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Cobrindo o colar entregue por Genésio, Mavi se distanciou voltando para a cabana. Já era manhã, e aos poucos os meninos estavam despertando.

— Eu sei que acordaram agora, mas eu já quero pedir para que não saiam hoje cedo, está bem?

— Você não quer que trabalhemos também, Mavi? — indagou Paulo, limpando os olhos.

— Exatamente, podem dormir o quanto quiserem.

Ele comemorou dando palmas e voltando para o meio das cobertas. Mavi rolou os olhos, e deu uma última olhada para eles antes de passar em ir em direção ao caminho. Ela ainda poderia ocultar sua resposta, mas pela consideração de Adam não iria fazer aquela desfeita.

Chegando ao lago, uniu seu dedos e se sentou à beira. Seu rosto carregou um sorriso ao sentir que a água estava já quentinha.

— Como eu queria que a minha vida permanecesse nessa paz — suspirou — Nessa tranquilidade — uniu seus joelhos ao peito.

Pelos minutos que se passaram, Mavi chegou a desconfiar que os dois não iriam aparecer. Ela se levantou, olhando para todos os lados e cruzando os braços, já apreensiva.

— Mavi? — a voz de Adam a fez virar para olha-lo.

Ela hesitou ao ver a mulher que o acompanhava. Ela era alta, magra e de uma beleza dificilmente encontrada pelas ruas ou pelo lixão. Ela com certeza era uma mulher que sequer passaria por uma vida de classe baixa.

Adam se aproximou, já estendendo suas mãos para apresentar-las.

— Essa é a Vera, a dona de onde você e as crianças irão ficar.

Cativada pela beleza genuína da moça, Vera estendeu sua mão.

— É um prazer te conhecer, Mavi.

— Também é um prazer te conhecer.

Vera sorriu pela simplicidade da garota. E Mavi sorriu, ao olhar e perceber um conforto nos olhos de Vera. Ela com certeza devia ser como Adam, uma pessoa boa que, mesmo tendo todo o dinheiro que tivesse, não deixava de ser boa com as outras ao seu redor.

— Mavi — Vera hesitou. — Eu realmente quero te ajudar, filha. Quero poder te dar todo abrigo, e também aos seus irmãozinhos. E quem sabe, com o tempo que se passar e com a sua permissão, a minha amizade — sorriu.

Por um aperto desconhecido em seu coração, Mavi correu para longe.

— Ai, meu Deus. Será que eu falei alguma besteira?

— Não, não — negou Adam — Ela deve estar ainda assustada. Por favor, Vera. Nos espere aqui. Eu vou atrás dela!

— Tudo bem, vá!

Adam assentiu, correndo em seguida. Ele olhou para todos os lados, já desesperado pela fuga de Mavi. Entretanto, não foi necessário que corresse mais para achar Mavi. Ela estava caída no chão, soluçando e em um pranto longo. Adam correu para ela, a envolvendo com seus braços.

— Mavi, o que aconteceu? Por que está assim? Por que você correu? Por que fugiu?

— Me deixa em paz, Adam. Eu não posso ficar perto dela, eu não posso ficar perto de você!

— Mas por que isso, meu Deus? Por que? — indagou — Você não viu, Mavi? Ela quis vir conhecer você! Ela não pensou duas vezes em vir!

— Acontece, Adam — virou-se para olha-lo — Que mesmo que eu esteja com vocês, mesmo que ela me forneça tanto amor e segurança. Eu nunca, nunca vou ser como vocês! Eu vivo na rua desde que eu me conheço por gente! Eu nunca vou mudar e me encaixar em todo o luxo que vocês vivem!

Simplesmente, Você | Livro I Onde as histórias ganham vida. Descobre agora