Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...

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— Venha. — Kate chamou, em um sussurro comedido, tocando com delicadeza o braço de Melissa.

Melissa, no entanto, tomou um susto, pois não estava preparada para sair do torpor que a última cena a havia imposto com tanta veemência. Seus músculos pareciam moles, porém rígidos ao mesmo tempo.

— Você precisa de um descanso, Melissa, venha para o seu quarto. — Kate chamou novamente, tomando o cuidado de abraçar Melissa pelos ombros, para com calma guia-la ao interior do prédio administrativo.

Melissa custou a se mexer, não por falta de vontade própria, mas porque simplesmente não parecia capaz. Kate, paciente como sempre, esperou o tempo necessário para que as pernas de Melissa obedecessem a seus comandos. Então finalmente subiram as escadas na direção do dormitório.

Ao chegarem à porta do quarto, Kate a abriu, levando Melissa para dentro. Sem dizer uma palavra, ajudou-a a deitar na cama. Melissa tirou os sapatos e o casaco pesado, e Kate colocou os cobertores sobre seu corpo.

— Vou dar um calmante para você, você vai dormir, então quando acordar vai estar se sentindo bem melhor. — Kate disse, enquanto retirava um envelope com um comprimido do bolso do jaleco — Vai ficar tudo bem, você vai ver.

— Eu realmente não entendo toda a sua confiança. — Melissa respondeu, tomando o comprimido que lhe havia sido entregue, sem qualquer objeção. Queria mesmo se desligar do mundo, pelo menos por algumas horas. — E Corey parecia tão confiante quanto você quando passou por mim...

— Ele já aprendeu a confiar em mim, só falta você...

— Vocês dois estão tramando alguma coisa sem eu saber? — Melissa franziu o cenho, fazendo uma careta desgostosa.

Não havia gostado da possibilidade, nem em sua cabeça repentinamente paranoica.

— Jamais faríamos isso, Melissa, por favor. — Kate negou com a cabeça, forçando o corpo de Melissa a se deitar contra a cama. — Durma, descanse, quando acordar vai enxergar as coisas com outros olhos.

Melissa lançou a Kate um olhar desconfiado, porém não foi mais capaz de protestar. Como em um passe de mágica, o calmante começou a fazer efeito, e seu corpo foi sendo aos poucos entregue ao sono. Kate sorriu, e acenou para Melissa, antes de sair e fechar a porta.

Tudo o que Melissa tinha na cabeça, antes que sua mente se fechasse para o mundo exterior e se entregasse ao torpor do sono, era uma dúvida cruel sobre as intenções que o último olhar de Corey havia passado. Parecia uma confiança absurda, e isso a perturbou.

A situação nunca esteve tão precária. Entretanto, Corey jamais pareceu tão confiante. Melissa pensou que ele talvez tivesse enlouquecido de vez. Ou talvez tivesse se conformado de que seu lugar era o St. Marcus Institute, que não havia modo de fazer o mundo acreditar em sua inocência. Ou talvez tivesse mesmo um novo plano, e se Melissa havia sido deixada de fora disso, ele e Kate sofreriam as consequências.

Não demorou muito para que Melissa caísse em um sono pesado, no entanto, e seu raciocínio sobre as atitudes estranhas de Corey e Kate teve que ser interrompido. Um estranho sonho deu lugar aos seus pensamentos. Melissa não soube quanto tempo dormiu, porém o sonho pareceu durar uma eternidade...

Era uma bela campina. A grama era verde, o céu azul, o sol brilhava. Havia pássaros cantando e flores coloridas enfeitando o chão. Era uma linda paisagem. Aconchegante, dotada de um estranho poder de acalmar o coração sempre disparado de Melissa. Ali não havia desespero, não havia medo, não havia St. Marcus Institute, não havia injustiça, não havia assassinato... Apenas Melissa.

Psicose (Livro I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora