Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso

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— Eu gostaria de ir agora, Sanders. — Melissa disse, guardando as mãos nos bolsos dos jalecos.

A voz soou baixa, porém muito segura.

— Dê um bom motivo, doutora, e eu abro a porta sem protestar. — Ele cruzou os braços, a expressão muito serena.

A doutora suspirou. Tinha milhões de bons motivos, a começar pelo fato de que se ficasse ali sozinha com ele por mais cinco minutos, não responderia mais por seus atos. E ela tinha que tentar, por sua dignidade, pelo que lhe restava de profissionalismo (um fiapo quase insignificante). Sua teimosia ou perserverança eram quase dignas de aplausos. Quase.

— Você não precisa mais de mim, já conversamos, pode ser transferido agora.

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro bem devagar, pois Melissa deu a resposta errada. Não era um bom motivo. Porque ele não queria conversar, isso já estava muito bem estabelecido.

—A verdade é que não posso suportar a ideia de ser transferido daqui sem antes transar com você ali na minha cama. É um fetiche, desculpe.

Melissa grunhiu frustrada. E excitada. A sinceridade dele causou o efeito que pretendia, porque o poder de sedução de Sanders era inegavelmente eficaz.

— Como pode ser tão teimoso? Tenho tanta vontade de... Gritar com você!

— Só se for de prazer, doutora...

Sanders deixou um sorriso brincando maroto no canto de seus lábios. Seus olhos azuis reluziram na direção dos de Melissa com uma intensidade arrebatadora. Como se livrar da corrente de ferro bruto que a prendia, não tinha ideia. Seu estômago era tomado por um tufão produzido pelo bater de asas das mil borboletas que escolheram habitá-la. Era tão forte a ansiedade e excitação, depois daquela declaração, que sentia seu peito inflar de modo quase insuportável.

Algo grande, algo poderoso, algo irrefreável iniciava o domínio de seu corpo por inteiro. Não havia como impedir os efeitos de Corey Sanders em seu fraco e desprotegido organismo. Era difícil manter-se em pé, quando suas pernas anunciavam a conversão dos ossos e músculos em gelatina. E ainda assim, Melissa ainda encontrou forças para um último protesto, o de honra, aquele que devia ao seu orgulho já estraçalhado.

— Seria melhor me deixar em paz. Você não pode... Não vai conseguir mais nada de mim. Precisa colaborar comigo, precisa me deixar fazer meu trabalho. — disse e, decidida, deu os passos que a separavam da porta.

Foi impedida de chegar a seu destino, no entanto. Corey Sanders não a deixaria ir tão fácil, ele era bastante insistente. Principalmente porque sabia que Melissa era muito fraca quando se tratava dele.

Ela estava presa ali com ele. Literalmente. E a constatação a deixou mais propensa ao domínio da luxúria do que da razão sempre falha. Ao sentir as mãos fortes e ásperas dele tocarem sua cintura com autoridade, Melissa soltou um suspiro. Era o que faltava, o contato. Sua pele esquentou de imediato, formigando em cada mínima terminação nervosa possível. O frio na barriga voltou com força total. O coração não foi capaz de manter a regularidade das batidas, quando teve a brilhante ideia de levantar a cabeça e encontrar os olhos instigantes dele mais uma vez.

A erótica e sedenta ânsia que era peculiar a Corey Sanders estava ali, reluzindo em cada tom que deixava suas íris azuis. Ele sorriu de lado e levou os lábios ao ouvido de Melissa, para proferir com calma e excesso de malícia as palavras que havia preparado:

— Você quer apostar que vai sucumbir ao seu desejo, doutora, ou prefere se poupar da vergonha da derrota?

Melissa estremeceu, como vergonhosamente já previa, à medida em que as palavras dele iam fazendo eco em sua pele. Corey Sanders, por sua vez, sorriu contra seu pescoço, em plena satisfação.

Psicose (Livro I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora