Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!

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De volta ao prédio administrativo, Melissa subiu direto ao dormitório de Kate. Bateu na porta, que demorou um tempo para ser destrancada. Quando a reconheceu, Kate sorriu aliviada.

— Tive que esconder as coisas às pressas, não sabia que era você. — ela disse, dando passagem a Melissa e trancando a porta novamente. — Então, deu tudo certo?

— Sim, ele está com o uniforme e o mapa, acho que consegue se achar. — Melissa assentiu, indo sentar na cama desarrumada de Kate.

— Ótimo. — A enfermeira se aproximou de sua cama e deu um tapa da perna de Melissa para que ela levantasse.

Então ergueu o colchão e de lá de baixo tirou uma pequena sacola plástica.

— O que tem aí? — Melissa perguntou, tentando enxergar através do plástico branco, sem obter muito sucesso.

— Uma coisa que meu irmão me ensinou quando éramos crianças. É o que vai iniciar a nossa pequena distração. — ela abriu um sorrisinho esperto e permitiu que Melissa se sentasse novamente.

Ainda havia um tempo livre antes do horário combinado para o início de toda aquela insanidade. Melissa não conseguia conversar, por mais que Kate tagarelasse em seu ouvido. A doutora sabia que seria uma eficiente forma de distração, mas, com ela, nada funcionaria. Sua cabeça não parava de girar em torno do plano e nas grandes falhas que ele possuía. Ao mesmo tempo, tentava mandar uma mensagem positiva a sua mente pessimista.

"Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo, vai dar tudo certo...";

Era o mantra que repetia incansavelmente. Aquele mesmo a que se apegara mesmo antes de chegar ao St. Marcus, antes de nem sequer imaginar que se envolveria em tamanha confusão. Um amor psicótico, uma paixão por um médico pautada em desejos hormonais, uma amiga louca o suficiente para apoiar seus planos mirabolantes, um novo dom.

Melissa era outra pessoa.

Uma mais fortalecida, mais experiente. E, apesar do pânico que já começava a dominá-la, gostava da determinação que via no brilho de seu olhar. E isso já era alento suficiente para erguer a cabeça e encarar tudo de frente, quando Kate anunciou que já era hora.

Melissa engoliu em seco e apertou o lençol branco amarrotado de Kate entre seus dedos suados. Respirou fundo, de olhos fechados, por alguns instantes. Kate esperou pacientemente, vestindo seu pesado sobretudo preto, guardando o que necessitavam para a distração em seu bolso interno. Quando finalmente conseguiu mandar o comando de seu cérebro às pernas para que se mexessem, Melissa seguiu Kate. Saíram do quarto, chegando ao corredor, que parecia relativamente mais frio que o normal. Ela apertou o casaco de couro contra o corpo e esperou que Kate trancasse a porta, então ambas começaram a andar lado a lado na direção da sala do guarda noturno. Aquele que tinha a chave para o portão dos fundos que levaria Corey à tão sonhada liberdade.

No andar térreo, na primeira porta no corredor da esquerda, as letras que formavam as palavras "Sala de Segurança" se destacaram como se piscassem. Kate conseguia se manter tranquila o suficiente para bater na tal porta e ainda mostrar um lindo e doce sorriso nos lábios quando o guarda a abriu e autorizou a entrada das duas. Melissa estava rígida, mal sendo capaz de andar sem tropeçar nos próprios pés. Sabia que tinha que se acalmar, caso quisesse fazer o plano funcionar.

Kate deu um beliscão discreto em seu braço, o suficiente para que saísse por poucos instantes daquele transe esquisito de pânico em que se encontrava. Quando o guarda as encarou confuso, perguntando-se provavelmente o que uma médica e uma enfermeira faziam ali àquela hora, a realidade finalmente a atingiu.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now