Apesar de estar ocorrendo um baile no salão, Anastásia sentia-se mais agradável no gabinete do seu pai com seus irmãos, falando coisas engraçadas e perturbando o juízo de Dimitri, que estava no décimo copo de conhaque. Seu irmão já tinha se acalmado, mas parecia que aquela bebida era a sua favorita.
— Acho que deveríamos voltar para o salão. — disse Alexander tragando seu cigarro. — Devem estar sentindo a nossa falta.
— Com certeza estão querendo comer Anastásia viva. — Dimitri também acendeu um cigarro. — Não tiveram oportunidade de perturbá-la com milhares de perguntas para deixá-la envergonhada.
— Não se preocupe. — Anastásia passou a mão pelo cabelo arrumado de Alexander. — Eles tiveram oportunidade de fazer isso.
— Como se sentiu? — perguntou seu pai.
Anastásia deu de ombros e abraçou o próprio corpo.
— Como se não pertencesse a esse lugar. — disse Dimitri.
— Dimitri e essa mania insuportável de responder pelos outros. — Alexander revirou os olhos. — Preciso voltar, devo uma dança para a Srta. Globitcheva.
— Filha do general Globitchev? — Dimitri deu um sorriso malicioso.
— Outro casamento? — Anastásia passou o braço pelo ombro do irmão. — Quero conhecê-la.
Anastásia notou o rosto de Alexander ficar completamente ruborizado e riu zombeteiramente da reação dele. Olhou para seu pai, e para sua surpresa, não estava rindo, parecia distante e tinha uma expressão de dor no rosto. Andou até ele e apertou seu ombro.
— Está sentindo alguma coisa, meu pai?
Ele colocou sua mão sobre a dela e sorriu minimamente.
— Estou com uma dor de cabeça aterrorizante.
— Não seria bom chamar um médico?
— Creio que não seja necessário. Deve ser toda essa agitação. Não se preocupe.
— Vou retornar para o baile novamente. — Alexander levantou-se da poltrona.
— Em breve eu também vou retornar. — seu pai disse apoiando a cabeça na mão. — Dance bastante.
Alexander afirmou com a cabeça e saiu do gabinete.
Um guarda entrou logo em seguida, trancando a porta, o que Anastásia achou estranho, pois não era uma atitude normal. Seu pai levantou a cabeça e olhou para o homem com estranheza. Depois, sua expressão facial fechou-se e seu olhar ganhou um brilho de fúria.
— Ivan. — seu pai disse com a voz entrecortada. — Não lembro de ter enviado um convite do baile.
Quando Anastásia ouviu seu pai pronunciar aquele nome, seu corpo ficou completamente paralisado, sem reação alguma. Dimitri levantou-se, mas por causa da bebida, cambaleou e sentou novamente.
— Ora, Vladimir, pensei que havia sido um engano toda essa situação. — a voz grave do homem invadiu o ambiente. — Como sempre, sistemático. Nada aqui mudou. Ainda tem aquele conhaque francês? — olhou para a mesa com as bebidas. — Oh, tem sim. Posso me servir?
— Fique à vontade. — Vladimir indicou com a mão a mesa.
Anastásia encarou Ivan temorosa e assustada, mas acima de tudo, não entendia o que seu pai pretendia com toda aquela cordialidade com o inimigo. Ela começou a andar em direção a porta, pretendia sair dali e pedir ajuda para os verdadeiros guardas.
— Pare, Anastásia. — disse o homem. — Não comece a tornar as coisas difíceis tão cedo. Está muito bonita nesses belos trajes da corte. Eu sempre gostei dos bailes, principalmente das belas damas e belas danças.
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A grã-duquesa perdida
Historical FictionAnastásia adotada pela família Tchecov, não faz ideia da onde veio e como foi parar lá. A única coisa que ela tem como talvez uma lembrança da sua família seja um broche de ouro com a letra A gravado com rubis. Um dia resolve fugir para Moscou e ten...