Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)

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— Você está bem? — a voz de Brian soou longe. Como se ele estivesse do outro lado de um ginásio vazio. Foi apenas um eco.

Melissa ainda estava perdida em devaneios. O cotovelo apoiado na mesa de fórmica do refeitório começava a doer, porém não se dava ao trabalho de mudar de posição. Foi somente quando duas mãos fortes e conhecidas a chacoalharam, que ela foi capaz de voltar ao planeta Terra.

— É sério, Melissa, você está me assustando... Parece um dos pacientes catatônicos do helvete. — ele chamou a atenção. A voz soou preocupada. — Aconteceu alguma coisa?

Melissa pigarreou, tomou um gole do suco de laranja que jazia por um tempo à sua frente, então falou:

— Não aconteceu nada, Brian. – e forçou um sorriso.

Ele não pareceu se convencer.

— Acha mesmo que eu vou acreditar? Se não tivesse acontecido nada, você não estaria aí, parecendo um vegetal...

— Não é nada. — ela voltou a negar, colocando um grande pedaço de bolo de chocolate na boca.

Os eventos sobrenaturais dos últimos dias, sobretudo o do banheiro e o último no arquivo, deixaram Melissa particularmente incomodada naquela manhã. As cenas iam e vinham, repetindo-se em um padrão irritante. Melissa pegava-se perdida e pensativa, tentando entender a razão daquilo. Não tinha lógica, obviamente, e a palavra fantasma ainda teimava em brincar, como se dela zombasse. Para melhorar, não podia contar a ninguém. Porque na única vez em que teve essa brilhante ideia, foi somente para arranjar briga com Brian e ser sutilmente chamada de louca. Para completar, era dia de consulta com Corey Sanders e esse era motivo para deixá-la de humor alterado. Sozinha com ele mais uma vez...

Melissa forçou ao máximo a atenção para ficar em Brian, que a encarava desconfiado. Quando Kate chegou foi um alívio.

— Bom dia, casal. – ela sorriu.

E o poder cativante de sempre do sorriso de Kate não contagiou Melissa.

— Por que não fala mais alto? Acho que não te ouviram no helvete... – a voz de Brian trouxe Melissa de volta, a tempo de ver Kate dar de ombros.

Nem mesmo a insinuação errônea de que ela e Brian eram um casal foi o suficiente para trazer a doutora totalmente de volta ao planeta Terra. E

— Ninguém está ouvindo, Brian. — ela rolou os olhos.

— Você é tão ingênua a ponto de achar que não ouvem nossa conversa? Lindsey está bem pertinho daqui.

— Acho que ela já te superou, pode ficar tranquilo.

— Ela não superou nada, fui encurralado na porta do banheiro outro dia.

— Então quer me dizer que está traindo Melissa?

— Você é maluca, Kate?

— Sério mesmo que vocês vão começar a discutir sobre isso a essa hora da manhã? – Melissa interrompeu Kate, que já abria a boca para retrucar.

Nem se importou com a insinuação de que Lindsey, a doutora ruiva, ainda estava tentando alguma coisa.

— Tudo bem. – Kate buscou a xícara de chá e bebericou — Mas que fique bem claro que você não venceu, Peters.

— Eu não disse que venci... Mas se tivéssemos continuado, pode ter certeza que eu venceria no final.

— Claro que não, Peters, você vem perdendo a sua vida inteira, por que iria começar a vencer agora?

Psicose (Livro I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora