Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte

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Atordoada.

Era a palavra que definia o estado em que a doutora Melissa Parker encontrava-se nquanto atravessava os jardins gelados do St. Marcus Institute. Ao sair da cela de Corey Sanders no helvete, não olhou para os lados e ignorou o olhar curioso que Pete lançou-lhe com tanta veemência. Tudo o que tinha que fazer era chegar à segurança de seu quarto sem que ninguém percebesse seu estado. A tarefa era difícil, entretanto.

O horário era o mais inoportuno possível. Banho de sol das alas A e B. E os pacientes encaravam a doutora descabelada e apressada que cruzava o gramado verde, tentando com custo deixar as roupas despedaçadas no lugar. Megan Janeth McPhierson fitou-a de longe com um olhar esperto, que Melissa ignorou encarando os próprios pés.

Quando chegou ao prédio administrativo, Melissa respirou parcialmente aliviada. A calefação libertou-a do frio quando fechou a porta, logo depois de atrair o olhar sempre mal-humorado da recepcionista-mascadora-de-chiclete-profissional. Teve que ignorar um olhar assustado e surpreso dela, dessa vez, baixando a cabeça para seguir diretamente para a escada que a levaria ao seu dormitório. Só mais alguns passos e então estaria segura. A sorte, contudo, não estava ao seu lado. Assim que colocou os pés no corredor, um par de olhos azuis faiscou em sua direção, como o farol de um carro em uma rodovia abandonada.

A primeira reação de Brian foi sorrir, porém, quando passou os olhos pelo corpo desconcertado de Melissa, transformou o olhar cativante em preocupado. E depois em desconfiado, Melissa poderia jurar. O cenho dele franziu e a boca fez o mesmo, antes que se colocasse a andar em passos rápidos e fortes na direção dela. Melissa não esperou que Brian chegasse, e caminhou pelo corredor, tentando parecer despreocupada. Os dedos apertavam com força o que restou do jaleco contra seu corpo. A outra mão tentou, disfarçadamente, ajeitar os fios de cabelo fora do lugar, mas era difícil. E foi inútil. Brian já havia percebido que nada ali estava em seu devido lugar.

— Você acabou de ser atingida por um furacão? — foi o que Brian perguntou, quando finalmente a alcançou.

Um furacão chamado Corey Sanders, certamente.

— Não exatamente. — Melissa forçou um sorriso inocente.

Soou mais forçado do que se simplesmente tivesse optado por não sorrir.

— Não vai me contar o que aconteceu? — Brian cruzou os braços. Melissa engoliu em seco.

— Não aconteceu nada, Brian, não se preocupe comigo.

— Onde você estava?

Melissa fechou a cara. Não gostou do tom que ele usou para falar com ela, como se ela fosse um dos pacientes e tivesse sido pega fora de sua cela em horário não permitido. Sentiu-se pior do que estava.

— Isso é um interrogatório?

— Se quiser entender assim. — ele deu de ombros, e foi bastante sarcástico.

O suficiente para ela perder a paciência e concluir que Brian já passara mais dos limites com ela do que era razoável.

— Não estou gostando do tom que está usando comigo, Brian.

— Qual paciente você estava atendendo, Melissa? — Brian deu um passo à frente e Melissa não ousou recuar, manteve-se firme, queixo erguido, postura ereta.

— Megan Janeth McPhierson. — disse o primeiro nome que veio à cabeça.

— Kate acabou de me dizer que estava no helvete.

— Eu posso ter ido atender Megan depois de ter saído de lá, não posso?

— Kate também disse que estava com Corey Sanders.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now