Capítulo XXIV

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Ainda parecia um sonho para Natasha que Anastásia fosse sua verdadeira irmã. Era ainda tudo muito surreal para ela. Mas era algo bom, algo que sempre desejou durante todos aqueles anos estava perto dela novamente. Sabia que aquilo deveria ser uma novidade ainda maior para Anastásia, principalmente pelo modo de vida que vivia antes.

Estava decidida a ajudar sua irmã na adaptação na corte. Falaria com o pai para contratar diversos professores para ensiná-la idiomas, política, geografia, história, cálculos e etiqueta. Seria fundamental para ela começar logo a aprender as coisas.

Natasha bateu na porta do quarto da irmã, e não obteve resposta. Irritada, bateu ainda mais forte na porta, para que Anastásia abrisse logo a porta. Depois de alguns minutos, ela abriu a porta com uma expressão cansada.

— Oh, era você. — Anastásia deu um pequeno sorriso.

— E quem mais seria? — Natasha entrou no quarto.

Anastásia ficou em silêncio, o que a deixou desconfiada de que algo havia acontecido.

— Vamos, diga-me de uma vez, o que aconteceu?

— Impressão sua, nada me aconteceu. — coçou a cabeça. — Apenas um pouco cansada. Foram muitas informações para eu absorver tão rapidamente.

Natasha cruzou os braços e começou bater o pé no chão.

— Achas mesmo que irei acreditar em suas palavras? É uma péssima mentirosa, diga-se de passagem.

— Apenas deixe as coisas irem, Natasha. Nada surpreendente para mim o que ocorreu mais cedo. — suspirou. — A czarina veio até mim.

— Nem precisa terminar.

Natasha abraçou a irmã fortemente e afagou sua cabeça com carinho. Ela sentiu as lágrimas quentes de Anastásia passando pelo tecido do seu vestido, atingindo sua pele.

— Não chore. Nada de desperdiçar suas lágrimas com Lara. Você é bem melhor do que isso. Ela deve ter lhe humilhado, ignore todas aquelas palavras. Elas não vão acrescentar nada em sua vida.

— Não é tão fácil.

— Nada é fácil. — Natasha se desvencilhou da irmã. — Mas é capaz, de como qualquer outra pessoa do mundo, suportar o peso de algumas situações.

— Não diga nada ao czar sobre isso.

— Por que não o chama de pai?

— Ainda não estou acostumada. — limpou os olhos com a mão. — Questão de tempo para eu ainda me acostumar com tudo isso. Eu só havia cogitado ser a grã-duquesa perdida somente uma vez quando eu estava desesperada.

— O sangue estava chamando por você.

— O estranho é nunca minhas memorias terem voltado. Nem aos poucos, nada. Mesmo eu estando aqui novamente, eu não consigo me recordar de nenhum momento ao lado de vocês.

— Era muito pequena ainda.

— Mesmo assim. Eu tinha sete anos, Nat. Eu deveria me lembrar.

— Bom, é melhor não ficar pensando nisso agora. Precisa pensar em outras coisas.

— Como? — Anastásia arqueou a sobrancelha.

— A vida na realeza não é somente luxo e boa vida, requer muitas funções. E querida Anastásia, ainda não sabe nada do que é nossa vida. Estamos de férias, se assim posso dizer. — colocou a mão na cintura. — Menos papai, ele sempre está no gabinete.

— Onde está querendo chegar?

— Falarei com papai para arranjar professores de todas as áreas. Precisa saber tudo sobre nossa vida, pois agora faz parte da nossa família. Na verdade, sempre fez, mas nunca esteve aqui por infortúnios de Ivan.

— Isso não está me agradando.

— Esteja sempre aberta para conhecer novas coisas, irmã.

— Estarei, mas não hoje e nem amanhã. — Anastásia se jogou na cama. — Não me diga que só veio aqui para me dizer isso.

Natasha se jogou na cama logo depois e se aconchegou ao corpo da irmã.

— Ainda é tudo muito novo para mim.

— Não me diga que está com ciúmes? — Anastásia começou a rir.

— Ora, não seja uma tola. — Natasha começou a fazer cócegas na irmã.

Natasha e Anastásia começaram a fazer uma guerra de cócegas, e não conseguiam parar de rir. Sentia-se extremamente bem em ter Anastásia como sua irmã. Amava Tatiana e Ivana, mas existia algo na sua irmã mais nova que era diferente dos outros irmãos.

Quando pararam as cócegas, deitaram-se uma do lado da outra novamente para recuperarem o fôlego da brincadeira. Natasha passou a mão pelo ombro de Anastásia e beijou sua bochecha.

— Amo você.

Anastásia deu um sorriso e beijou a testa dela.

— Também amo você, obrigada por isso.

Vladimir estava sentado na varanda do seu atual quarto, esperando Lara chegar para ele começar a comer, pois sentia uma enorme fome naquela manhã. Sua esposa havia pedido para conversar durante o desjejum a sós, e ele aceitou prontamente.

O clima entre ambos estava ficando a cada dia mais insuportável de se conviver. Nunca concordavam um com outro, sempre existia uma discussão entre eles, e nunca chegavam a nenhum acordo sem um magoar o outro. Sentia-se desgastado com toda aquela situação, mas não via nenhuma maneira de melhorá-la.

Quando Lara entrou na varanda, o czar levantou-se e puxou a cadeira para ela se sentar. Ela estava com uma expressão serena, mas não esboçava nenhum sorriso. Não sabia se tudo acabaria em paz ou guerra, e ele esperava que a primeira opção prevalecesse.

— Bom dia Lara. Quer que eu lhe sirva chá ou suco?

— Bom dia Vladimir. Onde estão os empregados? Prefiro chá.

— Os dispensei, não queria ninguém nos ouvindo.

— Também está ciente das fofocas dos empregados?

— Quais fofocas? — Vladimir colocou suco em sua taça. — Não estou sabendo de nada.

Lara riu enquanto bebericava o chá quente.

— Soube hoje que a maioria das fofocas dos empregados é sobre nós. As crianças pouco importam para a língua deles, isso chega a ser meio óbvio.

— Não posso impedir que os empregados comentem sobre nós, sabe muito bem disso. Teremos que fingir que não sabemos de nada. Ignorar é a melhor solução. Pode ser algo que lhe deixe chateada, eu entendo.

— Eu sei que nada poderíamos fazer para calá-los, mas poderia chamá-los atenção.

— Verei o que posso fazer. — comeu um pedaço de torrada.

Enquanto ele comia, observou que Lara está inquieta.

— Algum problema?

Ela permaneceu calada.

— Não podemos continuar uma conversa em que somente um fala. — Vladimir limpou a boca com o guardanapo. — O que deseja?

— Que fiquemos bem. Não suporto mais o que nós nos tonarmos. Nosso casamento se deteriora a cada dia. Isso me deixa triste, pode ser que duvide das minhas palavras, mas é a pura verdade que sinto dentro de mim. Odeio vê-lo sem poder ao menos tocá-lo. Odeio não saber como foi seu dia, ou se dormiu bem. — limpou uma lágrima que escorria por seu rosto. — Odeio acordar e não sentir seu corpo ao lado do meu, ou não sentir seu perfume no travesseiro. Eu o amo, Vladimir.

Vladimir se sentiu desconfortável diante das palavras de Lara. Ele não podia dizer para ela que a amava, pois estaria mentindo. Infelizmente não conseguia nutrir nenhum amor, somente respeito e carinho. Ele sentia que ela devia saber que ele não a amava da mesma forma, mas estava diante dele declarando seus sentimentos.

Ele estendeu a mão sobre a mesa e pegou a dela. Afagou carinhosamente, depositando um beijo.

— Vamos tentar novamente?

— É tudo o que eu mais desejo.

A grã-duquesa perdidaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora