Capítulo 16 - O monstro

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Melissa se arrastava em direção à sala de reuniões do pai. Enquanto andava pelos corredores, tentava entender o que aconteceu naquela madrugada de terça-feira. Sabia que o medo tinha dominado sua mente e corpo, fazendo-a paralisar no tempo, mas para ela a dor só piorou depois que ouviu a voz de Fernando Walk invadir o quarto.

Tinha aproximadamente cinco meses desde o rompimento do seu relacionamento com o médico e cantor. Depois que tudo aconteceu, não teve a chance de vê-lo e, para piorar, quando não conseguiu alcançá-lo no aeroporto, passou todos os dias pensando em como se comportaria quando enfim ficasse cara a cara com ele. Por isso, no momento em que ouviu o barulho das máquinas e os comandos do médico, não teve coragem de erguer os olhos.

Mas lembrou — ainda caminhando pelos corredores rumo à sala do pai — do que vivenciou ao receber o abraço de Gustavo Mark. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que alguém estava ali para ela. Percebeu que com Gustavo Mark poderia ser ela mesma, sem se importar com os olhares julgadores. Não precisava mostrar que era cem por cento forte em qualquer situação, pôde se comportar como um humano que erra e chora.

Depois de refletir sobre os últimos acontecimentos de sua vida, Melissa finalmente parou de frente para a sala de reuniões. Sua mente estava tão desgastada que preferiu dar meia-volta e ignorar o recado do pai.

Porém, ao girar o corpo, trombou em Paulo. Melissa sentiu o impacto e seu corpo foi jogado contra a parede, mas o irmão gêmeo foi mais rápido e a agarrou pelo braço, trazendo-a de volta à estabilidade.

Paulo observou a irmã e percebeu que ela com certeza estava tão cansada que nem se importava em se machucar. Sobretudo porque quando alguém é empurrada contra a parede, tenta se proteger, ao contrário da irmã, que praticamente tinha se deixado cair. Era como se ela estivesse disposta a fazer qualquer coisa para não ter que enfrentar o "General Rafael" naquele dia.

Mas o médico não teve como ajudar a irmã, já que a porta foi aberta atrás deles segundos depois que segurou Melissa. Os gêmeos viraram-se e deram de cara com Evelyn, que praticamente os empurrou para dentro da sala.

— Filha, você está melhor? — disse, enquanto segurava no braço dela e passava os olhos pelo corpo da médica procurando ferimentos. — Está sentindo alguma coisa?

Melissa resolveu não responder nada. Desgrudou as mãos de Evelyn de seus braços e passou os olhos pela sala, que tinha um formato oval. As cadeiras eram acolchoadas e havia uma mesa redonda e transparente no meio da sala. Rafael encontrava-se sentado na ponta da mesa, de frente para a porta. Ele segurava um tablet extremamente fino nas mãos e levava vez ou outra uma xícara com chá até a boca.


Melissa já sabia do que se tratava todo aquele "circo", mas escolheu se recompor para enfrentar o pai. Então ela ergueu o corpo, se apoiou no sapatênis branco que usava, enfiou as mãos dentro dos bolsos do jaleco e foi andando em direção à mesa. A tensão pairava pelo ambiente, e Evelyn resolveu segurar nos braços dos filhos para acalmá-los, depois os guiou até duas cadeiras próximas do esposo. Paulo puxou o assento que estava do lado esquerdo de Rafael, já Melissa escolheu se acomodar junto ao irmão, na cadeira seguinte. Evelyn, por sua vez, foi a última a sentar e puxou o objeto acolchoado até onde o marido estava, pois queria acalmá-lo caso algo acontecesse.

— Chamei vocês aqui para esclarecer algumas coisas — Rafael começou a falar. Em seguida, colocou o tablet em cima da mesa. — Talvez você não se lembre, querida filha, mas em Janeiro, em um dia frio como este, acordamos com esta imagem nos jornais... — Ele apontou para o tablet.

Melissa pegou o objeto e ergueu-o no ar. Ela sorriu de canto debochando, porque, depois que aquilo tinha acontecido, foi convocada até a sala do pai mais vezes do que nos anos anteriores.

Te Entreguei Meu Coração ❤️ - Série Médicos Do Fim  [FINALIZADO]Where stories live. Discover now