Trinta e Oito - Vigilância Constante

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Se perguntassem para Melissa qual a época mais conturbada de sua vida, não teria dúvidas na resposta. Também não demoraria muito para chegar à conclusão mais lógica. Apenas dois meses naquele sufoco insano do St. Marcus valiam por todos os seis anos de sofrimento na faculdade de Medicina.

A fuga de Corey tinha elevado tudo o que acontecia ao seu redor a um nível muito mais crítico, porque trouxera a preocupação dele sozinho no meio daquela floresta, o medo de ser descoberta na cumplicidade de uma fuga de um manicômio judiciário, e, por fim, a incômoda presença do investigador Josh Bethel, que não saía de seus calcanhares nem um segundo sequer.

Há dois dias, desde que voltara da visita a Corey na cabana e conseguira se esgueirar pelos corredores sem que notassem a lama em suas botas, Melissa vinha tomando remédios para dormir. E para manter os nervos no lugar, impedindo que suas mãos tremessem e suassem o tempo todo. Mais suspeita do que parecia, não poderia se dar ao luxo de arcar.

Entretanto, tudo no St. Marcusparecia conspirar contra ela. Melissa andava pelos corredores sentindo o peso dos olhares, como se um elefante tivesse se instalado permanentemente em suas costas. Ou era mais um sintoma de sua paranoia. No entanto, chegar a qualquer diagnóstico, àquela altura, tornou-se um tanto complicado, já que não tinha tempo para isso.

Melissa adquiriu a capacidade de encarar tudo o que acontecia com ela como um carma do destino, que a acusava de ter causado todo aquele caos para libertar um condenado pela justiça, por mais inocente que fosse. Ninguém parecia ter a intenção de deixá-la em paz. Médicos, enfermeiros, guardas, até mesmo os pacientes.

Na primeira sessão daquela manhã, Megan Janeth McPhierson parecia ser capaz de sentir o cheiro da instabilidade mental de Melissa. E não deixou passar quando teve a chance de provocá-la. Melissa teve que tossir algumas vezes, porque se engasgara com a saliva ao ouvir a pergunta de Megan Janeth McPhierson, logo no primeiro minuto da sessão:

— Sentindo muita falta do Sanders, Melissa?

Melissa não pôde evitar que seus olhos arregalassem. O nervosismo correu por seu corpo, dando pequenos choques. Megan poderia estar perguntando aquilo apenas porque Corey era seu paciente, mas a paranoia a lavava a campos mais vastos e fazia o cérebro trabalhar na possibilidade de Megan saber de algo que não deveria.

O que não faria sentido algum. Mas o modo frio e calculista com que a mulher deixava escorregar seu nome por entre os lábios mal pintados de batom vermelho não contribuía de maneira alguma para que Melissa se acalmasse.

— Por que deveria? — Melissa respondeu, quando finalmente foi capaz de se recompor, sem parecer que estava à beira de um ataque de nervos.

— Não precisa esconder de mim, Melissa... Sou mulher também, apesar de ter perdido o que restava da minha dignidade neste inferno... — Ela cruzou as mãos sobre o colo e manteve a pose de classe que sempre sustentava, ainda que classe fosse a última coisa de que dispusesse naquele momento — Corey Sanders é muito atraente. É bonito, forte, misterioso, tem aquela pose de homem que sofre e precisa de cuidados e isso é tudo que uma mocinha ingênua como você sonha.

— Acho melhor voltarmos ao assunto da sessão: você. — Melissa baixou os olhos e mexeu nervosa nos arquivos da mulher à sua frente.

Obviamente, ela não desistiria na primeira negativa de Melissa em continuar com o assunto.

— Vai negar que se sentiu atraída por ele enquanto ficavam de papinho nessas sessões estúpidas de análise psiquiátrica?

— Eu não vou falar sobre isso, Megan. Está ultrapassando alguns limites.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now