Vinte e Um - Render-se

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Corey abriu um sorriso malvado. Ao mesmo tempo, fechou a porta do arquivo com uma delicadeza que não combinava com suas intenções. Demorou alguns segundos, porém Melissa acordou do transe de surpresa em que se encontrava. Levou as mãos calmamente à cintura, encostou-se em um dos arquivos de metal, arqueou uma sobrancelha, então disse:


— O que faz aqui, Sanders? — seu tom era um mistério.

O sorriso nos lábios de Corey persistiu.

— Vim saber se você gostaria de terminar algo que começamos antes...

A iluminação precária e amarelada do lugar a deixou ainda mais atraente, Corey notou, enquanto observava atentamente a reação dela. Melissa manteve-se impassível em sua pose desafiadora.

— Não sei do que está falando. — deu de ombros, o queixo erguido.

Certa tensão se instalou na sinistra sala de arquivo. Uma tensão afável. Como se ambos estivessem se perguntando quem deles teria coragem de ir mais longe. Corey não estava disposto a desistir, tinha assuntos a tratar e, talvez, algo mais a fazer. Esperava que Melissa tivesse a mesma persistência.

— Se quiser que eu refresque sua memória, estou à disposição, mas tenho certeza de que não sai da sua cabeça...

Melissa riu, cruzando os braços, embora Corey tenha notado que sua frase surtiu o efeito pretendido.

— Acho que o maior desafio da minha carreira será tratar do seu egocentrismo.

Ele deu de ombros, mantendo sua própria pose. Precisava enfrenta-la de igual para igual.

— Sabe, doutora, pode ser que a gente tenha chegado a um ponto em que não é possível que a recíproca não seja verdadeira. Se eu tivesse enxergado em você a rejeição, teria sido capaz de entender o recado, mas não foi o que aconteceu, porque se não se sentisse atraída por mim, não teria deixado eu me aproximar como fiz, da maneira que fiz.

A doutora meneou a cabeça, um breve momento de concordância. Um sorriso presunçoso domou suas feições, antes que ela falasse:

— Às vezes meus hormônios não estão em harmonia com meu cérebro.

— A vida é mais interessante quando os hormônios vencem a sensatez. — ele piscou.

Melissa suspirou com força, e disse:

— Que Deus, Oxford e Cambridge me perdoem por isso, mas não posso negar que foi interessante. Muito interessante. Acontece que essa coisa toda — ela gesticulou para o espaço que os separava — Nem deveria ter acontecido, para início de conversa. Eu deveria ter sido mais forte, e já que nunca é tarde para criar vergonha na cara, acho melhor fazer isso agora. É proibido, ponto final.

Corey achava que era tarde demais, por isso soltou uma risadinha maliciosa. Sabia bem o efeito que causava em Melissa.

— Vai dizer que você não sonhava em ter um amor proibido na adolescência?

— Com certeza. Mas isso foi na adolescência. A vida real é muito diferente de qualquer devaneio de uma garota de 15 anos. Preciso manter meu emprego. E minha reputação.

Corey assentiu, encostando-se na porta.

— Tem razão.

A doutora mostrou-se em completa surpresa, provavelmente acostumada com o fato de que ele não era de desistir tão facilmente. Arqueou uma sobrancelha, os olhos cerrados, desconfiados. Então disse:

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now