Capítulo IV

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Anastásia corria desesperada com medo. Ela achou que foi a melhor solução para aquele momento, afinal, aquele homem estranho sabia seu nome. E se fosse um amigo dos Tchecov, e dissesse a eles que estava comprando passagem em uma estação de trem?

Lágrimas começaram a brotar em seus olhos, e diminuiu o ritmo da corrida. Quando pensava que estava se livrando de algo, aparecia algo para atrapalhar todos os seus sonhos e planos. Achava que Deus e o destino não queriam vê-la feliz, nem que fosse por um prazo pequeno.

Seus pensamentos voltaram para o garoto da estação, mesmo que por uma pequena fração de momento, pensou que conhecia aquele rosto; principalmente aqueles olhos tão azuis, a sensação que sentiu era que se conheciam de algum lugar. Poderia estar ficando louca, mas ele tinha alguma semelhança com ela.

Riu de si mesma, era bastante claro que aquele homem era um nobre, pois se vestia elegantemente bem. Jamais poderia ser alguma coisa dela, não fazia nenhum sentido. Andava devagar para tentar retomar o fôlego que perdeu fugindo daquele rapaz.

Quando chegou em sua casa, sua irmã adotiva fazia uma costura em um possível vestido novo, que era muito bonito por sinal. Ela sempre suspeitou das vestes da mãe e irmã, pois elas sempre diziam que não tinham dinheiro, e Anastásia sabia que roupas como aquelas custavam caro.

— O que está olhando? — Alena largou o vestido de lado. — Está com inveja?

— Por que eu teria inveja? — Anastásia começou a retirar o casaco. — Não preciso de vestidos bonitos.

— Realmente. Nem mesmo com as melhores vestes ficaria bonita. — Alena tomou o casaco da mão dela rápido. — Esse seu casaco sempre fedorento. Igual a você.

— Devolva-me! — tentou pegar novamente, desesperada ao lembrar do seu bilhete de trem.

— Por quê? Está escondendo algo? — Alena riu.

— Sinceramente, não lhe devo satisfações. Devolva-me o casaco.

— Não. — enfiou a mão nos bolsos e puxou o que ela mais temia. — Moscou. Você vai para Moscou? Nunca que você vai. Nunca!

— Não é ninguém para dizer aonde vou e onde deixo de ir.

— Mas eu sou sua petulante! — Nádia pegou o bilhete na mão de Alena. — Você pensa que é quem para fugir de casa e ainda desafiar minha filha?

— Eu sou Anastásia, tenho todo o direito de sair dessa casa!

— Você só sairá daqui por cima do meu cadáver!

— Então que eu saia. — cruzou os braços. — Você não gosta de mim, o que a faz me manter aqui? Nada. Puro egoísmo e ganância sobre o meu dinheiro.

— Você me respeite! — Nádia desferiu um tapa na cara de Anastásia. — Por muito tempo me segurei para não bater em você. Agora vou descontar os atrasados por sua travessura de hoje.

Nádia começou a bater no rosto de Anastásia como se fosse uma carne que merecia ser amolecida. Segurou-se para não derramar nenhuma lágrima, porque não iria dar aquele gosto para a mulher que parecia enlouquecida ao bater nela. Sentiu um misto de sentimentos que nunca poderia imaginar sentir algum dia em seu corpo, principalmente naquela intensidade.

Anastásia estava com raiva. Muita raiva.

Quando, aparentemente, achou que era o suficiente, segurou seu queixo com força e observou o rosto dela bastante vermelho, com o nariz sangrando. Lágrimas não paravam de descer por seu rosto, que minutos antes estava completamente perfeito. Mas agora estava bastante dolorido e machucado.

— Isso é para aprender a se comportar melhor, Anastásia. Lembre-se que deve sua vida para nós. — Nádia rasgou o bilhete diante dos olhos dela, sem pestanejar. — Acho melhor que eu não descubra mais alguma coisa. Agora vá para o seu buraco, e fique por lá até ser tolerável olhar para seu rosto novamente.

Anastásia saiu da sala e foi para aquilo que chamava de quarto. Começou a chorar, como não fazia há bastante tempo. Seu rosto começou a ficar ainda mais dolorido, e sentiu seus olhos ficarem bastante inchados. Tirou o resto da roupa pesada, colocou outra roupa e se deitou na cama improvisada.

Ficou horas olhando para o teto, fazendo várias perguntas para si mesma que provavelmente nunca obteria respostas. Para se sentir melhor, pegou seu broche que estava escondido debaixo da tábua. Talvez fosse sua única pista para encontrar sua família biológica.

Achava que o broche era falso, duvidava muito que fosse verdadeiro, pois acreditava que se fosse de uma família rica, não teria sido abandonada. Sentiu seus olhos ficarem cansados; finalmente o sono e o cansaço a fizeram dormir.

Natasha Bulganova arrumava sua mala junto com as criadas. Voltar para São Petersburgo seria algo totalmente estranho para ela, fazia tantos anos que tudo tinha acontecido. Seu pai ter tomado aquela decisão foi uma surpresa para todos, principalmente para sua madrasta que tinha pavor de tudo que relacionava sua falecida mãe.

Seus cabelos loiros caiam por suas costas, o que a estava incomodando bastante, pois ficava caindo sobre seu rosto.

Suas irmãs, Tatiana e Ivana entraram no quarto com seus broches em mão admirando.

— Pensei que o broche se colocava na roupa e não na mão. — Natasha pegou o seu que estava em cima da penteadeira, colocando perto do decote. — Eu acho simplesmente lindo.

— Nossa irmã tinha um, não tinha? — perguntou Ivana.

— Todos nós ganhamos um broche da mamãe. — Tatiana suspirou. — Saudades dela.

— Evite falar isso perto da nossa madrasta. — Ivana riu. — Ela só vive triste pelos cantos.

— Ainda ri, Ivana? — Natasha soltou um risinho. — Que maldade.

— Vou chorar? Todos sabem que papai ainda ama a mamãe. — sentou-se em uma poltrona perto da lareira. — Só resta ela aceitar.

— Meninas, podem ir. Obrigada. — Natasha dispensou as criadas, que saíram rapidamente fechando a porta. — Gostaria de saber a sensação dela em ver tantas cópias de Alexandra Bulganova na frente dela.

— Deve ser horrível! Tatiana, Dimitri e Alexander têm a feição e os olhos. Natasha, eu e Nikolai os cabelos e os olhos.

— E Anastásia? — perguntou Natasha.

— Ela tinha os cabelos negros do papai e os olhos da mamãe. Mas era um azul bem mais intenso que o nosso. As feições dela era uma mistura perfeita de nossos pais. Lembro-me dela, e de como era mais travessa do que os meninos. Tenho saudades da minha irmã.

— Vantagens de ser mais velha são as lembranças das coisas do passado. — Ivana colocou o broche no vestido. — Eu lembro de pouca coisa, as imagens são incompletas.

— São memórias vagas. — Natasha resmungou. — Dimitri, Tatiana e Ivana possuem as melhores lembranças.

— Vocês não viram a mamãe morta. — Tatiana enxugou a lágrima que descia por seu rosto. — Foi a pior coisa que presenciei em toda minha vida.

— Retiro minhas palavras em partes. — Natasha sentou no tapete em frente à lareira.

— Você deveria cantar algo para nós, Tati. — Ivana sugeriu. — Você sempre teve uma voz tão bela.

— Está bem. — Tatiana sentou-se em outra poltrona. — Quais vocês querem?

— Qualquer uma.

— Como quiserem.

Tatiana começou a cantar uma música popular da Rússia, da qual ela amava. Era como se estivesse no passado vivendo os bons momentos com a família em São Petersburgo. E não demoraria para poder reviver suas lembranças naquele lugar marcado por tanto amor e infelicidade.

Respirou fundo e se deixou levar pela canção.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now