Vinte e Quatro - Intimidade

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O coração batia tão forte e acelerado contra as costelas de Melissa, que lhe passava uma intensa e quase real sensação de dor. Dor de ansiedade, que deixava seu peito cheio de algo que queimava, como se por aquela região corresse ácido, em lugar de seu sangue. Ou talvez fosse seu fluido vital fervendo verdadeiramente. Toda aquela reação urgente que beirava o desespero só lhe dava a simples e crucial impressão de que estava viva. O ar que lhe entrava pelas narinas e chegava aos pulmões nunca lhe pareceu tão necessário. Era ele. Era por causa dele que seu organismo encontrava-se tão ridiculamente agitado. Era por causa dele que seu psicológico encontrava-se tão desequilibrado. Era por causa dele que se sentia viva. E, a esta altura, concluiu que não havia nada que pudesse fazer para evitar. Já estava perdida. E talvez não houvesse mais um jeito de se achar.

As mãos suavam e Melissa não conseguia parar de remexer os dedos entre os fios de cabelo. Queria evitar pensar que tentava melhorar o visual relaxado de um dia de trabalho. Suas intenções não deveriam voltar-se para o simples deleite de Corey Sanders, e mais uma vez, via-se sem alternativas para contornar tal situação. A julgar pelo acontecido do dia anterior, não deveria jamais, sob qualquer hipótese, permitir-se vê-lo em circunstâncias distintas das obrigatórias consultas – sob a supervisão do guarda brutamontes, de preferência.

Talvez fosse mais sensato pedir ao doutor Thompson que o mudasse de médico mais uma vez, e dessa que fosse definitiva. Seguindo aquela ideia de que nada que estivesse nascendo entre eles, poderia continuar, porque era... Proibido. No entanto, qualquer vestígio de sensatez perdeu-se quando seus lábios tocaram os macios e cheios dele pela primeira vez. E o proibido, o perigoso, tornou-se atraente demais, não conseguia fugir. Agora Melissa era refém do lado irracional de sua consciência, o que era de maneira imprudente dominado pela libido, enganado pelas sensações de intenso prazer e frio na barriga que aquele misterioso prisioneiro era mestre em provocá-la.

Então mesmo que tentasse, Melissa não seria capaz de impedir os passos lentos e incertos que a levavam na direção do helvete. Não era forte o bastante para tanto. E algo lá no fundo dizia-lhe em uma voz irritante que não queria realmente fugir. Melissa, em uma falsa ingenuidade, tentava obrigava a si mesma a acreditar que Corey Sanders queria apenas conversar. Contudo, sabia também, lá no fundo, que nenhuma das atitudes dele eram tomadas de inocência. Talvez fosse esse o maior motivo do frio na barriga, da ansiedade, das mãos suando, do coração batendo rápido como se fosse sair pela boca...

Corey Sanders não era inocente quando se tratava de Melissa.

Tudo nele inspirava segundas, terceiras e quartas intenções, e esse fator a deixava com frequência de pernas bambas.

A entrada sombria do helvete materializou-se à frente de Melissa, erguendo-se das entranhas da grama fofa e verde do jardim do St. Marcus. Viu sua mente vacilar quando se deu conta de que chegara ao seu destino. O ar ao redor daquele imponentemente assustador edifício era pesado de forma tão natural, que chegava a ser irônica.

Cinco guardas comparáveis ao armário em seu quarto observavam-na atentos e ameaçadores do alto da escada de pedra envelhecida coberta de musgo. Os pesados rifles eram seguros com firmeza nas mãos. Melissa só tinha estado no helvete uma única vez, porém se lembrava com clareza da sensação de carregar um piano nas costas a cada passo que dava e se aprofundava mais entre suas paredes imundas cuidadas.

— Doutora Parker. — cumprimentou com um aceno de cabeça Pete, o carcereiro chefe.

— Boa tarde, Pete.

— Sanders a aguarda. — informou, chamando-a.

Melissa seguiu Pete pelos corredores compridos, largos, que pareciam não ter fim.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now