Vinte e Dois - Bipolaridade

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Por um instante, Corey e Melissa permaneceram naquela mesma posição, os braços envolvendo seus corpos extasiados em recuperação. Corey ainda preenchia Melissa, temeroso demais do que aconteceria se a conexão sobrenatural que se formou entre eles fosse quebrada. Não queria se afastar dela, não naquele momento. Queria poder repetir toda aquela loucura mais uma vez. Queria poder cometer aquela loucura pelo resto de sua vida. Não sabia o que se passava na cabeça da doutora, e não queria arriscar olhar em seus olhos para encontrar por suas íris acinzentadas o arrependimento.

Ele sabia, no entanto, que não tinham muito tempo. Tinha certeza de que, a qualquer momento, alguém bateria naquela porta e os encontraria naquela situação... Perigosa. Diante disso, foi capaz de criar coragem para se afastar. Primeiro, saiu de dentro dela, depois, seus braços deixaram o abraço se partir. E Corey teve motivo para sorrir quando as mãos de Melissa não abandonaram o local em que acariciavam suas costas.

Corey deixou apenas seus dedos envolvendo a cintura de Melissa. Quando buscou seus olhos, entretanto, ela olhava para baixo, para o chão. Resolveu que precisava falar, senão entraria em algum tipo absurdo de colapso nervoso. Precisava ter certeza de que não era odiado por ela. Não suportaria carregar seu ódio.

— Como foi a primeira viagem ao paraíso? — foi o que Corey perguntou, e sua voz saiu rouca e tão baixa, que mais pareceu um sussurro.

O silêncio na sala de arquivo, contudo, era tamanho, que não fez diferença. Melissa ouviu com perfeição todas as palavras da pergunta maliciosa dele. Ela demorou mais do que o normal para responder, mas um mínimo repuxar de seus lábios demonstrou a timidez de um sorriso que queria ser contido.

— A essa altura, faria sentido mentir e dizer que não teve viagem ao paraíso coisa nenhuma?

Corey meneou a cabeça.

— Acho que chegamos ao ponto em que esse tipo de mentira não vai mais colar. Além do mais, não pareceu que você não estava curtindo cada momento. — ele riu.

Melissa manteve um semblante insondável, e, depois de um suspiro, disse:

— Bem, já que chegamos a esse ponto crucial, posso dizer que a verdade é que seria muito difícil para mim não curtir cada momento. E eu devo estar maluca por falar esse tipo de coisa para você assim, de mão beijada. — Ela esfregou a testa com força — Honestamente, não sei o que está acontecendo comigo.

Corey ajeitou suas roupas, arranjando tempo para pensar em uma boa resposta. Melissa fez o mesmo, de modo que estavam os dois frente a frente, em profundo silêncio outra vez. Ele disse:

— Eu poderia dizer o que está acontecendo com você, doutora, mas acho que já sabe.

Melissa cruzou os braços, coçou a cabeça, estava inquieta.

— Eu sei. — assentiu — E fico me perguntando o que fiz de mau na vida para me encontrar em uma situação tão difícil como essa!

Corey torceu os lábios, insatisfeito com o rumo que estava tomando aquela conversa.

— Se quer saber, prefiro pensar que o destino cruzou nossos caminhos por um bem maior. Não me sinto tão vivo assim desde... Bem, desde que Barber morreu. E é por sua causa.

A doutora escondeu o rosto entre as mãos, soltando um resmungo sofrido.

— Por que faz isso comigo?

Ele tirou as mãos dela dali, para encontrar novamente os olhos azuis que, apesar de brilhantes como nunca, demonstravam o tipo de sofrimento por que passava. Era o mesmo que ele.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now