Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade

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Era uma bela noite. O céu estava límpido, cravejado de estrelas brilhantes. Dadas as circunstâncias, parecia estranhamente mórbido. A lua era o destaque maior, imponente, encantadora. Anunciava o perigo iminente pela pequena mancha vermelha que lhe rodeava. Melissa sentiu um calafrio poderoso se apoderar de seu corpo durante o instante que levou para descer as escadas do prédio administrativo. Talvez fosse o vento gelado que batera de uma hora para a outra e fizera seus cabelos soltos voarem e cobrirem seu rosto. Ou talvez fosse o pressentimento de que tudo daria errado.

Pensamentos negativos não ajudariam em nada a esta altura, entretanto.

Melissa analisou com interesse seus pés afundarem na grama escura, olhando por cima do ombro logo em seguida, apenas para checar que os guardas estavam todos a postos. Todos armados e bem treinados para lidar com uma desorganizada rebelião de um bando de loucos. Então ela focou o olhar para frente, quando Kate apertou seu braço e o enganchou no dela. O olhar complacente dela chamou o seu, e Melissa sentiu uma onda de calmaria relaxar seus músculos, para que ela pudesse dar o passo seguinte. E todos os outros.

— Não sei se é positivo o fato de estarmos só nós duas aqui fora esta noite... — Kate comentou baixinho, aproximando-se de Melissa.

— Eu prefiro garantir que o mínimo de pessoas possível se envolva e se arrisque nesta loucura, Kate. — a doutora respondeu com a voz estranhamente rouca.

Ambas caminhavam lado a lado, calmamente, como se dessem um passeio de fim de tarde sob o sol poente em um belo dia de verão. Infelizmente, a situação era completamente oposta e não havia calma ali. Pelo menos, não se dependesse dos nervos descontrolados de Melissa.

— Eu sei, mas... — Kate olhou em volta, depois para cima, apontando com a cabeça o objeto negro que piscava com uma luz vermelha e rastreava cada centímetro do jardim. Uma das câmeras de segurança. — Se eles desconfiarem de que foi tudo armado, o que obviamente será a primeira opção, não seríamos as primeiras suspeitas porque não estaríamos sozinhas nos jardins em um frio de congelar o nariz, ainda que as câmeras estejam estrategicamente apontadas para lugares em que não faremos nada suspeito.

— Não estamos sozinhas... Há muitos guardas por aqui... Seria mais provável o dinheiro de Corey ter comprado a lealdade de algum deles e a sua fuga do que uma médica e uma enfermeira, não acha?

— Talvez... — Kate assentiu, e então enfiou a mão no bolso do sobretudo. — Vamos torcer para que cheguem a essa conclusão antes de nos procurarem. Pelo menos teremos tempo de pensar em uma desculpa satisfatória para estarmos aqui.

— Acho melhor nos preocuparmos com o agora e depois com as consequências do agora, que tal?

— Tem razão. — Kate abriu um sorriso.

Quando estavam próximas ao Prédio B, Kate apertou o braço de Melissa, chamando sua atenção.

— Dá uma olhada nesta câmera. — disse, apontando discretamente com a cabeça. — Veja para onde ela está apontando.

Melissa levantou os olhos lentamente, disfarçando suas intenções ao olhar em volta, como se analisasse a beleza do céu negro. O pequeno objeto suspenso estava parado, apontando para o lado oposto ao qual elas se encontravam.

— Está tranquilo... — disse.

No momento seguinte, Kate tirou do bolso um pequeno objeto escuro, o qual levou com suas mãos disfarçadamente ao lado de seu corpo. Do outro bolso retirou um isqueiro, de que se utilizou para acender um pavio, provocando um mínimo brilho alaranjado na escuridão pouco quebrada pelas luzes dos postes dispostos no jardim. Melissa não viu quando ela soltou o objeto misterioso no chão.

Psicose (Livro I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora