Trinta e Sete - Reencontro

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O sábado chegou mais rápido do que o esperado. Melissa queria que o tempo passasse, sim. Mas ao mesmo tempo sentia-se ansiosa para que ele parasse. A contradição era reflexo perfeito de sua vida.

Com a ajuda de Kate e um aplicativo de bússola no celular, ela se preparou para sair, antes que os passarinhos cantassem em sua janela. O sol ainda não havia nascido. Uma névoa branca e fantasmagórica cobria os arredores, deixando-os sombrios demais para se sair sozinha em meio a uma floresta desconhecida. Mas ela tinha que fazê-lo. Deixou o medo e o receio de lado, e, enrolando-se em seu pesado casaco de lã, enfiando os pés nas botas e um gorro na cabeça, Melissa saiu. Entre as mãos cobertas por luvas de couro, apertava a folha de papel que continha o mapa.

O guarda que vigiava o portão principal estava adormecido em seu posto. Melissa saiu pelo portão de pedestres sem chamar a atenção. Como indicado por Kate, deu a volta no muro imponente do St. Marcus, chegando aos fundos, ao portão pelo qual Corey havia escapado. Com o celular apontando para o norte, ela se dirigiu a leste, enfiando as botas na lama molhada pelo orvalho da manhã. O cheiro da grama era gostoso e a acalmava, enquanto todas as possibilidades mirabolantes de se perder em meio a todo aquele verde eram uma verdadeira tormenta.

Melissa tentava afastar os pensamentos pessimistas, forçando-se a apreciar a beleza que a disposição de todas aquelas árvores de troncos grossos e folhas tão verdes formavam. Após quinze minutos de uma caminhada silenciosa, em que o único som produzido era o de suas botas chocando-se contra o chão, ela encontrou a pedra identificada com tinta vermelha que o mapa de Kate indicava. Então seguiu para o sul, mais uma vez guiando-se pela bússola improvisada em seu celular.

Quanto mais Melissa andava, mais achava que não estava chegando a lugar algum. Pelo contrário, parecia se embrenhar cada vez mais na floresta, que a cada passo se tornava mais escura, mais perigosa. As árvores iam diminuindo o intervalo de espaço entre si. Era difícil manter o equilíbrio sem escorregar repetidas vezes. Embora seguisse à risca tudo o que Kate lhe havia dito e que o mapa indicava, era difícil não pensar na hipótese de estar indo para a direção contrária.

Quando, porém, a clareira que o mapa mostrava se materializou à sua frente, Melissa respirou um pouco mais aliviada. Era quase certo que estava no caminho. Mais dez minutos na direção leste novamente, e encontraria a misteriosa cabana que Kate disponibilizara para Corey. Enquanto dava os passos que a levariam aos braços dele novamente, seu coração parecia sentir a proximidade, e então ameaçava disparar.

Sua respiração estava ofegante porque não conseguia economizar na velocidade quando sabia que estava tão próxima. Seus instintos sabiam que sim. Suas mãos formigando, clamando pelo toque da pele quente dele, sabiam que sim.

Corey estava ali.

E Melissa não teve dúvidas quando, em meio àquele monte de árvores tão juntas, que pareciam interligadas entre si, uma pequena cabana de madeira velha surgiu.

Se não tivesse apertado bem os olhos, talvez a tal misteriosa cabana tivesse passado despercebida. Talvez Melissa só tivesse visto porque sabia que deveria estar ali. E porque da janela sem vidros ela enxergou, logo em seguida, a silhueta alta e forte de Corey. Apesar do frio cortante, ele estava, como de praxe, sem camisa. Suas tatuagens pareciam brilhar em meio à névoa que envolvia todo o local. Os músculos das costas se contorceram de um modo tão belo, que Melissa se pegou apreciando a cena. E teve que fechar a boca, quando percebeu que ela estava ridiculamente aberta demais.

O coração batia forte dentro de seu peito. E estava prestes a escapar de sua caixa torácica, quando Corey voltou o pescoço em sua direção. Ela teve que sorrir. E quando ele, cerrando os olhos azuis que brilhavam lindamente, a reconheceu, também o fez. Os lábios que ela sentia sede se curvaram de lado, daquele modo que ela amava, daquele modo que a fazia prisioneira dele. Então seus dentes brancos se mostraram, como se ele já esperasse por aquela visita.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now