Cinco - Insônia

122K 7.6K 7.4K
                                    


A insônia era sempre uma companheira insistente e inconveniente. Naquela noite em particular, parecia estar tentada a acompanhar Melissa, sem intenções de se retirar. Após um cochilo rápido e o estranho sonho com Corey Sanders, Melissa rolou na cama pelo que pareceram longas horas, embora fossem poucos minutos. Seu corpo se enrolou em uma bola entre os lençóis. Estava alerta. Seus instintos trabalhando rigorosamente.

Porém, nessa específica noite - que sucedeu um dia especialmente cheio e agitado, daqueles que Melissa não vivia há tempos - ela já esperava pela vinda de sua amiga mais inoportuna. A imagem de um perturbado Johnatan Reagan a encarando daquela maneira suja e devassa não se apagou de sua mente tanto quanto esperava. Ainda estava ali, parcialmente nítida, atormentando de cinco em cinco minutos. Quando Melissa pensava que o sono viria, e conseguiria se perder em mais um cochilo, já sentindo o corpo dopar e adormecer, lá estavam aqueles olhos escuros e profundos, como um buraco negro a puxando para uma eternidade de escuridão sem fim. Era maligno, sombrio, de dar arrepios desde o início da espinha até a última célula do pé. Melissa abria os olhos e encarava o teto marcado pelas sombras dos galhos das árvores. De uma impertinente forma sombria, eles balançavam de acordo com o ritmo calmo do vento. Melissa virava de lado, juntava um dos travesseiros sobressalentes sobre o rosto, tentava dormir outra vez, e minutos depois, já havia sido privada dessa tão necessária bênção.

Finalmente, vencida pelo estranho sonho com Corey Sanders e pelo maldito Johnatan Reagan e sua depravação desprezível, Melissa bufou irritada. Jogou o edredom pesado de lado, os travesseiros que a rodeavam e vestiu um casaco fofinho de moletom que escapava pela porta de seu pequeno e abarrotado guarda-roupa. Em seguida, calçou os chinelos de flanela quentinhos e saiu corredor afora. Passava da uma da manhã, segundo seu competente relógio de pulso.

A escuridão parcial, interrompida apenas pela luz do luar que vencia as barreiras mal empregadas de algumas persianas, deixava aquele comprido corredor particularmente mais tenebroso do que era peculiar. Um estranho frio pairava pelo local. Era gelado, daqueles que deixam o queixo batendo sem dó nem piedade. Melissa esfregou as mãos nos braços arrepiados e caminhou com uma pressa urgente na direção das escadas. Talvez pudesse assaltar a geladeira do refeitório sem que ninguém percebesse. Ao que tudo indicava, o St. Marcus Institute, àquela altura da noite, já dormia. Menos ela. E quando tinha insônia, só um bom copo de leite quentinho era capaz de combatê-la com extrema competência.

Já na escondida cozinha do refeitório, Melissa abriu uma das geladeiras, deixando que sua luz branca iluminasse o ambiente tomado pela escuridão. Ali não tinha leite, apenas frutas e verduras. Abriu a seguinte, encontrando um bom tanto de frios e pedaços de carne. Na próxima, finalmente, buscou uma das muitas garrafas de leite que ali se acumulavam. Perguntando como faria para esquentar o leite, já que nem tinha ideia de como ligar aquele enorme fogão industrial, buscou em um dos armários um copo.

Com o copo já em mãos, ao virar na direção da porta, Melissa viu uma silhueta escura parada sob o batente. O susto foi imediato. Com as mãos sobre o peito, e a respiração ligeiramente afetada, assistiu uma enfermeira Kate sorrindo se aproximar, sendo iluminada pela luz da geladeira ainda aberta.

- Assustei você? – perguntou, enquanto enrolava o corpo no robe cor de rosa – Desculpe.

- Não, tudo bem. – Melissa forçou um sorriso, ainda se recuperando do susto. Aquele lugar já era naturalmente tenebroso, e uma sombra escura que aparece do nada em meio a uma cozinha que lembrava muito um cenário de filme de terror, certamente não contribuía para a manutenção da calma. – Só não esperava encontrar alguém com a mesma ideia que eu.

- Ah, sempre tem um ou outro assaltando a geladeira na calada da noite. A insônia é um mal comum por aqui.

- Bem, pelo menos eu não sou a única.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now