Capítulo XVII

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O vento gelado batia com violência no rosto do czar. Sua esperança de encontrar o assassino da sua mulher e o sequestrador da sua filha aumentava a cada minuto. O chefe da polícia secreta comandava os homens para vasculhar em cada local. As pessoas estavam assustadas com tantos policiais. Todos estavam bem armados, principalmente ele.

Estavam batendo em cada casa pedindo informações e mostrando fotos de Ivan, mas ninguém o conhecia. Rodaram por todo o interior de São Petersburgo, mas não obtiveram sucesso.

Vladimir estava ajudando também nas buscas, e a cada pessoa que dizia que não o conhecia, o deixava mais angustiado. Desconfiava que tinham medo pelo czar estar ali na porta deles pedindo informações, ou porque eles não sabiam realmente.

Estava indo para a última casa da rua, acompanhando com dois guardas. Subiu as escadas para o rol da frente, e bateu lentamente na porta. Depois de alguns minutos, uma senhora abriu a porta.

— Boa noite senhores. — tossiu. — O que desejam?

— Boa noite senhora. — Vladimir disse. — A senhora já viu esse homem? — ele pegou uma fotografia de Ivan no seu bolso. — Ele é procurado por toda a Rússia, mas parece que sumiu repentinamente. Ninguém nunca o viu ou conhece.

— Posso? — apontou para a foto.

— Claro. — entregou a foto para ela.

Ela começou a olhar a foto, esfregou os olhos, olhou novamente. Crispou os lábios, e entregou a foto para o czar.

— Majestade, na última rua desse bairro, existem duas casas. Elas são as mais afastadas. Nós não temos muita intimidade com as pessoas que moram lá. Conhecíamos uma jovem que passava por aqui constantemente para ir trabalhar na fábrica Sukhov. Ela sempre vinha daquela área, deve ser filha do casal. — tossiu mais uma vez. — Há onze anos um homem veio morar aqui, ele nunca quis amizade com ninguém. Dizem que ele só fala com essa família. Esse homem pode ser o que procura.

— Como é seu nome senhora? — o czar perguntou com certa alegria na voz.

— Sou Klava Petrova.

— Não tenho palavras para agradecer a senhora. — pegou as mãos dela, e beijou cada uma. — A senhora está trazendo uma grande esperança para meu coração. Será recompensada por ajudar a família imperial.

— Deus salve o czar e a sua família. — sorriu com os poucos dentes que ainda lhe restavam. — Espero que o senhor tenha sorte, não precisa me recompensar. Apenas traga nossa grã-duquesa de volta.

— Deus ouça suas palavras, Sra. Petrova.

— Ele vai ouvir.

Os guardas e Vladimir foram correndo para o automóvel. O motorista que já estava no carro ao ouvir as instruções, ligou o carro e acelerou. A rua que a senhora havia falado era mais afastada do que ele havia imaginado, ficava perto de uma floresta.

Eles desceram do automóvel, e avistaram marcas de pneu na neve, possivelmente seus homens estiveram ali, porém, ele queria conversar com as pessoas que moravam naquelas casas. Foi em direção da maior, porém rústica, e bateu na porta. Uma jovem abriu a porta depois de alguns minutos. Sua expressão era assustada, provavelmente não esperava uma visita do senhor de toda a Rússia.

— Boa noite senhorita. Podemos conversar?

— Vossa Majestade. — fez uma reverência. — Em que eu posso ajudá-lo?

— A senhorita conhece esse homem? — pegou a foto do seu bolso novamente, e mostrou para a jovem.

Ele percebeu o quão ela ficou nervosa e pálida.

— Eu... — gaguejou. — É...

— Sim? — arqueou a sobrancelha.

— Com quem você está falando Alena? — uma voz masculina surgiu.

— Com o czar. — respondeu.

— Com quem? — um homem chegou por trás dela. — Você só pode estar... — encarou Vladimir assustado. — Vossa Majestade. — fez uma reverência. — O que o senhor deseja?

— Procuro por Ivan Tchaikovsky.

— Esse nome não é estranho. — o jovem colocou a mão no queixo e franziu o cenho.

— Claro que não é imbecil. É o assassino da antiga czarina.

— Oh sim.

— Vocês moram sozinhos nessa casa?

— Não. Nosso pai está no hospital, nossa mãe foi ficar com ele. Sou Alena Tchecova, e esse é meu irmão Daniel Tchecov.

— Existe outra irmã? — lembrou-se da dama de Natasha, que tinha o mesmo sobrenome.

— Sim. — revirou os olhos. — Anastásia.

— Ela trabalha no palácio para minha filha.

— Anastásia o quê? — Daniel sorriu. — Fico feliz por ela.

— Coincidência impressionante. — o czar deu um sorriso. — Acabou não respondendo a minha pergunta Srta. Tchecova.

— Esse homem morava naquela casa. — apontou para a casa menor. — Nosso pai o visitava algumas vezes. Ele nunca veio em nossa casa, não sei bem o motivo.

— Homens! — o czar gritou. — Acho que nós encontramos o infeliz Tchaikovsky. — virou-se para o casal de jovens. — Muito obrigado. Serão recompensados por prestarem essa grande ajuda para família imperial.

— Boa sorte em sua busca, Majestade. — e fechou a porta.

Ele saiu correndo para a outra casa. Não iria aguentar os polícias chegarem, juntou toda força que tinha e arrombou a porta.

A casa cheirava a cigarro, havia copos em cima de uma mesinha, a lareira ainda tinha brasas. O czar começou a andar pela pequena sala, começou a subir as escadas que dava para um quarto. Havia uma cama de solteiro, uma cômoda, e um pequeno abajur. Sentou-se na cama e abriu uma gaveta da cômoda.

Achou um colar de Sasha, uma fotografia dela com Anastásia ainda bebê. Levantou-se da cama, começou a descer as escadas xingando e praguejando bastante.

— Majestade, os homens chegaram.

— Retornaremos todos ao palácio. Ele fugiu.

Natasha estava abraçada com sua irmã Tatiana. Ambas estavam nervosas, não só elas, mas todos que estavam na sala principal de chá. Sua madrasta já tinha bebido quatro bules de chá, e sua sobrinha Elizabeth a consolava. Phillip estava sentado em uma poltrona com uma expressão pensativa, Dimitri conversava baixo com Alexander e Ivana. Nikolai estava com um livro, mas era fácil identificar que ele não estava lendo, pois não passava as páginas.

Odiava saber que seu pai tinha ido atrás do assassino. Odiava saber que ele estava se colocando em perigo à toa. Já tinha perdido a mãe, não gostaria em hipótese alguma perder o pai. Horas se passaram, não recebiam nenhuma notícia. Aquilo parecia uma tortura com eles.

— Meninas. — Ivana disse de repente. — Lembram quando papai assumiu a frente do exército russo? Lembram-se das canções que sempre cantávamos para matar nossa angústia?

— Como esquecer? — respondeu Tatiana soltando-se de Natasha. — Nunca irei me esquecer daquelas canções. Principalmente as que falavam das guerras.

— Vamos cantá-las. — Natasha sorriu. — Vamos ficar mais tranquilas.

Tatiana começou a cantar, logo em seguida Ivana e Natasha a acompanhou. As vozes das grã-duquesas sempre foram melodiosas e agradáveis. Seus irmãos também cantaram, adoravam quando se reuniam para cantarem. Quando acabaram de cantar, Irina chegou na sala.

— Majestade, Altezas. — Irina entrou na sala com uma feição preocupada. — O czar mandou dizer que está voltando, está bem.

— E Ivan? — perguntou Natasha.

— Fugiu. — respondeu a governanta.

E o clima da sala que estava pesado, ficou ainda mais.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now