Capítulo X

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Depois daquele encontro completamente inesperado e constrangedor com o czar e a czarina, ficou receosa em trabalhar naquele local, principalmente pelo olhar desconfiado daquela que era a mulher mais poderosa da Rússia. Seguia Feodora com prontidão, não achava que poderia andar tanto em sua vida em um lugar como aquele; sabia que palácios eram grandiosos, mas não tinha dimensão do tanto. A bela arquitetura de mármore e ouro formavam uma harmonia impressionante. Por um momento pensou em como alguns tinham muito e outros tão pouco.

Deixou aquele pensamento de lado quando Feodora fez uma reverência para uma mulher, não podia ficar desatenta com nada, imitou o gesto imediatamente. Diante dela estava uma das pessoas mais lindas que já havia visto em sua vida. Os olhos tão azuis, que pareciam um tom somente visto em pinturas, assim como seu cabelo loiro, arrumado em um belo penteado. Ela lembrava Dimitri e sua irmã Tatiana, possivelmente era outra Bulganov.

— Bom dia! — a desconhecida disse. — Creio que a senhorita está me encarando demais. Estou com algo no rosto? — passou a mão pelo rosto.

— Queira me perdoar Alteza. — agitou-se com a possibilidade de tê-la ofendido. — Deixei que minha curiosidade me controlasse.

— Primeira vez no palácio?

— Sim. — deu um sorriso aliviado ao perceber que o humor da grã-duquesa estava bom. — Serei dama de companhia de uma grã-duquesa.

— Alteza, está é Anastásia. — Feodora sorriu. — E ela será sua dama.

— Chama-se Anastásia? — a grã-duquesa a olhou com curiosidade. — Muito interessante.

— As pessoas aqui sempre ficam surpresas com o nome Anastásia? Desculpe-se estar sendo indiscreta Alteza, mas é bastante curioso. Outro dia seu irmão me gritou em uma estação de trem por causa da minha aparência, e isso foi bastante assustador.

— Um minuto. — aproximou-se. — Você é a garota que meu irmão foi atrás na estação de trem?

— Sim.

— Santo Deus! — colocou as mãos novamente no rosto. — Ele estava certo! É muito semelhante aos meus pais. — começou a tocar no rosto de Anastásia. — Você é simplesmente igual!

— Eu preciso... — Feodora começou a olhar para as duas meninas. — Me retirar. Vossa Alteza ficar com ela agora?

— Claro. — Natasha respondeu prontamente.

— Obrigada por me acompanhar, Feodora. — Anastásia sorriu. — Até mais tarde.

— Até mais tarde. — Feodora sorriu e voltou pelo corredor de onde elas haviam vindo.

— Agora venha comigo. — Natasha agarrou a mão de Anastásia e a carregou pelo corredor.

Elas andaram muito até chegar a uma porta branca com a maçaneta de ouro. Na porta tinha um N e B em dourado, o que chamou a atenção de Anastásia.

— Todos os filhos têm as iniciais nas portas, pois são muitos filhos, sabe? — ela riu.

— Bastante exótico.

— Também acho. — Natasha abriu a porta do quarto e fez um gesto para ela entrar. — Bem-vinda ao meu mundo particular.

Anastásia entrou no quarto admirando tudo, principalmente a grande cama e a janela que dava para os jardins do fundo. Tudo era simplesmente luxuoso e organizado. E era como se ela já conhecesse aquele lugar. Não se sentia totalmente estranha naquele ambiente. Resolveu largar os pensamentos de lado, pois os Tchecov nunca colocaram os pés em um palácio, e mesmo que colocassem, nunca teriam a deixado ir.

— Gostou? — perguntou com certa ansiedade.

— Sim. — Anastásia confirmou. — É fabuloso.

— Minha antiga dama de companhia era muito séria. Eu não gosto muito disso. Uma pessoa que vai me acompanhar quase sempre tem que ser amigável e falante. Espero que seja assim. — sentou-se em uma poltrona e indicou para Anastásia fazer o mesmo. — Eu falo muito, e pode ser um dos meus defeitos, mas eu acho bom manter uma conversa sempre.

— Eu não me importo em conversar. Acho muito agradável.

— Você tem uma expressão de dúvida. Posso lhe esclarecer as coisas. É o melhor. — abaixou a cabeça. — Nossa família era muito feliz. Acho que não existia família mais feliz e satisfeita do que a nossa. O que ninguém esperava era que uma pessoa próxima se apaixonasse por nossa mãe e ficasse maluco obsessivo por ela. — deu uma risada nervosa. — Chega a ser ridícula a forma como minha mãe foi morta. Mas Ivan não se deu por satisfeito, e levou nossa irmã. Ela se chamava Anastásia, por isso nós ficamos alvoroçados a cada momento que esse nome é citado. Nós queríamos tanto encontrá-la. Infelizmente tivemos muitas impostoras dizendo ser ela. Elas se pareciam muito, eu diria. Passei esses anos me perguntando aonde ela está, se está bem ou viva. — Natasha enxugou as lágrimas do rosto. — Deus é muito injusto às vezes.

— Talvez não momento de encontrá-la não chegou. Em meu coração, eu ainda acredito que ela esteja viva.

— Como pode ter tanta certeza?

— Eu sinto.

— Minha mãe era linda, amorosa e uma ótima mãe. — seu olhar ficou distante. — Eu lembro dela, não tanto como eu gostaria. É engraçado como podemos esquecer da voz ao longo dos anos. O quão injusto é o acaso, ela ter morrido daquela maneira. — Natasha fungou. — Deus sabe o quão nosso pai sofreu, e todos nós. Achei que ele nunca fosse se recuperar.

— Sua Majestade, sua madrasta, me olhou de maneira bastante intimidadora. — Anastásia falou sem pensar.

— Ela estava acompanhada do meu pai?

— Sim.

— Aconteceu alguma coisa para que ocasionasse em olhar?

— Sua Majestade, o czar, me encarou muito. — Anastásia refletiu. — Fez perguntas.

— Agora eu sei o motivo dela ter olhado feio para você. — Natasha revirou os olhos. — Ela simplesmente não suporta a ideia de pessoas parecidas com mamãe ou nossa irmã. Nossa relação com ela é péssima. Quero dizer, Dimitri é o mais educado quando se trata dela. E agora ela quer empurrar uma noiva inglesa para ele. Sua sobrinha, a princesa Elizabeth.

— Vossa Alteza não gosta da ideia? — Anastásia perguntou curiosa.

— Eu gosto, mas tenho receio de ela ser parecida com Lara.

— Tenho certeza de que Sua Alteza será gentil e amável.

— Você é sempre assim?

— Assim como?

— Otimista.

— Eu gosto de ser otimista com as pessoas, mesmo que a maioria delas não tenha sido comigo.

— Não quer me contar sua vida? — Natasha bateu palminhas. — Acho que eu iria gostar de saber.

Anastásia assentiu e começou a contar sua história, seus sonhos, seus pesadelos, como era a família Tchecov, os raros momentos de alegria, e como foi parar no palácio. Muitas vezes ela percebia as expressões de horror, tristeza e um pequeno riso em Natasha. Ela não sabia explicar, mas a simpatia que sentia por Natasha Bulganova era algo totalmente alegre e confortante. Ela não enxergava apenas a grã-duquesa, filha do czar. Enxergava Natasha Bulganova, uma garota alegre que guardava uma tristeza profunda.

— Acho melhor eu descer para tomar café da manhã. Papai odeia atrasos.

— Então vamos, Alteza.

— Antes de irmos. — Natasha abraçou Anastásia. — Obrigada por me ouvir, e não me criticar. Acho que seremos boas amigas.

— Eu também acho.

As duas saíram do quarto conversando alegremente, como se conhecessem há bastante tempo. Natasha muitas vezes dava gargalhadas com suas piadas, e ela estava se sentindo muito bem, como não se sentia em anos.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now