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Emergindo suas mãos entre as pilhas e mais pilhas de lixo, Mavi procurou com cautela cada material que lhe poderia ser útil. Aquele dia ela estava determinada a levar alguns para casa, e outros para vender junto com Nina.

Um tecido espesso fez contato estranho com seu dedo. Sua testa franziu, e sem medo enfiou sua mão para saber do que se tratava. Em poucos segundos, o tecido revelou um vestido branco e cumprido. Mavi o achou muito bonito, o comparou com seu tamanho e chegou a rodar com ele.

Umas das catadoras viu sua movimentação, e com passos rápidos se aproximou.

— Esse vestido é bonito.

— E não é? Me sinto uma princesa, mesmo que eu não tenha vestido ele.

A moça sorriu, chegando a tocar no tecido sujo.

— Uma boa lavada nele, algumas costuradas e ele ficaria novinho — a olhou — Mas esse vestido de noiva ficaria bem em você.

Mavi congelou ao escutar a palavra noiva.
Ela sabia o real significado, mas ficou realmente surpresa pelo vestido estar logo ali.

— Ele é tão bonito para estar aqui...

— Sim. Mas com certeza quem o teve, não conseguiu ter um casamento feliz — deu de ombros — Mas também é bem comum ver coisas desses tipos por aqui. Uma vez eu já, encontrei um buquê.

— Ah... — a olhou — Mas por que essa pessoa faria isso? Talvez ela deveria doar e...

— As vezes, tem coisas na vida que escolhemos que não dá muito certo, sabe? Até mesmo os casamentos.

— Até mesmo pessoas que se amam?

— Sim. As vezes é o próprio amor que acaba... — suspirou — Por isso devemos escolher bem quem irá passar o resto da vida ao nosso lado. Se não, vai acontecer o mesmo com o vestido que escolhemos, com esse daí.

Mavi afastou o tecido do seu corpo.

— Será que as pessoas podem chegar até mesmo nesse limite?

— Tem pessoas que fazem pior. Mas se essa mulher teve um casamento infeliz, eu com certeza não iria de deixar de fazer o mesmo. Eu que não iria querer ter o resto do que aconteceu no meu passado, no meu futuro.

Mavi olhou para o vestido mais uma vez antes de deixá-lo, tomando nota em sua mente de que quando voltasse para casa, teria mais perguntas a fazer para Genésio. E quando finalmente chegou no lugar, primeiro foi surpreendida com os pulos animados de seus irmãzinhos.

— O que você trouxe Mavi? — indagou Paulo.

— Ai, muitas coisas. Como foi natal alguns dias atrás, deu pra encontrar bastante coisa. — abaixou sua mão, para deitar o saco no chão — E eu posso saber por que estão assim, tão animados? Acho que não é só porque cheguei.

— Claro que não — negou Sol — A gente vai te pedir uma coisa.

— E o que é?

Sol deu um risadinha para Paulo.

— Bom. Eu, o Paulo e o Bento queríamos te pedir para deixar a gente bem bonito.

— Iremos sair hoje, Mavi — contou Bento, levantando-se de perto da cabana, guiando-se com uma vara para chegar até eles.

— E para aonde será?

— Fomos convidados para o aniversário de uma das crianças aqui próxima, a família dela disse que podíamos ir.

— Sério?

— Sim!

— O Genésio foi até levar as nossas melhores roupas para a lavanderia da cidade, para ficarmos lindos. — anunciou Sol, dando um giro no final.

Simplesmente, Você | Livro I Where stories live. Discover now