Trinta e Dois - Luxúria

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Já passava das seis da tarde quando Kate e Melissa finalmente deixaram a enfermaria. Precisavam discutir todos os detalhes do plano, para que não houvesse nenhum furo, nenhuma brecha, para que tudo desse certo. Dali a três dias, Corey Sanders seria, finalmente, um homem livre. Como deveria ser.

Os dois dias seguintes foram difíceis para Melissa. Ela mal se concentrava. Não conseguia comer direito ou adormecer apropriadamente à noite. O nervosismo tomou conta de seu corpo e não lhe abandonava um segundo sequer. O medo fez o mesmo. E só crescia à medida em que o dia marcado se aproximava.

Somente na véspera Melissa teve a oportunidade de contar os detalhes do grande plano suicida a Corey. Nervosa, ela o esperou para sua consulta na porta de seu consultório, como jamais havia feito. No meio do corredor, dispensou o guarda, e fez Corey entrar, trancando a porta logo em seguida.

— Que pressa, doutora! — ele riu, fazendo o comentário no tom convencido de sempre.

Melissa o ignorou. Apontou a cadeira para que ele se sentasse e preferiu ficar em pé, enquanto despejava com a maior calma que conseguia os detalhes do plano que ela e Kate bolaram juntas. Para sua alegria e alívio, Corey apenas balançou a cabeça em concordância e entendimento. Sem sorrisos irônicos de canto de lábio ou olhares maldosos.

— Você entendeu? _ Melissa perguntou ao fim.

Suas mãos abriam e fechavam nervosas dentro do bolso de seu jaleco.

— Sim, eu entendi. — Corey respondeu.

Seu tom, aparentemente, tencionava acalmá-la. Sua pose dispersa e largada na cadeira, entretanto, deixava Melissa cada vez mais nervosa e insegura. Agindo daquele modo, ele não parecia levar a sério a coisa toda.

— Então repita tudo o que eu disse...

— Não é necessário, doutora. Meu Q.I ainda continua o mesmo e eu sou capaz de entender coisas simples sem problema nenhum.

— Você pode se esquecer de alguma coisa...

— Melissa! — Corey levantou da cadeira e foi na direção dela. Melissa vacilou e recuou um passo. Corey sorriu. — Relaxa! Vai dar tudo certo!

— Você deveria estar, pelo menos, um pouquinho nervoso! Assim eu não me sentiria tão mal!

— Eu só sou uma pessoa confiante... Você que é insegura demais!

— Eu... Tenho medo. — confessou baixinho. Seus olhos foram encarar o esmalte que ela mesma se encarregava de descascar em suas unhas. — Se... Algo der errado e alguma coisa acontecer a você... Eu jamais me perdoaria!

— Se algo acontecer comigo é culpa do destino, Melissa, não sua. Além do mais, eu me preocupo muito mais com o fato de que você pode se encrencar de verdade se algo der errado, então prefiro nem cogitar a possibilidade, para não atrair energias ruins.

— E a culpa disso seria só minha! – ela levantou os olhos, e, por um instante, sentiu-se segura. Mas se lembrou de que talvez nunca mais poderia vê-los em menos de vinte e quatro horas. E o desespero bateu de novo. — Fui eu quem tive essa estúpida ideia!

— E eu aceitei de coração. Não quero, jamais, que fique se culpando se o plano não funcionar amanhã.

— Eu não vou conseguir viver em paz comigo mesma, Corey...

— Melissa, pelo amor de Deus! Você tem que relaxar! Se não se acalmar, vai fazer algo errado amanhã e aí sim terei menos chances de sair vivo dessa.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now