Capítulo 90 - Armadura

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Pensar que foi no século X que os guerreiros começaram a desenvolver as primeiras armaduras de proteção para combate. Há tantos anos... O couro e o algodão resistente foram logo substituídos por chapas de metais que protegiam o peito, resistindo aos ataques de flechas e espadas mais afiadas. Aos poucos todo o corpo do guerreiro foi sendo coberto com placas de metal para máxima proteção. Os primeiros capacetes foram desenvolvidos... Mas o custo era um fator limitante na época. O processo de fabricação era lento e artesanal. A armadura estava disponível para poucos guerreiros, mas o peso era um outro empecilho nas batalhas. A agilidade, velocidade do combatente aramadurado era por demais prejudicada para ataque.

Quem diria? Hoje, 200 séculos depois, as armaduras continuam sendo usadas, aliás, são equipamento padrão dos soldados da infantaria republicana. A republica terrestre possui dois milhões de soldados armadurados com exoesqueletos servindo em diversas missões pelo universo. As armaduras continuam sendo indispensáveis para combate e ocupação. As armaduras atuais superaram todas as antigas limitações e são extremamente resistentes, leves e cobrem 100% do corpo do soldado. Tornaram-se exoesqueletos muito sofisticados, confortáveis, permitem quase todos os movimentos e foram desenhadas para uso indefinido em combate e treinamento. Também são trajes de comunicação, sobrevivência, reciclando ar, água e comida.

As armaduras evoluíram e se tornaram armas quase perfeitas. Um escudo eletro magnético intenso protege o corpo do soldado de todo tipo de ataque de raio laser, radiação e de explosões de até 1.5 megaton. Além das defesas anti-projetil, as armaduras se aprimoraram para o ataque com armas de assalto, drones e espadas de arco de corte voltaico. A armadura carregada para combate pesa duzentos quilos mas para o soldado, a sensação não passa de vinte quilos. A armadura também se tornou um traje de sobrevivência NÍVEL SETE, útil em todo tipo de terreno e atmosfera resistindo até 2.599 graus Celsius. Os soldados podem comer, beber e fazer todas as funções e necessidades biológicas sem tirar a armadura. Claro que transar armadurado não é permitido. O pênis dos soldados fica confinado constantemente em um tubo com sonda. De cinco em cinco dias, os soldados são estimulados com agulhas e eletricamente pela armadura até gozarem para se manterem saudáveis e focados no combate e treinamento. Os jovens soldados detestam as armaduras nível sete, porque são muito restritivas e eles nunca sabem quando vão poder tirar, mas os combatentes não têm alternativa. Eles têm que usar em combate.

Os soldados não conseguem tirar as suas armaduras por si só, porque ficam trancadas e presas em seus corpos. São sua segunda pele de metal, seu exoesqueleto metálico e ao mesmo tempo uma prisão corporal e mental. Alguns civis comentam como deve ser difícil passar um dia, uma hora sequer nessas armaduras. Os jovens soldados passam anos armadurados e prontos para combate. A disciplina é muito rígida, sem folga, sem distrações, é quase brutal. Mas a divisão armadurada é a elite e a melhor arma do exército republicano.

Além da proteção óbvia, dos armamentos embutidos, o fator psicológico é muito relevante devido ao sentimento de união da tropa e ao terror que as armaduras de combate provocam nos inimigos. Os soldados são todos iguais e sem rosto e são muito disciplinados e intimidadores. O soldado armadurado passa por um intenso treinamento psicológico para se tornar uma arma mortal.

Os soldados armadurados são treinados e acostumados a passar longos períodos em suas armaduras. São monitorados, treinados, doutrinados e comandados por três algoritmos de inteligência artificial. A carga da bateria dura até dois anos, mas pode ser recarregada sem a necessidade do soldado tirar sua indumentária de combate. No entanto, em média, os soldados republicanos passam dezoito meses confinados em suas armaduras treinando ou em combate antes de receberem folga de cinco dias e retornarem para outro período de armaduramento chamado de clausura. São necessárias duas semanas para enclausurar um soldado (vestir, trancar e ativar a armadura) e uma semana para retirar e desconectar a armadura de combate. O processo é chamado de extrusão. Só para descalçar as luvas de metal são necessárias vinte horas. Tudo foi projetado para que os soldados se sintam totalmente confortáveis, dependentes e adaptados ao traje de combate e se sintam desprotegidos, lentos e desajeitados quando livres da sua armadura. Os soldados estudam, treinam, combatem, dormem e vivem em suas armaduras. A alimentação, limpeza, monitoramento médico é interno e comandada pelo equipamento de forma programada e autônoma.

O recorde de enclausuramento (uso ininterrupto de armadura de combate) é do soldado 13.775, que usa sua armadura há nove anos e meio. Se a armadura dele for retirada, talvez o soldado 13.775 possa não sobreviver. Atualmente o soldado 13.775 serve nas tropas de ocupação de Aldebarã e é o orgulho da equipe Alfa. O 13.775 não é mais considerado humano pelos colegas. Ele se tornou uma máquina se fundindo em sua armadura fria.

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