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Com as mãos fixas no livro, Vera soltou seu braço no descanso do sofá. Seus óculos pendiam em meio ao seu nariz, enquanto os olhos cristalinos deslizaram sobre as letras negras da folha. Quando ela menos esperou, a presença de alguém a deixou desprevenida.

— Acordado a essa hora? Pensei que estivesse dormindo.

Adam balançou a cabeça, sentando-se na outra ponta do sofá.

— Eu acabei o perdendo.

— Que pena, mas deve ser porque você não está acostumado a dormir em outro lugar.

— É. Deve ser isso mesmo.

Poderia ser, se fosse verdade. A mente de Adam estava incrivelmente empenhada em pensar na situação que estava vivendo, tirando-o até mesmo o direito de ir dormir tranquilo. Olhando um pouco mais para Vera, percebeu um vislumbre de tristeza fazer os olhos da mulher parar em algum ponto específico do livro. Mesmo conhecendo ela à questões do horas, se preocupou.

— Aconteceu alguma coisa, Vera?

Ela pigarreou, voltando a si mesma.

— Não, não aconteceu nada demais. Foram apenas pensamentos meus.

— Tem certeza?

Mesmo ela assentindo, não foi o suficiente para Adam. Tinha alguma coisa errada...

— Vera — a chamou — Nos conhecemos a pouco tempo, mas já te vejo com alguém bem próximo.

— Fico feliz por isso, filho.

—... e isso também quero dizer que eu me preocupo com você. — completou — Não vou mentir para você... eu vi essa mesma tristeza no fundo dos seus olhos quando cheguei, principalmente quando estávamos na sala junto com os outros.

Vera ficou surpresa pela revelação. E naquele momento, sentiu que podia até chegar dizer algo à Adam, ele era doutor e quem sabe poderia lhe dar conselhos e ajudá-la. Não para se exibir, mas em busca de ajudá-la a melhorar. Ela se rendeu, soltando os ombros e a mão com o livro.

— Essa mesma tristeza que você vê em meus olhos, de uma vez ou outra, Adam. Sempre esteve aqui.

Ele hesitou, esticando suas iris tão azuis quanto o céu.

—... mas por que, Vera?

Adam queria saber, e quem sabe encontrar uma forma de ajudar a mulher que desde quando o conheceu, estava sendo gentil.

— A falta, a distância e a dor de ter que estar longe... estar longe de quem mais amo — ela dobrou os lábios, segurando-os com firmeza, na expectativa de que não chorasse na frente dele — Num tempo tão especial, não posso   a ter comigo.

—... e quem é essa pessoa? Talvez eu possa ajudar trazê-la para cá, eu posso conversar com ela e...

— Não, não — Vera sussurrou — Isso não será possível.

— Por que não? — ele indagou — Quem é essa pessoa que você não pode ter ao seu lado, Vera?

Ela não pôde responder graças a presença de sua sobrinha, a qual surgiu ainda com o pijama e casaco cumprido sobre os ombros.

— O que tanto conversam, em? — bocejou.

— Não é nada demais, querida — Vera fungou — Pelo visto você também não dormiu, não é?

— Eu estava dormindo, mas acabei despertando... Temo que terei de tomar algum remédio para tirar um sono longo.

— Não diga isso, minha menina — Vera se ergueu, parando ao lado de Silvana — Tome um simples chá, que você vai ver o bom resultado que vai lhe dar.

Simplesmente, Você | Livro I Where stories live. Discover now