Se você não contar. Vou começar a acenar e as pessoas vão começar a vir até nós. - Ele olhou para a sua esquerda e sorriu para um casal que parecia ansiosos por um aceno dele.

— Por Deus, não faça isso.

  Ele tomou um gole da sua cerveja e se aproximou novamente.

— Pois então conte.
 
  Suspirei dramaticamente.

— Eu canto enquanto dirijo.

— Isso não é comum?

— Não quando você inventa a letra da música.

  Ele me olhou como se eu fosse estranha.

— Mas porque você faz isso?

— Eu bati o carro assim que tirei minha carteira de motorista e acabei por ficar com trauma de dirigir, Luigi me ajudou a perder o medo falando que se eu cantasse meu cérebro acharia que eu estava no chuveiro e não dirigindo. Acabou que eu peguei o costume.

— Então você coloca uma música e canta?

— Não, como falei, eu invento a música. As vezes tento rimar com o que estou fazendo e nem sempre sai bom. Mas se eu colocar a música, eu acho que meu cérebro vai associar comigo dirigindo e não tomando banho, então sempre invento a música a batida e por ai vai.

— Você com toda certeza vai me levar para casa. Eu venho amanhã buscar meu carro antes de ir para a empresa.

— Com toda certeza não!

  Ele virou a cabeça para o lado esquerdo, mas manteve os olhos em mim.

— Pare de ser idiota. Não faça isso. - Eu não conseguia mais nem fingir a minha insatisfação, toda a situação era estressante.

— Obrigado Alabama. Estou aqui para rir de todas as situação, até mesmo quando você for para o Reino Unido para ver a Rainha acenando.  - Acenou para mim imitando uma pessoa da realeza.

— A rainha morreu, idiota. - Revirei os olhos tentando conter o riso.

— Tanto faz. - Deu de ombros.

  Do nada, o casal que estava a nossa esquerda se aproximou da nossa mesa. Levamos alguns segundos para entender o que tinha acontecido, até lembrar que Alfonso fez questão de fingir que estava acenado e o casal entendeu como um convite.

Brincando Com FogoWhere stories live. Discover now