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Dezembro de 2007.

A cidade de Monte Cristo era grande, e cheia de diversidades. Tumultuada e decorada pelos grandes prédios, lojas, shopping, estacionamentos, hospitais, becos e casas - além dos bairros que separava muito bem as pessoas -. A zona rural era pacífica, e bem contrária da cidade, para ir para lá era necessário boas horas dentro de um automóvel.

Mas claro, a cidade não era perfeita. Mesmo rendendo bons empregos, haviam pessoas necessitadas. Pessoas que não tiveram tanta sorte, que passaram a depender de seus esforços vendendo o que podiam nos semáforos, ou o que podiam encontrar no grande lixão.

A jovem Mavi, fazia parte dessas pessoas.
Com apenas três meses de vida, foi encontrada por um homem. Este, temeu em pegá-la, temeu em levá-la consigo. Mas seu coração tremeu ao pensar na fome e frio que a pequena poderia estar sentindo. Ele poderia tentar, ele poderia dar chance a menina tão pequena, de sobreviver.
E a sua tentativa não foi em vão, ela cresceu e já era uma jovem alta e atenta.

Mesmo vivendo perante as dificuldades da vida, Mavi tinha força para lutar e dava a si mesma. Não só por ela, mas pelos irmãozinhos em que vida à deu.

Paulo, Sol e Bento.
As três crianças que foram achadas tão pequenas, mas tão amadas desde o momento em que chegaram aos braços de Mavi.

E olhando para Paulo e Sol, enquanto Bento permaneceu na pequena cabana de lona um tanto afastada da cidade a qual eles cinco viviam como uma família, assentiu para eles assim que os carros pararam no trânsito.

Paulo parou em meio aos faróis ligados dos automóveis. Suspendeu suas mãos ao alto com as bolas verdes e vermelhas em mãos, começando assim seu malabarismo. Ele era um menino franzino, um pouco alto, de uma beleza exuberante. Ele tinha fugido da casa em que morava com sua mãe, no dia em que seu padrasto apareceu altamente violento contra os dois. Paulo temeu, e na primeira oportunidade fugiu com apenas sete anos.

Mavi o encontrou enquanto as costas do menino estavam apoiadas no muro de cimento, o corpo dele estava tremendo por conta do choro. Nela, o menino viu que poderia confiar, e sem hesitar deu a sua à ela.

Salvas de aplausos foram dadas à ele assim que sua apresentação de malabarismo terminou, ele agradeceu com reverência. E com pressa, retornou para onde Mavi e a pequena Sol estavam paradas.

- E então? - ofegou - O quanto pagaram? - perguntou à menininha.

Sol era um pouco menor, com apenas seis anos tinha lindos olhos e uma flexibilidade excelente. Mavi a encontrou perto do lixeiro enorme nos fundos do velho restaurante engordurado do Sr.Smith, o homem gordo e baixo que de uma vez ou outra separava um prato para eles, Mavi a abrigou com todo o seu amor e carinho.

-... olha, dá para comprar alguma coisa - respondeu a menininha, dando de ombros e inclinando seu rosto para o lado.

- Temos que esperar mais uma vez que os carros dêem uma pausa, para voltarmos - informou Mavi, logo assim que viu as rodas dos automóveis aceleraram sobre o asfalto.

- Verdade!

Mavi suspirou.

- Bom, é melhor nos sentarmos.

E eles o fizeram, na calçada próxima onde muitos andavam. Paulo ficou com a lata de dinheiro acolhida contra seu peito, enquanto Mavi olhava pacientemente o semáforo, e Sol os palitos grandes com fitas azuis na ponta.

Mesmo tendo uma boa quantia juntada ao decorrer da tarde e noite, Mavi não queria levar apenas aquilo. Estava apostando, no fundo, que a apresentação de Sol com as fitas enquanto dançaria, poderia fechar o pote naquela noite fria de dezembro.

Simplesmente, Você | Livro I Where stories live. Discover now