Sete - Progresso

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Dormir até tarde era uma das três coisas que Melissa mais gostava de fazer na vida. Vinha logo depois de assistir a filmes antigos sob a coberta em um dia de chuva e comer uma caixa de chocolates sozinha. Adotara uma vida muito pacata e simples, não gostava de mudanças bruscas. Não depois do que acontecera. Não. Tinha medo de que tudo voltasse, de que sua vida se tornasse aquele caos interminável. Gostava assim, com sanidade, com a tranquilidade de acordar um dia e saber exatamente quem é, o que está fazendo e o que tem que fazer.

O St. Marcus Institute, no entanto, pareceu roubar de Melissa toda essa filosofia de vida segura.

O simples ato de dormir até tarde em um sábado de ressaca não era, de fato, simples. Primeiro, logo às 05:30 da manhã, um maldito pássaro de canto macabro resolveu pousar em sua janela e abrir a cantoria. Em segundo lugar, antes das 06:30 o sol, o bendito sol que quase nunca aparecia, deu as caras e brilhou diretamente em seu rosto. Melissa se obrigou a levantar da cama, caminhando com os pés descalços sobre o chão gelado, para fechar a cortina. Ainda não havia dado 08:00 da manhã quando a movimentação no corredor a acordou outra vez. Antes das 09:00, quando os pacientes resolveram gritar lá no jardim sabe Deus por qual motivo, Melissa desistiu, jogando as cobertas pelo chão e se trancafiando em seu banheiro.

O primeiro final de semana no St. Marcus Institute foi desfrutando da agradável companhia dos pais, que viajaram de carro todo o caminho desde Oxford. A verdade era que sua mãe insistira a semana toda, todas as três vezes em que ligava por dia para conferir se estava tudo bem, que precisava vê-la para confirmar que Melissa estava sendo verdadeira em suas declarações. Para a senhora Parker não bastava um simples "estou bem, mãe", em um tom tedioso.

Pelo menos não quando sua filha estava em um manicômio cheio de psicopatas. Não quando ela havia adotado uma postura de mãe superprotetora com tanto afinco, que Melissa mal era capaz de se livrar de suas garras.

Os pais gostaram da estadia no 'New In', que além de único restaurante e pub do lugar, era provavelmente um dos únicos lugares em que se abria a possibilidade de uma hospedagem. Não era difícil se sentir em plena Idade Média por ali. Sua mãe simplesmente ficara encantada com toda a arquitetura antiga e medieval da pequena Winchelsea, mas se recusara a chegar mais do que quinhentos metros próxima do portão do St. Marcus Institute. E o pai, sempre muito complacente quando se tratava da esposa, preferiu não se aproximar também. Apenas ficou observando de longe os edifícios antigos, de seu modo excêntrico até bonitos, e deu o característico tapinha nas costas de Melissa quando a parabenizou por sua coragem. "Eu mesmo não a teria", dissera ele, quando os três já caminhavam colina abaixo na direção de Winchelsea.

Tudo correu muito bem e tranquilidade foi a palavra chave daqueles dois dias, exceto por um dado momento em que o doutor Brian Peters resolveu dar as caras. Melissa caminhava ao lado dos pais pela área central de Winchelsea quando Brian saiu do pequeno armazém, levando em mãos uma sacola. E o que acabou com a tranquilidade de Melissa não foi o fato de os pais terem conhecido seu maravilhoso colega, mas a irritante mania da mãe de querer arranjar um marido para ela a todo custo.

-Ele é um ótimo partido, Melissa! – comentara a senhora Parker, enquanto Brian e o senhor Parker conversavam aleatoriamente próximo à praça central. - Bonito, inteligente, sofisticado, educado... E o que é aquele sorriso cativante? Tenho vontade de sorrir só porque ele está sorrindo.

-Eu sei, mãe. Você e todo o restante dos seres do sexo feminino do St. Marcus acham isso, mas não vai acontecer. – Melissa bufou, cruzando os braços.

Teve que desviar do olhar sorridente de Brian quando ele a fitou.

-Ele parece gostar de você...

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now