Quatorze - Helvete

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Melissa acordou naquela manhã sentindo uma estranha tensão enrijecer seus músculos e alertar seu cérebro. Não seria um dia comum, tinha plena certeza. Até mesmo porque, Brian a levaria ao helvete, e o fato de que finalmente mataria a curiosidade quanto ao local a estava deixando um tanto quanto eufórica. Também porque era o local em que estava a cela de Corey Sanders, e sempre que ele estava envolvido em qualquer coisa, era uma atração à parte para ela, já desistira de lutar contra essa conclusão.

Como não tinha nenhuma consulta no período da manhã, Brian achou que seria o melhor momento para leva-la até lá. Ele remarcou as suas com um sorriso nos lábios, aparentemente feliz por poder passar com ela algumas horas de seu tempo livre. Melissa, por outro lado, parecia estar muito mais feliz por poder ficar no mesmo local que Corey Sanders por algumas horas, mesmo que não tão próximo, do que, de fato, deveria.

Brian bateu à sua porta com pontualidade, às 8 da manhã, como havia acordado. O sorriso em seus lábios era fixo, nunca saía dali, Melissa pensou, quando o cumprimentou. Ele nem tentou beijá-la, como vinha irritantemente fazendo, e ela agradeceu internamente por isso. Realmente não gostaria de ser obrigada a dar outra bronca nele. Acima de tudo, gostaria que a amizade fosse preservada, embora tivesse noção de que um romance mal resolvido não seria de muita ajuda nesse aspecto.

Eles saíram do prédio administrativo lado a lado, ele com os arquivos resumidos dos pacientes em mãos, que já tinha buscado na sala do arquivo na noite anterior. Só de ouvir falar naquele local, a doutora já estremecia. Especialmente depois da sensação de ser perseguida, da voz gutural sussurrando seu nome, da foto de Corey Sanders e Barber Paay abandonada sobre sua mesa...

Na medida em que a proximidade do helvete ia crescendo, a felicidade de Melissa proporcionalmente diminuía. O ar próximo àquele grande prédio cinza de colunas altas era mais pesado do que no restante do St. Marcus Institute. Já do lado de fora, era possível sentir a tensão que tomava cada centímetro daquele lugar. Melissa poderia jurar que até mesmo a temperatura era mais baixa por ali e se sentiu na necessidade de envolver o próprio corpo com os braços. Passar pelo bando de guardas armados até os dentes foi um tanto incômodo. Melissa subia as escadas e era analisada curiosamente por eles, que levavam pesados rifles em mãos.

Ao atravessar a grande porta de carvalho antiga que fechava o chamado "inferno", Melissa foi tomada por diferentes sensações. O cheiro de suor e mofo que embrulhou seu estômago, não foi nada se comparado à escuridão que tornava precária a visão e dificultava andar por sobre o chão de concreto bruto. O mesmo chão que era marcado por manchas escuras, que Melissa deduziu serem de sangue, em variados locais. Todas as paredes ao seu redor eram de concreto maciço também. Não tinham qualquer pintura. Eram envelhecidas e escurecidas pelo tempo. Em alguns locais estavam pichadas e em outros, marcadas pelo mesmo sangue seco que se espalhava pelo chão.

Sua curiosidade ansiosa ia se transformando em uma curiosidade sofrida. Brian, por sua vez, andava ao seu lado, em uma tranquilidade invejável, como se estivesse passeando no parque numa bela tarde ensolarada. A verdade era que tal pose soou a Melissa um tanto quanto mesquinha, até mesmo grosseira. Qualquer ser humano com um pouco de empatia e compaixão compreenderia que seres humanos sofriam ali, e isso era deprimente. Melissa quis poder mudar aquela situação, leva-los para um lugar melhor, mas não era ninguém, não podia fazer nada, a não ser se indignar com as condições que o Dr. Thompson achava dignas para seus pacientes mais perigosos. Talvez se pudesse marcar um horário para tratar sobre o assunto...

- Vamos entrar na ala dos prisioneiros agora. – Brian anunciou, e Melissa deu um pulo.

Distraíra-se demais com seus pensamentos rebeldes.

Psicose (Livro I)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz